17 de dezembro de 2011

O meu primeiro amor eterno...




     Pouco mais de um ano e tantas histórias vividas, tantas lágrimas derramadas e tantos risos. Muitas tristezas e alegrias. Muitas lições de vida. Muitos amigos. Muitos leitores. Aqui, eu registrei algumas histórias reais, tentei descrever o meu sentimento mais bonito e traduzi a dor. Confesso que escrever nunca foi fácil, afinal, eu sempre estive ali, em cada personagem, em cada fala, em cada linha, em cada verso, em cada palavra. Tudo não passou de mim, simplesmente.
        A imaginação falou baixinho, mas criei histórias com as quais até eu me emocionei. Escrevi linhas diretas e indiretas, usei metáforas, troquei nomes, preservei identidades e contei. Chorei e fiz chorar. Falei o que não deveria falar. Fiquei feliz e mostrei ao mundo. Sem querer, eu tratei de temas universais. Ou melhor, de um tema universal: O Amor. Falei do meu e acabei atingindo pessoas que sentiam ou sentiram como eu.
      Pessoas. É impossível não agradecer hoje e sempre às pessoas que me motivaram a escrever esses textos e àquelas que foram as responsáveis pelo nascimento de meus versos. Foram inspirações, negativas ou positivas, mas inspirações. Vida. Como não agradecer àquela que é responsável por me fazer ter mil experiências por dia e me fazer melhor a cada instante? Foi e sempre será a vida a eterna responsável pelas linhas que produzo.
       O Entreletras começou sem pretensões, tomou proporções que eu nunca imaginei alcançar. Graças a ele, eu conquistei leitores, amigos, a confiança e credibilidade de pessoas maravilhosas que eu quero levar no coração e na vida por muito tempo. Nele, eu postei o que e quando queria, o que gostava, pra quem quisesse ler, pra quem quisesse ver. Coloquei minha alma, coloquei meu coração, me pus inteira e de tão completo o blog se fez transparente.
        Por não conseguir separar o autor do eu - lírico, eu me sufoquei. Eu sempre quis falar do meu e não de mim, mas hoje, isso vem sendo indissociável. Talvez por todas as experiências vividas nesse ano, eu ainda seja frágil e vulnerável o suficiente pra não mais conseguir escrever em terceira pessoa. Egoísmo? Não. Egocentrismo? Não. Algo que transpõe tudo isso, isso sim.
        Mudei. Mudamos. Eu e o Entreletras. E é por isso que hoje estamos aqui, anunciando o fim desse ciclo da vida. A história que motivou o início, por ironia do destino, é a mesma que determina o fim. Não por imposição, mas por vontade própria de reescrevê-la sobre uma nova folha de papel de seda, e não sobre esses borrões tristes que se tornaram meus versos platônicos e felizes.
      Em um ano, eu tratei de recordações, tratei de presente, de felicidade, de fins e de memórias angustiantes. Escrevi sonhos, escrevi planos, desenhei caminhos, visualizei o pote de ouro, mas não o peguei porque ainda não cheguei ao final do arco-íris. Acredito. Acreditamos no regresso de linhas vivas e fortes, tão fortes quanto as batidas do meu coração, alegre e pulsante.
     Entretanto, tais versos não mais serão descritos nesse espaço. O Entreletras se despede, aqui, hoje, de seus leitores, de seus amigos blogueiros, dos maiores incentivadores e dos amigos conquistados ao longo de seu um aninho (e uns trocados) de vida. Agradece por cada comentário, cada divulgação, cada elogio e cada leitura. E avisa que não morrerá, pois, manterá em cada um que leu seus escritos a verdade do que é sentir, a verdade do que é amar...
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"Só não entendo como tiveste coragem de um dia deixar de  sorrir e encantar o mundo inteiro com teu riso (...) Vim pra te dar paz, pra te dar amor e saúde, e estourar champagne contigo, mocinha... Sou eu, o teu Dezembro."


