Se existe algo que eu lembro perfeitamente, nos
mínimos detalhes e, que me faz ter uma sensação inexplicável dentro do peito,
foi o dia em que o conheci. Cada traço do seu rosto, a cor dos seus olhos, seu perfume,
seu abraço... Cada um dos seus detalhes foi armazenado no disco rígido do meu
coração, na parte mais importante da memória. Eu já não tenho tantas palavras
para falar de amor, haja vista que é algo tão sublime e tão difícil de explicar
que, por vezes, parece bem mais fácil sentir, apenas isso. Nós é que temos mania de querer explicar tudo, mania de
querer definir as coisas, de medir ou testar valores e sentimentos, mas o que
importa mesmo é o que nos faz bem e feliz.
A
nossa história vai ser aquela que eu vou ter o prazer de contar para os meus
filhos, para os filhos de meus filhos e a quem oportunidade de contar eu tiver,
porque para mim, é a história de amor mais bem escrita, vivida e bonita que
alguém já fez. Um amor. Uma verdade. Um sentimento, tudo isso vivido a dois e
por dois corações distraídos que foram pegos de surpresa, mas que até hoje não
se arrependem desse acaso, ou melhor, dessa armação do destino.
Que
a vida é uma caixinha de surpresas todo mundo já sabe, que tudo acontece em um
tempo certo e na hora certa, também. Entretanto, a maior verdade é que, na
maioria das vezes, não estamos preparados para receber tais “premiações”.
Quando eu menos esperei, quando eu achei que não estaria pronta e quando eu
tinha certeza de que amor era algo que não existia, ele apareceu; apareceu como
um anjo, que me segurou entre as asas e me conduziu aos melhores momentos que
já tive na vida.
Pode
parecer cedo para falar em “melhor”, mas fazer o quê, se até hoje é? Dizem por
aí que só amamos uma vez na vida, e eu concordo inteiramente. Digo isso porque
sei que paixões acontecem a todo o instante, entretanto, amor é uma vez, e só.
É fácil apaixonar-se por alguém, para isso basta uma questão de afinidades, de
comportamentos, de ensaios, de promessas e frases feitas. É essa a receita de
uma paixão. Paixão também se pode ter por um livro, por uma jóia cara, por uma
música, por uma profissão, por tudo que é capaz de agradar, e quando desagrada
deixa de ser paixão, pode virar ódio e depois termina em ilusão.
Até
que chega o amor, desagradando tudo, sendo o oposto de tudo o que lhe convém;
sendo o livro que você detesta ler, a música que você detesta ouvir, e as
frases mais inesperadas que te fazem perder o chão, e muitas vezes, te deixa
sem respostas. O amor vem tirando o ar, mostrando rebeldia, desobediência,
magoando e consertando, sendo errado e sendo certo. Eis a contradição que
amamos. É isso que amarra os nossos corações, e é isso que caracteriza o amor.
Amar o contrário, amar o errado, amar o imperfeito, amar a dor, amar a sensação
de não ter domínio pleno, amar o ser livre.
Por
essas e outras é que valorizamos tanto o amor. Só o amor nos faz diferentes a
cada dia, esquecermos qualquer rotina, sermos vários em um, sermos um em
vários. Demoramos a entender, mas um dia compreendemos que, só um ser vivente
foi capaz de te fazer perder o sono; ter os maiores ataques de ciúmes; foi
capaz de te causar as maiores decepções (não que elas tenham sido graves, mas é
da natureza humana dramatizar tudo, e se tratando de amor então, todas as
figuras ganham força e o deslize por menor que seja, acaba se tornando
responsável por um abalo colossal.); só uma pessoa no mundo foi capaz de te
distrair; te fez parecer louco quando, ao rir sozinho no meio da rua, percebeu
que alguém te olhava com cara de espanto; só um ser na tua vida foi capaz de te
fazer esquecer o mundo enquanto estava com ele; te fez ignorar tudo o que os
outros diziam; te fez crer em cada palavra que dizia como se tudo fosse artigo
de uma lei universal e te fez perdoar grandes mentiras.
E
então eu pergunto: Como depois de tantas artimanhas gostar de uma criatura
dessas? O grande desafio do amor é te enlouquecer com essa pergunta, aprender a
conviver com ela é que faz com que sejamos felizes e entender que jamais
encontraremos a resposta é o que amenizará a inquietação de nosso espírito.
Como
respondê-la? Surge então a desculpa da compensação, na qual todos esses
“defeitos” são justificados pelo bem que a pessoa lhe proporciona, mas é fácil
desmentir essa teoria com o simples fato de que, se os mesmos atos fossem
feitos por outra pessoa não causaria o mesmo efeito e então não nos satisfaria.
Não
adianta! Não há palavra no mundo que descreva o que sentimos nos poros quando
somos tocados por quem amamos; o que sentimos no peito quando o coração pulsa
acelerado ao ver aquela pessoa; o que sentimos nas veias quando recebemos um
abraço, um beijo, um afago; nada explica o que é aquela presença que satisfaz,
acalenta, regenera e constrói diariamente bases tão fortes dentro de você;
coisa alguma explica a alegria que domina o corpo inteiro; a sensação de estar
completo; a visão de perfeição que se forma daquele ser tão imperfeito quanto
qualquer mortal; nada explica, nada supre, nada substitui, nada é comparável.
É
por essas e outras que eu o amo. Perto ou longe. Junto ou separado. Para
sempre, eu sei, eu tenho certeza, eu sinto. Meu amor é o dele, o dele é o meu e
o nosso amor, esse é nosso e de mais ninguém. Fomos nós, que o construímos
quando tivemos chance; fomos nós que o regamos diariamente para que ele não
murchasse; nós que aparamos as arestas para que ele ficasse mais forte com o
tempo; nós que o curamos quando ele se feriu; nós que zelamos por ele dia e
noite, noite e dia, para que ele seja, hoje e sempre, perfeito.