18 de novembro de 2012

O amor e alguns anos

   Durante anos se amaram como se a vida deles desde o dia em que se conheceram fora uma só. Brincavam, riam, cantavam, brigavam, transavam, choravam, beijavam; fizeram promessas e juras de um amor que julgaram 'eterno'; escolheram os nomes dos filhos; planejaram o dia do casamento; dormiram juntos em uma rede na varanda; viajaram para o interior nas férias; ouviram Blues e Bossa nova; escolheram o lustre -ele por ela- e o piano -ela por ele; leram poemas de Rimbaud e Verlaine nas madrugadas e sonharam com o futuro planejado.
   Durante meses, separados pelo destino, mantiveram aquele amor da adolescência em riste, pronto para voltar a sê-lo a qualquer sublime momento; lembravam da rua, das noites, dos jantares à luz de velas, das manias, das manhas, dos defeitos que eram tudo de perfeição; relembravam das promessas e as asseguravam cada vez mais; despediam-se com lágrimas... lágrimas de saudade; beijavam-se em sonhos todas as noites de todos os dias.
   Durante semanas, cada um em seu lugar, passaram os dias sem quem um soubesse o paradeiro do outro, procuravam-se pelas cartas, pelos livros, pelos perfumes, pelas esquinas, pelas lembranças, pelos sorrisos. O desejo de ambos ia, sem ruídos, procurando outros caminhos, outros corpos, outros beijos, outras vozes, outros cheiros. Já não existia quase nada em comum nos dois, a não ser, a lembrança um do outro que já não existia em nenhum daqueles que um dia disseram não conseguir existir sem a presença do 'eterno'.
     Durante dias trabalharam e estudaram, e saíram e beijaram, e abraçaram e namoraram. Dias que foram semanas, que passaram a anos os quais resultaram em uma década. Ele amou alguém, ela desejou incessantemente outros lábios que não eram os dele; sem conversas, sem lembranças, sem recordações, sem compactuar se encontraram um dia, sem querer, enfim. 
   Olharam-se fixamente por alguns instantes, se aproximaram pávidos, sorriram levemente, quase sem vontade, um sorriso amarelo. Juntos ali, poderiam agora, enfim, viver tudo aquilo que sempre haviam sonhado, desfrutar do amor que antes diziam  sentir. Depois de tantos anos separados, deveriam ter se abraçado, chorado, beijado, ou quem sabe terem visto um brilho rasgado em algum dos olhos, mas nada aconteceu. 
   Apenas se cumprimentaram com um aperto de mãos em meio a uma praça movimentada. Nem risos, nem lágrimas; nem abraços nem beijos; nem promessas nem conversas; nem cantorias nem brincadeiras; nem eternidade nem infinito. Nada. Absolutamente nada. Eram como dois estranhos. Maria e João, ou talvez, Eduardo e Mônica, Felipe e Bia, tanto faz.

                   
Fonte Imagem: thefelixxx

8 de setembro de 2012

Teus rastros

     
                     

      Por todos esses anos eu te guardei. Guardei teu cheiro na memória, tua letra em alguns pedaços soltos de papel, tuas declarações em arquivos muito bem guardados em um lugar de algum computador. Às vezes, eu os recupero de alguma forma ora aqui, ora ali, revirando alguma coisa eu te encontro em algum espaço. Não sei se te espalhei de propósito ou sem querer, mas vira e mexe eu encontro vestígios de nós dois.
       O engraçado é que tem dias pra tudo: músicas, fotos, cadernos, livros e, cada vez mais, nós, você e eu. Por mais que eu tente admitir, na verdade, eu nunca consegui quebrar as promessas do "felizes para sempre" e "nunca"; por mais que eu tente ser forte, os olhos cheios de lágrimas se perdem em cada palavra que me deste e hoje não tenho mais; por mais que pareça simples, te arrancar de mim nunca foi fácil.
        Muitas vezes, eu me pergunto: "O que será que ele fez de nós?", e imediatamente a razão me responde da forma mais ácida e hipócrita possível. Bom seria se só ela tivesse voz ativa aqui dentro, mas aquele cerne incansável insiste em crer que tudo não passa de uma grande farsa que você armou para provar a si mesmo que não se desfaz algo que é.
        Pra falar a verdade, desde que aprendi o que era 'o ser', nunca mais me entendi. Não me entendo. Sinto, mas acho que não sei sentir. Vejo, mas não procuro enxergar. Por vezes, eu admiro e valorizo o silêncio. Quanto aos seus gritos, espero que não sejam de socorro ou de obrigações. Não sei se sou feliz ou sou acostumada. Não amei. Amo. Se o "sempre" e o "nunca" possuem valores semânticos diferentes do que dizem os dicionários, não os absorvi...  