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A vida me ensinou
A dizer adeus às pessoas que amo,

Sem tira-las do meu coração;

Sorrir às pessoas que não gostam de mim,
Para mostra-las que sou diferente do que elas pensam;
Fazer de conta que tudo está bem quando isso não é verdade,
Para que eu possa acreditar que tudo vai mudar;
Calar-me para ouvir;
Aprender com meus erros .
Afinal eu posso ser sempre melhor.
A lutar contra as injustiças;
Sorrir quando o que mais desejo é gritar todas as minhas dores para o mundo,
A ser forte quando os que amo estão com problemas;
Ser carinhosa com todos que precisam do meu carinho;
Ouvir a todos que só precisam desabafar;
Amar aos que me machucam ou querem fazer de mim depósito de suas frustrações e desafetos;
Perdoar incondicionalmente,
Pois já precisei desse perdão;
Amar incondicionalmente,
Pois também preciso desse amor;
A alegrar a quem precisa;
A pedir perdão;
A sonhar acordada;
A acordar para a realidade (sempre que fosse necessário);
A aproveitar cada instante de felicidade;
A chorar de saudade sem vergonha de demonstrar;
Me ensinou a ter olhos para “ver e ouvir estrelas”, embora nem sempre consiga entendê-las;
A ver o encanto do pôr-do-sol;
A sentir a dor do adeus e do que se acaba, sempre lutando para preservar tudo o que é importante para a felicidade do meu ser;
A abrir minhas janelas para o amor;
A não temer o futuro;
Me ensinou e está me ensinando a aproveitar o presente, como um presente que da vida recebi, e usá-lo como um diamante que eu mesma tenha que lapidar, lhe dando forma da maneira que eu escolher.



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1 de dezembro de 2011

Doce Dezembro

            Ufa! A viagem foi exaustiva e demorada, mas cheguei. Me chamaste tanto que cheguei bem mais rápido do que nos outros anos. Sei que estás feliz em me ver, eu vejo o brilho dos teus olhos e esse palpitar acelerado do teu coração. Eu também fico feliz por ver o teu sorriso, tão lindo, sempre te disseram isso. Só não entendo como tiveste coragem de um dia deixar de  sorrir e encantar o mundo inteiro com teu riso.
        Vem, senta aqui, eu cheguei pra te fazer feliz e estar aqui pra você todos esses dias a partir de hoje, o chato é que eu vou ter que partir hora ou outra, mas eu acabei de chegar, ainda temos tempo e eu ainda tenho tanta coisa pra te contar. E você? Me disseram que você andava triste e eu juro que não acreditei. Deixaste em algum momento de ser aquela menina doce que eu deixei quietinha e feliz, aqui? Feriste alguém? Sabia! Não terias coragem, és carinhosa demais pra isso.
           Eu prometo que vai ser bom, tão bom quanto todos os outros, esse vai ser melhor que o passado, mas te garanto que não vai chegar aos pés do próximo. Ei, eu tô aqui, e a gente vai ter um milhão de estrelas pra contar, uma milhão de histórias pra lembrar...Tudo bem, então deitamos na beira da praia e só contamos as estrelas, tá bom?
          Vim pra te ver crescer mais um pouquinho. Não sabes o quanto é bom voltar aqui e ver a mulher que estás te tornando. É, tornando. Ainda não estás madura o suficiente, sabes disso, mas sabes, também, que estás no caminho certo. Vim pra te lembrar que alguém te amou mais que tudo e morreu por ti, não esquece ele nunca, ainda mais nessa época, né? Lembra sempre do perdão e do amor que ele tanto falou.
         Vim aqui pra te dedicar meus dias até o vigésimo sétimo, e então deixar que os outros te mimem, te beijem e te abracem por alguns minutinhos ou horas, vim pra te fazer receber aqueles telefonemas que te fazem chorar, pra te ver fazer cara de boba com as surpresas, pra te ver voltar a ser menina por alguns instantes. Minha menina!
         Eu vim pra te fazer refletir sobre teus erros, mas te dar de presente um ano novo cheio de novos dias pra não cometeres de novo os mesmos enganos. Vim pra te dar paz, pra te dar amor e saúde, e estourar champagne contigo, mocinha... Sou eu, o teu Dezembro.



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26 de novembro de 2011

Linhas da Vida


Escrevo e rasgo porque já não há muita coisa a coisa a ser dita
Meu mundo deu voltas e
Não encontrei o que eu queria
Porque o que eu queria, na verdade, já não era meu
E quando foi não aproveitei por toda a vida.


Um amor que eu plantei,
Reguei e jamais esvaeceu
Hoje, sinto que, aos poucos, não é mais meu,
Como um dia que de repente escureceu
Eu me vi perdido, mas completamente seu.


