26 de maio de 2012

Retrato


Eu não sou perfeita. Não tenho olhos grandes, mas consigo enxergar as formigas no chão. Não uso batom, mas adoro salto alto tão quanto gosto de sapatilhas. Uso calça comprida e vestido. Acredito em amizade entre homem e mulher sem segundas intenções. Acredito no amor incondicional mesmo que eu já tenha sofrido algumas vezes por acreditar nesse amor, mas é instintivo conseguir me recuperar a cada segundo. Fujo de regras de consternação.
Eu gosto de perfumes doces, não gosto de acessórios pequenos, gosto de extravagâncias com moderação. Sou contraditória quando quero, porque sei muito bem ser objetiva e clara quando me convém. Eu gosto das cores porque não aprendi a ver a vida em preto e branco. Já fui patricinha e ignorante, mas isso não me isenta da possibilidade de ainda ignorar algumas coisas e pessoas, só que dessa vez fazê-lo de propósito .
Choro muito, mas sei sorrir depois de engolir a seco alguns cacos de vidro. Sei caminhar sem pernas. Sei respirar mesmo que me falte o ar. E sim, sei voar sem asas, mas quando se trata de amar... Ah, só sei amar se for de verdade. Algumas vezes, aceito provocações calada, não por falta de respostas, mas por medo de perder meu precioso tempo com coisas que não valem a pena.
Eu cresci no meu tempo, a meu modo, do meu jeito, fazendo o que eu achava certo, dizendo o que eu quis e quando quis, acreditando em minhas convicções, sabendo onde era o meu lugar. Eu criei meus verbos e desenvolvi minhas filosofias. Discuti quando foi preciso. Respirei fundo quando a coragem faltou. Desisti quando percebi que não valia mais a pena seguir.
Eu gosto de ler bons livros. Eu gosto de ouvir boa música. Eu gosto de bons filmes, mesmo que de vez em quando eu precise assistir alguma bobagem. Não tenho preconceitos, mas gosto de conteúdo. Acho inteligência mais importante que beleza. Digo que burrice é uma questão de gosto. Gosto de pessoas porque não as vejo como adjuntos. Nasci livre e quero morrer assim. Acredito que liberdade é uma questão de ideologia, tenho várias.
Já tentei definir o amor, mas só consegui definir as paixões, o amor transcende qualquer adjetivo ordinário. Não bebo. Não fumo, mas não deixo de falar com alguém porque decidiu pelo contrário. Tem dias em que nenhuma companhia no mundo me satisfaz além da minha. Eu gosto de refletir. Eu gosto de fazer refletir. Eu gosto de questionamentos. Acredito em mudança interior. Às vezes é bom pensar no escuro.
Curti e curto todas as fases da minha vida. Conheci o amor. Tenho um amor. Descobri que amor verdadeiro é um conceito ímpar e relacionamento é par. Eu gosto de conhecer pessoas, mas odeio desconhecê-las. Tenho admiração profunda por quem consegue me odiar sem sequer ter visto a cor verdadeira dos meus olhos, ignoro-os por dó e peço paz, amor e vida para que cada um possa saber um pouco da graça que é ter isso.
Descobri que a vida é como uma peça de teatro de apresentação única, quem pisca perde sempre algo importante. O tempo será sempre tempo, nunca voltará nem se estagnará, estará sempre em uma constante caminhada para o futuro na qual se tem duas opções: morrer no passado ou seguir vivendo...