Homenagem à luz e sombra.

1 de setembro de 2012

Gotta let go


       "‎Sometimes you gotta let go."

                                     Só pra pensar um pouco,


Só pra deixar as coisas voltarem a se alinhar,

                                                            Só pra não deixar nunca.

E sorrir, mesmo vendo partir.
                                                                       E não sentir a falta quando se for.

                    E ter certeza de que conheço cada passo.

                               Só pra ter certeza de que reconheço o cheiro entre tantos outros.


       Só pra abraçar mais forte em cada volta.

                    E beijar fervorosamente nas despedidas no fim de tarde.

E nunca esquecer de  levar para ver o sol partir.

                               

                                                      E querer mesmo quando a vida está em desordem.

Aqui. Alí. Hoje. Amanhã. Sempre. Nunca. Nós. Dois. Um.



                                

23 de agosto de 2012

18Oº

        Tirei uns dias de férias da vida que estava levando. Me dediquei um pouco mais e fui promovida no trabalho. Dispensei um pouco mais de tempo para mostrar o meu sorriso e isso me fez muitíssimo bem. Vi pessoas próximas morrendo e matando, uns pelo tempo, outros por dinheiro. Em um mês, tudo saiu um pouco do lugar, a vida se organizou de uma nova forma que me satisfez, mas eu sempre quero mais. Sempre penso que o bom pode ser ótimo e, que o ótimo pode ser excelente, bem como acredito sempre que posso e devo dar o melhor de mim em tudo o que eu me propuser a exercer.
      Refinei alguns gostos musicais ou vulgarizei-os, como queiram. Despertei prazer em ouvir música clássica e ler poemas ao mesmo tempo... Nunca imaginei o quanto isso era relaxante! Pena que só posso fazê-los em alguns minutos do final de semana, quando o trabalho de conclusão de curso tira uma soneca. As tarefas se acumularam bastante, mas de forma infinitamente prazerosa a ponto de rir muito e alto quando me chamam de louca. 
         Quebrei preconceitos e me desprendi de alguns tabus sociais que por tanto tempo me aterrorizaram. Rompi! Antes eu não entendia porque as horas passavam tão devagar e porque os dias precisam ter tantas horas; hoje, me pergunto o porque tenho tão pouco tempo para viver um dia. Entendi que tenho pouco tempo.
           Aprendi a ver 'praticidade' como palavra de ordem (Complicar tudo pra quê?) e 'prazer' como palavra de vida. Prazer pelo que se faz, como se faz, com quem se faz e pra quem se faz. Acho que aprendi o segredinho do que é viver. Descobri que a felicidade é um estado de espírito e que eu posso, um dia, simplesmente acordar feliz sem motivo algum, ou ter mais de um milhão de motivos para ser feliz todos os dias...

                      
Fonte Imagem: falandosegredos.blogspot.com


4 de agosto de 2012

Reflexões noturnas

                                  



Caminhar sempre pensando em nós. 
Pousar distante pra ficarmos a sós.
 O amor tem dessas coisas de idas e vindas. 
Olhares e espaços desse mundo azul. 
Nosso mundo, nós. 
Eles estão a sós. 
Não perdemos tempo. 
Perdemos vida.
 Eles não sabem o que querem, 
apenas dizem. 
Nós não somos nós.
 Eles não são felizes como nós. 
Tanto tempo se passou e eles ainda caminham no mesmo sentido.
 Roda de madeira, árvore de folhas secas,
 rio de mar, mar de rio, sorriso.
 Um desenho de segredos, choros e medos.
 Ele está enganando gente.
 Vão prazer a todo o custo.
 Frio, vazio. 
 Ah, amor, somos tão jovens quanto nós. 
Ah, vida, ele ainda tem tanto a viver. 
Ah, hora, é tempo de renascer...