Decidi ir até a curva buscar um paraíso qualquer,
Tomar um banho de chuva com você, meu bem me quer,
Ver um pôr-do-sol, dormir abraçadinho,
Mas a distância não te deixa receber meu carinho.


E o tempo sempre traiçoeiro
Deu um jeito de te levar ligeiro
Para braços que não eram meus
E mesmo sem querer que o tempo seja passageiro, meu bem,
Talvez o ontem seja tarde e o amanhã cedo demais.


Mas não se prenda ao passado triste
A esperança em nós ainda existe
E o tempo que te levou daqui
Pode, um dia, ser o mesmo que trará de volta pra mim.

                                                                Raíssa Bahia


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21 de novembro de 2011

Fogo! - Final

     Ao chegarem no apartamento ao qual estavam hospedados, os pais de Benjamin conversaram sobre as possibilidades de adotar Thomas. Benjamin despertou neles um sentimento diferente a tudo que era relacionado ao menino do elevador, e um irmão para o filho com a mesma idade seria maravilhoso.
        Precisavam amadurecer a idéia de adoção, pensar nos procedimentos pra realização da mesma, decidiram dormir e conversar com os meninos no dia seguinte sobre o assunto. Algumas horas depois, todos foram acordados por gritos e correria, o alerta de incêndio do hotel disparava incessantemente, hóspedes corriam desesperadamente de um lado para o outro buscando a saída, gritando:

-Fogo! Fogo!

       O gerente do Hotel os pedia calma, entretanto nem ele conseguia esconder a aflição e nervosismo. Ninguém sabia de onde o fogo estava surgindo, a fumaça negra se alastrava por todo o lugar. Alguns minutos depois e todos estavam a salvo fora do hotel, enquanto os bombeiros tentavam contornar a situação.

- Problemas com a parte elétrica – Foi a única informação que os bombeiros deram ao gerente do hotel. Todos queriam saber onde surgira o incêndio, até que alguém disse:

- No elevador, começou no elevador!

        Depois de alguns instantes, o capitão do corpo de bombeiros sai do hotel com a única vítima do incêndio nos braços. Uma criança que sofreu queimaduras graves e estava ali, morta, em seus braços. O menino chamava-se Thomas, ela dormia no elevador desativado enquanto as chamas do incêndio lhe consumiam.


Fonte Imagem: noticias.terra.com.br


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20 de novembro de 2011

Fogo! - Parte II

             
      Na hora do jantar, no restaurante do hotel, Benjamin jantava com seus pais e falou de seu mais novo amigo Thomas:

- Pai, conheci um menino com a minha idade hoje, no elevador do hotel, ele é muito legal, brincamos muito...

- Que bom, meu filho, agora você vai ter uma companhia nessas férias, alguém com quem brincar e conversar além de mim e de sua mãe. – Disse Roberto.
- Quem é ele, meu filho? Como ele é? Quem são os pais dele? – Perguntou Adélia, mãe de Benjamin.

- O nome dele é Thomas, ele não tem família, ele usa roupas escuras e sujas sempre, o perfume dele é fedorento, igual ao seu, mamãe, deve ser francês também. – Disse Benjamin, com um sorriso no rosto, expressando a alegria de ter um companheiro para as suas aventuras, entretanto, o sorriso foi substituído em seguida por uma expressão triste que completou...- Mas ele teve que ir embora logo, tinha que trabalhar para comprar o almoço. Pai, pensei que só os adultos trabalhassem. Acho que trabalhar pode ser legal, se Thomas faz deve ser divertido, eu quero trabalhar também, papai, deixa, por favor, deixa?
Ao ouvir o filho, os pais se olharam e sabiam bem que Thomas não pertencia ao “mundo” deles, o pai respondeu:

- Conversamos sobre isso depois, meu filho. Mas que tal convidar esse seu amiguinho para jantar conosco da próxima vez que você encontrá-lo?

- Tudo bem, papai! – respondeu Benjamin com um novo sorriso.

           No dia seguinte, Thomas foi ao jantar com a família de Benjamin, muito envergonhado por estar sujo e fedorento demorou a entrar no restaurante. Durante a refeição, respondia timidamente às perguntas que os pais de Benjamin faziam, entretanto uma das respostas que mais lhes chamou a atenção foi acerca do seu maior sonho:

- Queria ter dinheiro para comprar meu próprio elevador! - Disse Thomas.