Fonte Imagem: http://universoparaleloemversos.blogspot.com.br/2011/03/quando-te-vi.html


13 de maio de 2012

Mãe = Amor


“Atenção, o mundo está em estado de alerta, a população anda desistindo de seus sonhos sem lutar, porque não suporta as dores e angústias da vida. Precisa-se de perseverança e algo que possa manter viva a esperança no coração dos seres humanos. Falta sensibilidade, para que possamos enxergar no outro o irmão e possamos ajudá-lo com carinho. O mundo está um caos.”
Para sempre ver o mundo com olhos de misericórdia, Deus criou as mães, para que elas pudessem representar, o amor  dEle perante seus filhos. Deu a elas serenidade para tranquilizarem as horas de aflição; sabedoria, para solucionarem os problemas mais difíceis; delicadeza, para que contrapor as grosserias; perseverança, para que os que as cercarem não desistam de lutar pelos seus sonhos.
Mães, seres perfeitos, anjos enviados à Terra para solucionar o caos. Deus deu a elas força, são fortalezas para que nada pudesse abalá-las por mais grave que fosse. Mães, aquelas que nos abraçam quando o mundo nos rejeita; que nos afagam quando a vida machuca; que nos ajudam a retratar os erros que cometemos e que nos amam sob quaisquer circunstâncias, mesmo quando as desprezamos.
Mulheres capazes de nos dar a vida e darem as suas vidas por nós. Nós, seres imperfeitos, incompletos, que acreditamos saber tudo da vida, do mundo e costumamos ignorar os conselhos e cuidados das mães, só para que depois de um tempo, quando tudo não sai conforme planejamos, tenhamos a certeza de que elas têm sempre a razão e  querem sempre o melhor por nós, não porque merecemos, mas porque depois que nascemos, nossas vidas passam a ser as delas.
Parabéns a todas aquelas que sabem fazer do amor algo sublime, superior e imensurável; às rainhas que todos os dias nos ensinam grandes lições de amor e vida. 


6 de maio de 2012

Esses dois...


Eles se conheceram na adolescência, nos tempos de ensino médio. Ele sempre fizera duas séries posteriores à dela. Conheceram-se por intermédio de uma amiga em comum, Jéssica, essa foi a responsável pela união dos dois. Ela o viu primeiro, se encantou pelo menino três anos mais velho. Foram apresentados e ela se apaixonou, de verdade, quando ele disse que tocava piano. Sim, o sonho dela sempre fora ter um piano na sala, por mais que nunca tivesse aprendido a tocar uma nota e, mesmo que ele não a ensinasse, pelo menos teria alguém para admirar aos domingos pela manhã quando as cortinas da sala estivessem abertas e o lustre estivesse desligado.
Meio tímida, ela o convidou para a sua festa de 15 anos, queria que ele a visse nesse dia especial, talvez o primeiro de muitos que ela passaria ao lado dele. Na noite da festa, ele apareceu, ela sorriu, o recebeu e fez questão de ler, antes de guardar o presente, o bilhete que ele escrevera: “Parabéns de um cara que gosta muito de você. Felicidades.”, palavras simples que para ela eram a declaração de amor mais linda de todas. Ele dançou a valsa com ela, sorriam, brincaram e desde aquele dia não se separaram.
Começaram a namorar quinze dias depois do aniversário, não surpreendendo ninguém, pois todos já esperavam por aquilo. Um ano, dois, o fim. Separaram-se jovens demais. Precisavam amadurecer. Ela se apaixonou, ou melhor, tentou buscar alguém que pudesse dar à ela a alegria que ele lhe proporcionava e a plenitude de um sentimento. Ele fez o mesmo, buscava o mesmo sorriso, o mesmo beijo, o mesmo prazer, mas não os teve em uma única pessoa, precisou de várias. Não se satisfizeram.
Voltaram após um ano separados, entretanto, os destino os separou de novo; ele fora trabalhar em outro estado, do qual teve que fazer sua nova moradia. Ela não aguentou esperar, procurou alguém. Machucado e decepcionado, ele fez o mesmo. Se odiaram por alguns meses, ele voltou; ela não resistiu ao seu cheiro, ele não resistiu ao seu beijo. Voltaram.
Depois de alguns meses, brigaram pelo motivo de sempre: ciúmes. Ela, capricorniana, possessiva, tentava se controlar, mas quando não aguentava, jogava na cara dele os atos dos últimos milênios. Ele, virginiano, não aguentava o acúmulo de ciúmes para explodir, mas tinha uma memória ímpar e quando ela vinha com o seu depósito de historinhas, ele trazia as suas e mais um milhão de argumentos plausíveis.
Dois cabeçudos. Ele sempre queria ter razão. Ela também. Terminaram por incompatibilidade de pensamentos. Ela disse que nunca mais queria vê-lo, fê-lo chorar ao telefone, trocou de número, o chamou de maluco, disse que amava outro mesmo que não fosse verdade. Ele se irritava, chorava, gritava, mas sempre terminava as conversas dizendo o quanto a amava.
Passaram mais um tempinho separados, ela escreveu algumas histórias, ele também. Ela entrou na faculdade, ele abriu um negócio; ela estagiava ganhando pouco, ele trabalhava até aos domingos para ter condições de dar um futuro digno à ela e para cumprir a promessa do lustre e do piano no meio da sala, mamãe só casava assim, o amava muito, mas queria o bendito lustre sobre o piano. Papai nunca negou nada, sempre fez todas as vontades dela e deu.
Os dois agora estão ali, em plena manhã de domingo, brigando mais uma vez, não mais por ciúmes; quanto a isso eles já conseguiram se entender, mas porque o papai não abriu as cortinas da sala, tá com as luzes do lustre ligadas e colocou um copo de água gelada em cima do piano. Enquanto ela abre as cortinas, ele fica imitando-a gesticulando com a boca pra me fazer sorrir.
Olha agora, ele levantou, deu um beijo e um abraço nela e pronto, lá está ela com aquele olhar apaixonado mais uma vez, já, já ela senta ao lado dele pra que ele a ensine a tocar alguma coisa, é sempre assim. Eles adoram brigar de vez em quando, mas é sempre de mentirinha. Eles já confessaram: um não consegue viver sem o outro, são felizes assim, então, que sigam...