                      

15 de julho de 2012

Feliz amor pra vida toda

    Mais uma vez aqui. Do início a todos os fins, sempre aqui. Eu e você, nós.  Como já era de costume, mais um aniversário à distância, mas com os corações bem juntinhos. Nosso tempo é outro, já estamos sós. O mundo, agora, é mero detalhe, hoje o dia é nosso. Todo o décimo quinto dia lembrará aquele 15 de janeiro. O primeiro décimo quinto dia da sua vida em que você deixava de ser apenas você para ser um par. Aquele dia em que eu deixava de ser eu para ser mais um. Aquele dia que jamais imaginaríamos, hoje, estar comemorando...
     Daquelas histórias longas e românticas, ora tristes ora engraçadas, somos mais um clichê! Sim, um clichê que só a gente sabe contar. Tudo foi conflituoso, em alguns momentos, para não parecer fácil demais. Doce em cada reencontro para não deixar de regar a sementinha, aquela que plantamos tanto tempo antes sem imaginar que ela teria raízes tão fortes a ponto de sempre nos fazer andar e andar e andar e, por fim... voltar. Não sei quantas vezes eu me perguntei se o nome disso era amor. Busquei encontrar essa resposta em alguns olhares, em alguns sorrisos, em alguns lugares...Arrisquei grandes amigos, corri alguns riscos, entendi a vida, entendi você, entendi tudo. A resposta ? Sim, eu encontrei.
    Erros e acertos em uma história que se fosse perfeita estaria em um conto de fadas e não em um espaço  intangível de memórias. É ela que eu consigo descrever em detalhes sutis cada único momento e, mesmo que eu dispense todas as palavras do dicionário, conseguir fazer com que alguém possa ter noção da dimensão que é esse sentir e essa plenitude seria algo impossível. Talvez eu me renda à palavra dependência, mas não de modo maligno e autodestrutivo, muito menos o de necessidade, e sim o de dependência livre. Sim, sou uma alma livre e completamente dependente...
   Completamente dependente desse sentimento que vicia. Completamente dependente desse ser que faz meu coração livre. Completamente dependente desses mimos, desses carinhos, dessas vontades. Completamente dependente dessas sensações e pulsações. Completamente refém de um amor sem precedentes. Completamente dependente dessa presença constante. Completamente dependente desse modo de pensar. Completamente dependente dessa imensa responsabilidade contida em tão poucos anos, mas que já somam algo mais que eu.
  Completamente dependente desse cheirinho de chocolate em caracóis negros. Completamente dependente dessa lealdade, fidelidade e cumplicidade. Completamente dependente das surpresas de última hora. Completamente dependente das madrugadas em claro. Completamente dependente das histórias que podemos contar. Completamente dependente desses 2.O35 dias de amor paciente. Completamente dependente das músicas no piano. Completamente dependente dessa maturidade e justiça. Completamente dependente das mãos que não me deixam cair e nunca me deixam desistir.
    Completamente dependente das marcas de felicidade espalhadas pela chão. Completamente dependente daquele pedaço de papel rosa com a frase mais linda que eu já li na vida. Completamente dependente daquelas chatices. Completamente dependente daquele rosto, daquele gosto, daquele beijo, daquele riso, daquela pele, daqueles olhos. Completamente dependente da admiração que tenho. Completamente grata ao destino ou seja lá o que for que me fez voltar a estar completamente completa...



"Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. 
E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. 
E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. 
 O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, 
 não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; 
 não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; 
 tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. 
O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; 
porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; 
mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. 
Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. 
 Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido. 
Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor."
(I Corintios 13)