Com a voz embargada, o pai de Benjamin respondeu:

- Você terá meu filho. Um dia você terá...

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19 de novembro de 2011

Fogo! - Parte I

           Tinha oito anos, era órfão dos pais, vestia roupas velhas e sujas e sempre estava com fome. Este era Thomas, o menino que reparava carros em frente ao Talatona Hotel, um dos hotéis mais caros e luxuosos de Luanda. O recepcionista do hotel, Henrique, ficava aflito ao ver a situação de Thomas e todas as noites o colocava para dormir dentro do hotel para que a criança pudesse ao menos passar a noite  protegido do frio, instalava-o dentro de um elevador que era desativado durante a noite e reativado as seis da manhã,porém o menino sempre acordava antes e se retirava sem ser notado pelos hóspedes.
            Apesar de ser um “empréstimo”, Thomas via dentro daquele quadrado, o seu lar, não tinha cama, nem banheiro, mas em compensação tinha um espelho belíssimo e um tapete Persa fofo, quente e aconchegante. Lá, Thomas tinha seus melhores sonhos, sonhava que um dia dormiria em um quarto luxuoso, se vestiria como os hóspedes e não precisaria se esconder nas manhãs dentro da imensidão daquele hotel, teria um carro luxuoso e formaria uma família, talvez a aquela que ele nunca tivera.
            Porém, um dia Thomas perdeu a hora de acordar, havia trabalhado muito no dia anterior e o cansaço o fez dormir demais. Já passavam das seis quando Thomas abriu os olhos e tomou um susto que o deixou sem palavras. Um menino, com roupas limpas, cabelo alinhado, de banho tomado e cheirando a lavanda, estava sentado e admirava-o enquanto ele dormia, aparentemente tinha a sua faixa etária.
          Envergonhado, Thomas levantou, pediu desculpas e saiu do elevador, mas foi seguido pelo menino, depois de algum tempo caminhando ele percebeu que o menino o seguia curioso, então ele sentou e os dois puseram-se a conversar, pouco tempo depois eles brincavam juntos, há tempos Thomas não se sentia assim, e nunca havia se divertido tanto, mas a hora do almoço estava por vir e Thomas precisava trabalhar para comprar seu almoço.
         O menino que brincara com Thomas chamava-se Benjamin, filho de Roberto, um empresário influente no ramo automobilístico, e estava com os pais para passar suas férias. Ao voltar para o quarto, Benjamim ficou confuso com o comentário de seu mais novo amigo: “Preciso ir, tenho que trabalhar para almoçar.”, para ele, trabalho era coisa de pessoas adultas, como o seu pai.



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14 de novembro de 2011

O amor dele...

