19 de novembro de 2011

Fogo! - Parte I

           Tinha oito anos, era órfão dos pais, vestia roupas velhas e sujas e sempre estava com fome. Este era Thomas, o menino que reparava carros em frente ao Talatona Hotel, um dos hotéis mais caros e luxuosos de Luanda. O recepcionista do hotel, Henrique, ficava aflito ao ver a situação de Thomas e todas as noites o colocava para dormir dentro do hotel para que a criança pudesse ao menos passar a noite  protegido do frio, instalava-o dentro de um elevador que era desativado durante a noite e reativado as seis da manhã,porém o menino sempre acordava antes e se retirava sem ser notado pelos hóspedes.
            Apesar de ser um “empréstimo”, Thomas via dentro daquele quadrado, o seu lar, não tinha cama, nem banheiro, mas em compensação tinha um espelho belíssimo e um tapete Persa fofo, quente e aconchegante. Lá, Thomas tinha seus melhores sonhos, sonhava que um dia dormiria em um quarto luxuoso, se vestiria como os hóspedes e não precisaria se esconder nas manhãs dentro da imensidão daquele hotel, teria um carro luxuoso e formaria uma família, talvez a aquela que ele nunca tivera.
            Porém, um dia Thomas perdeu a hora de acordar, havia trabalhado muito no dia anterior e o cansaço o fez dormir demais. Já passavam das seis quando Thomas abriu os olhos e tomou um susto que o deixou sem palavras. Um menino, com roupas limpas, cabelo alinhado, de banho tomado e cheirando a lavanda, estava sentado e admirava-o enquanto ele dormia, aparentemente tinha a sua faixa etária.
          Envergonhado, Thomas levantou, pediu desculpas e saiu do elevador, mas foi seguido pelo menino, depois de algum tempo caminhando ele percebeu que o menino o seguia curioso, então ele sentou e os dois puseram-se a conversar, pouco tempo depois eles brincavam juntos, há tempos Thomas não se sentia assim, e nunca havia se divertido tanto, mas a hora do almoço estava por vir e Thomas precisava trabalhar para comprar seu almoço.
         O menino que brincara com Thomas chamava-se Benjamin, filho de Roberto, um empresário influente no ramo automobilístico, e estava com os pais para passar suas férias. Ao voltar para o quarto, Benjamim ficou confuso com o comentário de seu mais novo amigo: “Preciso ir, tenho que trabalhar para almoçar.”, para ele, trabalho era coisa de pessoas adultas, como o seu pai.



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