4 de julho de 2012

Untitled


É sempre assim, depois que tudo acaba a gente dá um jeito de refazer a vida e aprende a conviver com a ausência daquela pessoa. Dói um pouco no início, alguns lugares sempre vão te lembrar daqueles momentos, aquelas músicas sempre vão te fazer chorar, até o dia em que você nem se dá conta de que não pensa mais nela. Às vezes, nem é porque você quis esquecer, mas sua vida se encarregou de te ocupar de tantas formas e tudo passou a ser mais importante do que ter tempo para sentir saudade.
Eis que um dia, daqueles que não são comuns; daqueles em que por alguns instantes seu tempo se fez livre; daqueles em que em meio a tantas tarefas e obrigações, tantas leituras e compromissos, um sonho te faz perder o equilíbrio. Sim, um sonho. Freud explica dizendo que os sonhos nada mais são do que aqueles desejos reprimidos os quais não temos coragem de pôr em prática e, se você não põe, seu inconsciente vai lá e “plin” faz tudo para você.
Pode ser irreal, mas você consegue ver aquela pessoa, tocá-la, olhar nos olhos dela e seu coração, aquele cerne descontrolado, acelera tal qual o dia em que vocês trocaram aquele primeiro beijo. Pouco importa onde vocês se encontraram. Na praça? No parque? Na chuva? Era noite? E se você não lembrar? Mas quem esquece? O orgulho esquece, mas a memória... Ah, essa é uma artista! Ela consegue te convencer de que tudo está em paz até que, em um dia incomum, ela te traga de volta todas as lembranças que você nem sabia que ainda estavam guardadas.
Mas, o dia é longo, você tem sempre um milhão e meio de coisas a fazer. Pessoas falam com você a todo o momento e sua concentração precisa estar em ordem para atender ao que cada um lhe pede. Então, é hora de ir a algum lugar, um lugar que você vai todos os dias, mas nem lembrava mais que vocês enquanto eram dois viviam por ali, trocando declarações ali justamente naquele lugar por onde você passa todos os dias preocupada com o que deve fazer depois que chegar em casa, pensando na vida ou em qualquer outra coisa, menos: nele!!!
Você passa, olha, não o vê, mas consegue projetar naquele lugar todas as vezes em que vocês estiveram ali em uma questão de segundos, e... não é que de repente a música “de vocês” começou a tocar? Sem perceber, você deixou escapar aquela lágrima que o orgulho te fez guardar por todo esse tempo. Um  lágrima que guardava tanto aperto, tanta dor, tanto rancor.
Todas as dúvidas voltam à tona, mas elas já não querem respostas, elas só querem paz. Elas só querem voltar a se ocupar de tantas outras coisas a ponto de não conseguir mais ter um segundo de tempo livre para pensar em nada ou... em tudo! Um sonho, uma palavra, um lugar e você simplesmente perde a razão. Se você acreditava dessa vez estar fazendo o certo, parabéns, pode ter certeza de que você não tem certeza de mais nada. Absolutamente... NADA!
                      
Fonte Imagem garotacrescida.blogspot.com
                                      

28 de junho de 2012

Bagunçar a vida


Sempre tem um dia em que a gente resolve tirar todas as coisas do lugar só para, depois, colocá-las em ordem novamente. Acontece o tempo inteiro com os livros que, primeiro tiramos a poeira, colocamos para “respirar”, arrumamos do menor para o maior, depois os que contém o maior número de páginas, depois classificamos gêneros e, por fim, os com que se tem mais afinidade ou os de maior relevância.
Acontece com as roupas, que um dia arrumamos em degradê, em outro pelas mais usuais, no outro pelas marcas e assim por diante. Jeans, nos cabides de ferro, no lado esquerdo, porque na semana passada estavam no direito. Camisetas e shorts na terceira gaveta. Vestidos nos cabides de madeira. Blusas nos cabides de plástico. Uma gaveta de meias. Algumas semanas depois a gente tira tudo do lugar, inverte a ordem novamente e fica tudo certo.
Na vida também é assim, às vezes, precisamos bagunçar tudo que está guardado para ver se aquela pilha de coisas ainda pode ser arrumada de novo, e se não puder, infelizmente ela precisa encontrar outro lugar pra ficar. Um dia, quem sabe, a gente tira para bagunçar as amizades... em um ano quantos chegaram e quantos se foram? Quem voltou? Quem está há muito tempo? Quem passou rapidamente? Quem foi aquele que chegou ontem e já é importante? Quem é aquele que não merece estar entre os seus?
No outro, a gente bagunça a universidade, o trabalho, a família, o amor, só para ver se tudo pode voltar a se encaixar melhor em outro, ou em seu devido lugar. Mas é claro que isso só é possível quando o destino não se encarrega de “bagunçar a casa” por nós; e quando isso acontece, temos que arrumar tudo o mais rápido possível, antes que tudo fique insustentável.
Assim como os livros precisam de ar, nós também precisamos; ficar sozinho, às vezes, é bom; “Faxinar” pensamentos, lembranças indesejáveis, medos, traumas e aflições que insistem em viver hodiernamente, faz um bem tremendo. Às vezes, a gente precisa tomar cuidado, a tendência é sempre virar rotina, e o “costume” é a pior coisa que existe! Bom mesmo é trocar as coisas de lugar, renovar de vez em quando, para que elas permaneçam na sua vida, mas de forma nova, inusitada, diferente do que um dia elas foram.
  