Era Novembro, eu lembro bem daquele dia, completávamos oito anos de namoro, tudo estava absolutamente perfeito, estávamos voltando para casa numa viagem em um cruzeiro e eu tinha certeza que ali eu seria pedida em casamento. Foi uma semana de jantar à luz de velas, carinhos e declarações de amor, naqueles dias parecia que não existia trabalho, problemas, telefonemas, nada, só eu e ele naquele infinito azul.
Nossa história é engraçada, morávamos na mesma rua há anos, mas nunca fomos um com a cara do outro, nossas famílias eram amigas, mas eu e ele não trocávamos uma palavra sequer. Nos meus aniversários ele sempre estava lá. Na hora da foto, minha mãe sempre dava um jeito de que ele ficasse ao meu lado, conclusão: Eu nunca saia sorrindo e ele nunca saia olhando para a câmera. Nos aniversários dele, a mesma coisa, às vezes eu acredito que as duas tinham um plano.
Estudávamos na mesma escola desde a infância, ele era muito inteligente, sempre foi. Eu, por minha vez, não gostava muito de estudar, achava perda de tempo, afinal, eu seria a herdeira dos negócios de meu pai. Ele era muito tímido, já eu, queria sempre ser o centro das atenções, chamam de egocentrismo, mas eu não entendo dessa forma. Engraçado mesmo era que nós éramos os mais populares da sala, eu por chamar atenção, claro, e ele por sua inteligência que a timidez não apagava.
Por ser completamente o oposto de mim é que eu simplesmente o odiava. Com o tempo, a maturidade foi ofuscando a timidez dele e todas as meninas da escola eram apaixonadas por aquele insuportável. Ele não ficava com qualquer uma, mas não perdia a chance de jogar charme para todas. Só depois fui percebendo que as atitudes dele que me irritavam tanto eram ciúme. O pior dia da minha vida foi aquele em que descobri estar apaixonada por ele.
Eu já estava na faculdade quando, certa vez, no caminho de volta para casa, um temporal me pegou desprevenida, saí correndo tentando salvar meu material até que ele parou o carro e me ofereceu carona. Odiei a audácia, mas tive que aceitar, meu coração pediu. Foi lá que tudo começou, nosso namoro foi quase aplaudido por toda a minha família e a dele também.
Amor, cumplicidade, amizade, companheirismo, confiança... Nosso relacionamento tinha as bases perfeitas, nada nos abalava, nunca ouvi boatos de traição nos oito anos em que passamos juntos, ele era perfeito! Estava no auge de sua carreira, ganhando rios de dinheiro, então eu tive certeza que naquele dia eu seria pedida em casamento.
Ele acordou cedo, preparou o quarto e deixou ao lado da cama uma rosa e um bilhete que dizia: “Meu bem, tem algo que tentei fazer durante toda a viagem, mas não tive coragem, por todas as vezes que arrisquei, você me encheu de tanto carinho que não consegui fazê-lo, me procure assim que acordar, tenho uma surpresa pra você!”
Foi aí que ele me deu todas as pistas que eu queria. Eu sabia que tinha algo além de que uma “quebra de rotina” naquela viagem, ele não largaria o trabalho por uma semana se não fosse algo realmente especial, ele era muito responsável e amava tanto o que fazia, que só abriria mão daquilo por outra coisa que amasse mais: Eu! Era o pedido, era o pedido!
Vesti minha melhor roupa, fiz o cabelo, passei o melhor perfume. O brilho nos meus olhos mostrava a alegria de saber que, dali a alguns instantes, eu com certeza estaria com um anel maravilhoso na mão direita e teria um homem o qual eu chamaria de “MEU noivo”.
Fui à procura dele, mas ele não estava nos lugares em que imaginei, então fui até a recepcionista saber se ele tinha deixado algum recado, e sim, ele havia deixado as chaves da suíte mais cara do navio para que ela me entregasse. Nervosa e feliz, eu fui subindo aquelas escadas sorrindo para todos que passavam.
Cheguei à porta do quarto, arrumei mais alguma coisinha aqui e ali e virei as chaves.  Entrei de olhos fechados, fazendo algumas gracinhas, quando ouvi sua voz dizendo: “Por favor, abra os olhos!”. Ao abrir, me deparei com aquela cena completamente perturbadora. Ele estava lá, sobre a cama coberta de pétalas de rosas, completamente despido, ao lado do meu irmão nu da mesma forma.
Foi então que ele me disse que durante todo o nosso relacionamento ele e meu irmão também haviam se relacionado e que nossa história terminara ali, porque na verdade era o meu irmão o grande amor de sua vida.

