14 de novembro de 2011

O amor dele...

Era Novembro, eu lembro bem daquele dia, completávamos oito anos de namoro, tudo estava absolutamente perfeito, estávamos voltando para casa numa viagem em um cruzeiro e eu tinha certeza que ali eu seria pedida em casamento. Foi uma semana de jantar à luz de velas, carinhos e declarações de amor, naqueles dias parecia que não existia trabalho, problemas, telefonemas, nada, só eu e ele naquele infinito azul.
Nossa história é engraçada, morávamos na mesma rua há anos, mas nunca fomos um com a cara do outro, nossas famílias eram amigas, mas eu e ele não trocávamos uma palavra sequer. Nos meus aniversários ele sempre estava lá. Na hora da foto, minha mãe sempre dava um jeito de que ele ficasse ao meu lado, conclusão: Eu nunca saia sorrindo e ele nunca saia olhando para a câmera. Nos aniversários dele, a mesma coisa, às vezes eu acredito que as duas tinham um plano.
Estudávamos na mesma escola desde a infância, ele era muito inteligente, sempre foi. Eu, por minha vez, não gostava muito de estudar, achava perda de tempo, afinal, eu seria a herdeira dos negócios de meu pai. Ele era muito tímido, já eu, queria sempre ser o centro das atenções, chamam de egocentrismo, mas eu não entendo dessa forma. Engraçado mesmo era que nós éramos os mais populares da sala, eu por chamar atenção, claro, e ele por sua inteligência que a timidez não apagava.
Por ser completamente o oposto de mim é que eu simplesmente o odiava. Com o tempo, a maturidade foi ofuscando a timidez dele e todas as meninas da escola eram apaixonadas por aquele insuportável. Ele não ficava com qualquer uma, mas não perdia a chance de jogar charme para todas. Só depois fui percebendo que as atitudes dele que me irritavam tanto eram ciúme. O pior dia da minha vida foi aquele em que descobri estar apaixonada por ele.
Eu já estava na faculdade quando, certa vez, no caminho de volta para casa, um temporal me pegou desprevenida, saí correndo tentando salvar meu material até que ele parou o carro e me ofereceu carona. Odiei a audácia, mas tive que aceitar, meu coração pediu. Foi lá que tudo começou, nosso namoro foi quase aplaudido por toda a minha família e a dele também.
Amor, cumplicidade, amizade, companheirismo, confiança... Nosso relacionamento tinha as bases perfeitas, nada nos abalava, nunca ouvi boatos de traição nos oito anos em que passamos juntos, ele era perfeito! Estava no auge de sua carreira, ganhando rios de dinheiro, então eu tive certeza que naquele dia eu seria pedida em casamento.
Ele acordou cedo, preparou o quarto e deixou ao lado da cama uma rosa e um bilhete que dizia: “Meu bem, tem algo que tentei fazer durante toda a viagem, mas não tive coragem, por todas as vezes que arrisquei, você me encheu de tanto carinho que não consegui fazê-lo, me procure assim que acordar, tenho uma surpresa pra você!”
Foi aí que ele me deu todas as pistas que eu queria. Eu sabia que tinha algo além de que uma “quebra de rotina” naquela viagem, ele não largaria o trabalho por uma semana se não fosse algo realmente especial, ele era muito responsável e amava tanto o que fazia, que só abriria mão daquilo por outra coisa que amasse mais: Eu! Era o pedido, era o pedido!
Vesti minha melhor roupa, fiz o cabelo, passei o melhor perfume. O brilho nos meus olhos mostrava a alegria de saber que, dali a alguns instantes, eu com certeza estaria com um anel maravilhoso na mão direita e teria um homem o qual eu chamaria de “MEU noivo”.
Fui à procura dele, mas ele não estava nos lugares em que imaginei, então fui até a recepcionista saber se ele tinha deixado algum recado, e sim, ele havia deixado as chaves da suíte mais cara do navio para que ela me entregasse. Nervosa e feliz, eu fui subindo aquelas escadas sorrindo para todos que passavam.
Cheguei à porta do quarto, arrumei mais alguma coisinha aqui e ali e virei as chaves.  Entrei de olhos fechados, fazendo algumas gracinhas, quando ouvi sua voz dizendo: “Por favor, abra os olhos!”. Ao abrir, me deparei com aquela cena completamente perturbadora. Ele estava lá, sobre a cama coberta de pétalas de rosas, completamente despido, ao lado do meu irmão nu da mesma forma.
Foi então que ele me disse que durante todo o nosso relacionamento ele e meu irmão também haviam se relacionado e que nossa história terminara ali, porque na verdade era o meu irmão o grande amor de sua vida.

fonte imagem: http://precon-preconceitos.blogspot.com

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4 comentários:

  1. sua maldita! me enrolaste o texto todinho! Não vi a imagem portanto nunca imaginei que a história teria um final como este.
    Parabéns Rah,mais um ótimo post!

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  2. Só acho que ele não precisava contar pra ela desse jeito. QUE DESELEGANTA! HAHA
    Texto ótimo, como sempre.

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