            
Fonte Imagem: http://assimcomoasestacoes.blogspot.com

26 de maio de 2012

Retrato


Eu não sou perfeita. Não tenho olhos grandes, mas consigo enxergar as formigas no chão. Não uso batom, mas adoro salto alto tão quanto gosto de sapatilhas. Uso calça comprida e vestido. Acredito em amizade entre homem e mulher sem segundas intenções. Acredito no amor incondicional mesmo que eu já tenha sofrido algumas vezes por acreditar nesse amor, mas é instintivo conseguir me recuperar a cada segundo. Fujo de regras de consternação.
Eu gosto de perfumes doces, não gosto de acessórios pequenos, gosto de extravagâncias com moderação. Sou contraditória quando quero, porque sei muito bem ser objetiva e clara quando me convém. Eu gosto das cores porque não aprendi a ver a vida em preto e branco. Já fui patricinha e ignorante, mas isso não me isenta da possibilidade de ainda ignorar algumas coisas e pessoas, só que dessa vez fazê-lo de propósito .
Choro muito, mas sei sorrir depois de engolir a seco alguns cacos de vidro. Sei caminhar sem pernas. Sei respirar mesmo que me falte o ar. E sim, sei voar sem asas, mas quando se trata de amar... Ah, só sei amar se for de verdade. Algumas vezes, aceito provocações calada, não por falta de respostas, mas por medo de perder meu precioso tempo com coisas que não valem a pena.
Eu cresci no meu tempo, a meu modo, do meu jeito, fazendo o que eu achava certo, dizendo o que eu quis e quando quis, acreditando em minhas convicções, sabendo onde era o meu lugar. Eu criei meus verbos e desenvolvi minhas filosofias. Discuti quando foi preciso. Respirei fundo quando a coragem faltou. Desisti quando percebi que não valia mais a pena seguir.
Eu gosto de ler bons livros. Eu gosto de ouvir boa música. Eu gosto de bons filmes, mesmo que de vez em quando eu precise assistir alguma bobagem. Não tenho preconceitos, mas gosto de conteúdo. Acho inteligência mais importante que beleza. Digo que burrice é uma questão de gosto. Gosto de pessoas porque não as vejo como adjuntos. Nasci livre e quero morrer assim. Acredito que liberdade é uma questão de ideologia, tenho várias.
Já tentei definir o amor, mas só consegui definir as paixões, o amor transcende qualquer adjetivo ordinário. Não bebo. Não fumo, mas não deixo de falar com alguém porque decidiu pelo contrário. Tem dias em que nenhuma companhia no mundo me satisfaz além da minha. Eu gosto de refletir. Eu gosto de fazer refletir. Eu gosto de questionamentos. Acredito em mudança interior. Às vezes é bom pensar no escuro.
Curti e curto todas as fases da minha vida. Conheci o amor. Tenho um amor. Descobri que amor verdadeiro é um conceito ímpar e relacionamento é par. Eu gosto de conhecer pessoas, mas odeio desconhecê-las. Tenho admiração profunda por quem consegue me odiar sem sequer ter visto a cor verdadeira dos meus olhos, ignoro-os por dó e peço paz, amor e vida para que cada um possa saber um pouco da graça que é ter isso.
Descobri que a vida é como uma peça de teatro de apresentação única, quem pisca perde sempre algo importante. O tempo será sempre tempo, nunca voltará nem se estagnará, estará sempre em uma constante caminhada para o futuro na qual se tem duas opções: morrer no passado ou seguir vivendo...