fonte imagem: http://precon-preconceitos.blogspot.com

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12 de novembro de 2011

Cerne


Chega! Por favor, para com essa mania de se apaixonar tão rápido, de se perder loucamente e de se aventurar sem ter certeza do que você irá encontrar do outro lado. Ei, você já tem mais de duas décadas, já deveria ter se acostumado com isso e não ter se deixado levar pelas palavras. Eu sei que seu companheirinho lá de cima demora a processar essas coisas, ainda mais quando é tão rápido e sem explicações assim.
Entenda uma coisa: essas promessas não foram ditas pela primeira vez a você, esse discurso já estava pronto, às vezes ele é sujeito à modificações com o tempo, ou só se repetem mesmo. Para de acreditar que aquelas palavras eram sinceras, porque talvez nem fosse aquilo que ele estivesse sentindo. Por favor, eu estou tentando te ajudar. Você há pelo menos cinco anos passa pelas mesmas coisas, e mesmo assim ainda insiste em acreditar que aquele sentimento existiu? Então me explica como ele desapareceu em poucas semanas?
Lembra do início? Então responde: Quais foram as palavras? Mudaram em relação ao último? Viu? Eu te falei! Agora vê se para de ficar nervosinho aqui dentro, para de provocar essa dor que eu já não tô mais agüentando. Eu tento dormir e você não sossega. Tá, não é pra sossegar tanto, sabes bem que eu preciso de você, mas assim não dá! Eu preciso de você bem e feliz, e não me acordando às três da manhã doendo e gritando desesperadamente.
Quantas vezes eu te avisei pra tomar cuidado? Por que foges assim de mim quando eu menos espero? Já disse pra não se acostumar com estranhos e ficar quietinho aqui até ter não ter dúvidas, mas não, vais embora feito um passarinho sem dono e quando te acertam a asa esquerda voltas pra casa, sangrando, ferido e destroçado. Imaginas o quanto me dói te ver assim? Eu me sinto extremamente responsável por você, mas não compreendes que eu só quero o melhor pra você, porque é isso que mereces: O melhor!
Promete pra mim que dessa vez vai ser diferente? Que por mais que as palavras te encham de satisfação não vais acreditar logo que é amor? Mostre que tem medo, pulse devagar, não acelere e não me deixe inquieta, porque eu não sei o que fazer. Quando estás a mais de cem por minuto eu não sei se presto atenção em alguém ou se cuido de ti antes que me mates. É, podes me matar, sabia?
Vamos fazer um acordo. Cuida de mim e me deixa cuidar de ti. Eu te amo porque és meu, então aprende a me amar, porque eu também sou tua. “Eu vou estar aqui pra você, pra sempre”, lembra sempre disso. Nós dependemos um do outro, me deixa te proteger só dessa vez? Quando eu gritar, por favor, me escute. Quando der vontade, por favor, não procure. Quando lembrar, por favor, esqueça. E quando sentir saudade... Não chore.  


Fonte Imagem:http://coisasecriticas.blogspot.com

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Amor de Caixinha

E de repente eu sinto que só o vazio me completa, quem inventou o amor não avisou que ele dói tanto quando acaba. Que difícil ter que me acostumar de repente sem você. Quando decidimos ficar juntos foi uma decisão justa, era um momento nosso, foi por querermos. Agora vais embora, assim de repente e eu tenho que dar meu jeito de me acostumar sem você. Se eu soubesse que seria assim, eu não teria te entregado a minha alma, o meu amor e,principalmente, a minha caixinha.
É, só você sabe o que tinha na minha caixinha, eu te pedi pra cuidar, lembra? Eu não preciso dizer em que estado você me devolveu. Não te ensinaram a ter cuidado com as coisas dos outros? Não se tira do lugar a caixinha de ninguém sem comprometer-se a cuidar dela com todo o zelo como se fosse sua pra sempre, por toda a sua vida.

“hoje, cuidar do teu coração é o mesmo que cuidar do meu
te ver bem é me ver bem
tua felicidade é a minha
te quero bem o quanto eu quero bem a mim
nessa caixinha não tem só um coração... tem dois em um,
e o meu, nas tuas mãos, nunca foi tão bem cuidado...”

Um dia você me disse que me cercou, me prendeu, me acorrentou e me deixou em prisão perpétua, que era o mais feliz e mais completo, me pediu pra sonhar com você, me pediu pra jamais largar a tua mão, disse que quando ferisse curaríamos juntos, disse que eu era teu presente, o maior de todos, o melhor de todos, que nossos corações jamais se separariam.
Limites? Me fizeste acreditar que não teríamos. Eu tive certeza de que nada nos atrapalharia, que o teu amor era maior que o meu, e que ele era todo, inteiro e incondicionalmente meu, planejamos natais e dias comuns, disse que teríamos uma história linda pra contar, que eu era o amor de sua vida, que por mim acordarias às 6h da manhã sem reclamar.
Ouvi você dizer que eu era a segurança que você não tinha, a coragem que você não conseguia, o sentimento que você nunca imaginou ter e isso tudo era pleno, honesto e recíproco. Te ouvi dizer que eu era a rainha dos teus pensamentos, a rainha da tua vida...
E de todas as tuas promessas, espero que ao menos aquela em que te pedi para nunca esquecer o quanto te amava, seja cumprida. Disseste exatamente assim: “Nunca vou esquecer, nem se eu perder a memória, meu amor. És a minha vida.” 

Fonte imagem: http://carolamontoro.blogspot.com


"Quando se entrega a sua caixinha a um ser único no mundo, ela passa a ser dele pra sempre..."