                                                                        Fonte Imagem: http://eternessencias.blogspot.com

5 de maio de 2012

Olhos da modernidade


É moderno olhar para o céu e não conseguir enxergar as nuvens cobertas de fumaça ou escondidas pelos arranha-céus. Será que só arranha? Ao baixar a vista não se vê o outro, se vê o concorrente. Ao olhar para a esquerda nota-se o ladrão, à direita o senado. Em um jogo de sentidos, meninos cheiram para deixar de sentir e sentem o que não deveriam, dependem de tudo, dependem de todos.
A inteligência, muitas vezes, reduzida a pão, seres humanos reduzidos a grão. Conteúdo no lixo ou em liquidação. Muita informação para poucos, muitos para a prisão. A base de tudo é a educação. Inclusão tardia de um processo falho que nunca tem evolução. Dinheiro de todos para poucos, pouco dinheiro para todos. Há quem viva bem assim, mas há quem morra bem assim.
Prédios de luxo à beira de canais são modernos, é moderno. Hospital de luxo à beira de um canal é moderno, é moderno. Casebres à beira de um canal são a falta de estrutura, é atraso. A minoria convence a maioria. Caos, mas moderno. Multinacionais, fábricas e shoppings. Fome, lixo e miseráveis. Moderno ao que dá e quando dá.
Enquanto uns dormem, outros se prostituem. Enquanto alguns comem, outros se viciam para não sentir dor. Mercados com vista para a Baía, ao lado de espaços públicos suntuosos. Públicos mesmo? Crianças trabalhando e adultos roubando no poder. Que exemplo! João trabalha, Maria trabalha e o “pivete” leva o dinheiro da luz, da água, da escola das crianças, da janta...
O sorriso não é só simpático, o estranho não é inofensivo, o vizinho não senta à porta. O tempo agora é curto, tem TV, tem novela, jornal e futebol, tá bom assim. Tem internet, tem exposição, tem pornografia, tem roubo, tem propaganda, tem entretenimento, tem mundo. É moderno!


Fonte Imagem: http://www.downloadswallpapers.com/papel-de-parede/3d-olhos-de-guerreira-4390.htm
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