Fonte Imagem: http://universoparaleloemversos.blogspot.com.br/2011/03/quando-te-vi.html


13 de maio de 2012

Mãe = Amor


“Atenção, o mundo está em estado de alerta, a população anda desistindo de seus sonhos sem lutar, porque não suporta as dores e angústias da vida. Precisa-se de perseverança e algo que possa manter viva a esperança no coração dos seres humanos. Falta sensibilidade, para que possamos enxergar no outro o irmão e possamos ajudá-lo com carinho. O mundo está um caos.”
Para sempre ver o mundo com olhos de misericórdia, Deus criou as mães, para que elas pudessem representar, o amor  dEle perante seus filhos. Deu a elas serenidade para tranquilizarem as horas de aflição; sabedoria, para solucionarem os problemas mais difíceis; delicadeza, para que contrapor as grosserias; perseverança, para que os que as cercarem não desistam de lutar pelos seus sonhos.
Mães, seres perfeitos, anjos enviados à Terra para solucionar o caos. Deus deu a elas força, são fortalezas para que nada pudesse abalá-las por mais grave que fosse. Mães, aquelas que nos abraçam quando o mundo nos rejeita; que nos afagam quando a vida machuca; que nos ajudam a retratar os erros que cometemos e que nos amam sob quaisquer circunstâncias, mesmo quando as desprezamos.
Mulheres capazes de nos dar a vida e darem as suas vidas por nós. Nós, seres imperfeitos, incompletos, que acreditamos saber tudo da vida, do mundo e costumamos ignorar os conselhos e cuidados das mães, só para que depois de um tempo, quando tudo não sai conforme planejamos, tenhamos a certeza de que elas têm sempre a razão e  querem sempre o melhor por nós, não porque merecemos, mas porque depois que nascemos, nossas vidas passam a ser as delas.
Parabéns a todas aquelas que sabem fazer do amor algo sublime, superior e imensurável; às rainhas que todos os dias nos ensinam grandes lições de amor e vida. 


6 de maio de 2012

Esses dois...


Eles se conheceram na adolescência, nos tempos de ensino médio. Ele sempre fizera duas séries posteriores à dela. Conheceram-se por intermédio de uma amiga em comum, Jéssica, essa foi a responsável pela união dos dois. Ela o viu primeiro, se encantou pelo menino três anos mais velho. Foram apresentados e ela se apaixonou, de verdade, quando ele disse que tocava piano. Sim, o sonho dela sempre fora ter um piano na sala, por mais que nunca tivesse aprendido a tocar uma nota e, mesmo que ele não a ensinasse, pelo menos teria alguém para admirar aos domingos pela manhã quando as cortinas da sala estivessem abertas e o lustre estivesse desligado.
Meio tímida, ela o convidou para a sua festa de 15 anos, queria que ele a visse nesse dia especial, talvez o primeiro de muitos que ela passaria ao lado dele. Na noite da festa, ele apareceu, ela sorriu, o recebeu e fez questão de ler, antes de guardar o presente, o bilhete que ele escrevera: “Parabéns de um cara que gosta muito de você. Felicidades.”, palavras simples que para ela eram a declaração de amor mais linda de todas. Ele dançou a valsa com ela, sorriam, brincaram e desde aquele dia não se separaram.
Começaram a namorar quinze dias depois do aniversário, não surpreendendo ninguém, pois todos já esperavam por aquilo. Um ano, dois, o fim. Separaram-se jovens demais. Precisavam amadurecer. Ela se apaixonou, ou melhor, tentou buscar alguém que pudesse dar à ela a alegria que ele lhe proporcionava e a plenitude de um sentimento. Ele fez o mesmo, buscava o mesmo sorriso, o mesmo beijo, o mesmo prazer, mas não os teve em uma única pessoa, precisou de várias. Não se satisfizeram.
Voltaram após um ano separados, entretanto, os destino os separou de novo; ele fora trabalhar em outro estado, do qual teve que fazer sua nova moradia. Ela não aguentou esperar, procurou alguém. Machucado e decepcionado, ele fez o mesmo. Se odiaram por alguns meses, ele voltou; ela não resistiu ao seu cheiro, ele não resistiu ao seu beijo. Voltaram.
Depois de alguns meses, brigaram pelo motivo de sempre: ciúmes. Ela, capricorniana, possessiva, tentava se controlar, mas quando não aguentava, jogava na cara dele os atos dos últimos milênios. Ele, virginiano, não aguentava o acúmulo de ciúmes para explodir, mas tinha uma memória ímpar e quando ela vinha com o seu depósito de historinhas, ele trazia as suas e mais um milhão de argumentos plausíveis.
Dois cabeçudos. Ele sempre queria ter razão. Ela também. Terminaram por incompatibilidade de pensamentos. Ela disse que nunca mais queria vê-lo, fê-lo chorar ao telefone, trocou de número, o chamou de maluco, disse que amava outro mesmo que não fosse verdade. Ele se irritava, chorava, gritava, mas sempre terminava as conversas dizendo o quanto a amava.
Passaram mais um tempinho separados, ela escreveu algumas histórias, ele também. Ela entrou na faculdade, ele abriu um negócio; ela estagiava ganhando pouco, ele trabalhava até aos domingos para ter condições de dar um futuro digno à ela e para cumprir a promessa do lustre e do piano no meio da sala, mamãe só casava assim, o amava muito, mas queria o bendito lustre sobre o piano. Papai nunca negou nada, sempre fez todas as vontades dela e deu.
Os dois agora estão ali, em plena manhã de domingo, brigando mais uma vez, não mais por ciúmes; quanto a isso eles já conseguiram se entender, mas porque o papai não abriu as cortinas da sala, tá com as luzes do lustre ligadas e colocou um copo de água gelada em cima do piano. Enquanto ela abre as cortinas, ele fica imitando-a gesticulando com a boca pra me fazer sorrir.
Olha agora, ele levantou, deu um beijo e um abraço nela e pronto, lá está ela com aquele olhar apaixonado mais uma vez, já, já ela senta ao lado dele pra que ele a ensine a tocar alguma coisa, é sempre assim. Eles adoram brigar de vez em quando, mas é sempre de mentirinha. Eles já confessaram: um não consegue viver sem o outro, são felizes assim, então, que sigam...