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4 de novembro de 2011

Caminho de terra

       
       Chove, e único som que escuto é abafado pela minha janela fechada, há poucas buzinas e muitas gotas. Gotas de chuva que esfriam a cidade, alagam as ruas, e inundam o meu pensamento de lembranças e nostalgia. Chove, faz frio, mas dentro de mim há fogo. Fogo da vontade de ter, de querer, de ser, de pertencer, de descrever. Há desejo, mais que insaciável de restabelecer o ser, tão abalado com tudo o que aconteceu.

        Dentro do coração há o despertar de um sentimento morto, ou melhor, adormecido. Sim, eu não matei, não quis, não quero, não vou. Assim como os melhores textos que lemos, não saem de nossa mente, os melhores versos que habitam o peito, fluem, às vezes sem querer, ou quando a alma embriagada não consegue mais refrear o que fora guardado.

       Acima de tudo, há a saudade da pele, do cheiro, do toque, do rosto, dos arrepios, dos calafrios, das palavras trocadas em silêncio, sim, em silêncio! Saudade dos olhares extasiados de insanidade, do entrelaçar de dedos, dos carinhos e do que se tinha antes de se ter e reaparecer quando tinha que ser.

     Quando a certeza de ser supriu a vontade de querer e quando o desejo de ter descartou a possibilidade de ser, eis que tudo perdeu o verdadeiro sentido de apenas existir. Quando a questão tornou-se menor que a decisão e a indecisão maior do que qualquer razão, eis que tudo que existia ali passou a ser de todos e não do par perfeito.

      Não há a vontade de percorrer longas estradas, basta seguir aquele caminho de terra coberto de flores e bagunçado pelo vento, mas que traz a alegria de saber que não se está sozinho, que distancia duas similares ao ponto de fazer com que depois das curvas elas se cruzem e sorriam, e que normalmente costuma pulsar dentro dos seres trazendo consigo aquela tal de felicidade...

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28 de outubro de 2011

Amor mendigo

Ando distraída de meus passos,
Tua marcha, agora, é minha alvorada.
Não te culpo,
Posto que minha seja toda a culpa
Por amar-te sem medida e,
Minha vida já não existe distante da tua.

Ando apaixonada, simplesmente.
E de meus versos exala um quarto do amor
Que me sufoca a alma.
Amo-te tanto que,
Deixar-te livre é o mesmo que sofrer,
Entretanto, como prender um beija-flor
Que de minha água doce jamais bebeu?

Tu me destróis em cada gesto,
Mas os faz tão delicados,
Que tua simples passagem já colore o meu dia.
Esperar-te-ia dias, meses, anos,
Toda a minha vida,
Posto que grande e quente como sol é o meu amor
e nunca há de esvaecer.

Amo-te sem esperar de ti um riso,
Um afago, ou uma flor sequer,
nem esperar ser lembrada, se um dia você resolver partir.
És meu laço, meu riso, meu fato.
          Se vivo, é por meu sangue ser teu amor e,
Por ser meu olhar mendigo de teus passos,
De teus gestos, de teus abraços.

                                        Raíssa Bahia

Fonte imagem: jjuh.tumblr.com


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24 de outubro de 2011

Epílogo


O relógio marca cinco e meia da manhã. Hoje é domingo, dia do descanso merecido por quem fez esse mundo, nem que fosse apenas o seu, girar a semana inteira. Um domingo diferente de todos os outros, bem como os últimos dias, os últimos meses. O último. Os jornais anunciam há semanas que o fim está próximo. Dizem que um meteoro gigante cairá sobre a Terra, dizem que o planeta explodirá em magma e luz. Minha mãe diz que “estava escrito”. Maktub. Pouco me importa o motivo. Em um dia, não haverá mais dia, nem noite, nem as lembranças de quem os viveu. Fim.

Mas eu ainda tenho tanta coisa pra fazer... Ora, e quando eu tive tempo pra riscar toda a minha lista de tarefas do dia? Um dia de trinta horas? Nunca passou de um sonho, um devaneio impossível. O mundo vai virar poeira cósmica e, mesmo assim, nunca deixamos de achar que tínhamos em nossas mãos um poder que ninguém teria. Nós sempre fomos poeira. Controlar o tempo, mediar a paz universal, fazer o gol do título, atirar a flecha do cupido. Quando iríamos entender o óbvio, que não éramos nada além de peças no tabuleiro?
O tabuleiro das nossas vidas, que muitos acreditavam viver sozinhos. Ledo engano. Dependência, nossa maior condição. Desde o ventre materno, os primeiros coleguinhas da escola, os grandes amigos de infância, até os amores e afetos, as companhias fortuitas ou premeditadas. Hoje eu vejo o quão dependentes nós somos. Mais do que muitos nem sequer imaginavam. Todos se abraçam, choram, pedem perdão, agradecem. Nas ruas, nas casas, na TV.
E eu? Onde eu cheguei? Será que destes dias, em que pude exercer o dom do raciocínio, eu parei e pensei na minha trajetória? Hoje é o fim da linha, a última volta da corrida, e como está meu carro? E as avarias que sofri e causei? Garanto que a minha pista não foi lá das mais planas e retas. Derrapei, como o mais experiente. Fiz curvas perfeitas, ultrapassei, trapaceei, enganei e fui enganado. Os olhos que fingiram ternura um dia, choraram em outro. E agora? Céu ou inferno?
Posso dizer que fui um bom garoto, merecedor de todos os presentes que ganhei de Noel. Posso dizer que aprendi muito com os erros. Aprendi a não errar, aprendi a saber errar. O orgulho eu nunca controlei por inteiro, mas eu sei o quanto me esforcei pra reconhecer minhas derrotas. Ninguém vai ler esse meu desabafo, não há tempo, porém eu acho que preciso ler, escrever, organizar toda a bagunça que sou. Acho que devo desculpas. Perdoar e ser perdoado, talvez.
Nunca matei, nunca roubei, nem usei drogas. Mas magoei muita gente, com meu jeito torto de agir, pensar, amar. Se eu pudesse, agora, eu diria a todos que explodirão daqui a pouco com uma péssima imagem de mim, o mais sincero “me perdoa, por favor” da minha vida. Clemência? Palavra forte. Alívio.
E por quê eu não fiz isso antes? O ser humano sempre foi movido a desafios, a limites, a agir em momentos extremos. Enquanto eles não existem, não há razão para fazer as pequenas coisas. O medo de ser o que somos, banais. Demorei demais para perdoar pequenas falhas, coisas bobas. Os ressentimentos não estão mais em mim. Me sinto mais limpo. Limpo e livre de qualquer amarra, para pedir perdão e dar perdão. Estamos todos no mesmo barco.
Como eu sou egoísta! Até agora ainda não pensei em quantos merecem minha gratidão. Muitos, muitos mesmo. Cada tijolo colocado em meu muro erguido desde sempre, cada favor, cada cola na prova, cada dia feliz, cada sorriso sincero. Eu não chegaria aqui. A todos, sem exceção, que de alguma forma construíram a versão final deste homem que sou, ou que fui, MUITO OBRIGADO. Até errando, muitos de vocês me fizeram acertar. Agradeço até a quem não me ouvirá. Obrigado, pôr-do-sol. Obrigado, chuva das duas. Obrigado, Machado.
Agora são seis e quinze. Hora de sair daqui, me despedir do meu velho companheiro eletrônico, dos meus “amigos” virtuais, dos meus textos, da minha vida pro mundo. Agora é a hora de tentar pedir perdão, de tentar perdoar, de tentar agradecer, de tentar fazer um décimo do que pensei. Sem contar o que não pensei. Prefiro que seja assim, não prever o que farei hoje. Vou fazer o que quiser pra, pelo menos hoje, sentir que o mundo é meu.
Quem sair por último, que apague a luz.

                                              Fonte Imagem: http://4.bp.blogspot.com/


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Gustavo Ferreira, @gusdferreira ou @reportere, dono dos blogs Etc e Reporter E, estudante de Jornalismo da Universidade Federal do Pará, grande amigo e incentivador do blog, é a pessoa mais apaixonada pelo o que faz que eu conheço, seu amor pelo jornalismo corre muito além das veias. Gustavo encerra a Semana de Homenagens do Entreletr@s com um texto inédito. O blog completou 1 ano e ele não poderia deixar de ter um texto do seu PRIMEIRO SEGUIDOR, aqui, pela segunda vez consecutiva. Obrigada Gustavo, pelo texto e pelo carinho com o blog, que Deus ilumine o seu caminho e conceda cada vez mais sucesso à sua carreira.
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