                                                                        Fonte Imagem: http://eternessencias.blogspot.com

5 de maio de 2012

Olhos da modernidade


É moderno olhar para o céu e não conseguir enxergar as nuvens cobertas de fumaça ou escondidas pelos arranha-céus. Será que só arranha? Ao baixar a vista não se vê o outro, se vê o concorrente. Ao olhar para a esquerda nota-se o ladrão, à direita o senado. Em um jogo de sentidos, meninos cheiram para deixar de sentir e sentem o que não deveriam, dependem de tudo, dependem de todos.
A inteligência, muitas vezes, reduzida a pão, seres humanos reduzidos a grão. Conteúdo no lixo ou em liquidação. Muita informação para poucos, muitos para a prisão. A base de tudo é a educação. Inclusão tardia de um processo falho que nunca tem evolução. Dinheiro de todos para poucos, pouco dinheiro para todos. Há quem viva bem assim, mas há quem morra bem assim.
Prédios de luxo à beira de canais são modernos, é moderno. Hospital de luxo à beira de um canal é moderno, é moderno. Casebres à beira de um canal são a falta de estrutura, é atraso. A minoria convence a maioria. Caos, mas moderno. Multinacionais, fábricas e shoppings. Fome, lixo e miseráveis. Moderno ao que dá e quando dá.
Enquanto uns dormem, outros se prostituem. Enquanto alguns comem, outros se viciam para não sentir dor. Mercados com vista para a Baía, ao lado de espaços públicos suntuosos. Públicos mesmo? Crianças trabalhando e adultos roubando no poder. Que exemplo! João trabalha, Maria trabalha e o “pivete” leva o dinheiro da luz, da água, da escola das crianças, da janta...
O sorriso não é só simpático, o estranho não é inofensivo, o vizinho não senta à porta. O tempo agora é curto, tem TV, tem novela, jornal e futebol, tá bom assim. Tem internet, tem exposição, tem pornografia, tem roubo, tem propaganda, tem entretenimento, tem mundo. É moderno!


Fonte Imagem: http://www.downloadswallpapers.com/papel-de-parede/3d-olhos-de-guerreira-4390.htm

26 de abril de 2012

Marley


       Obrigada pela alegria que me davas todas as manhãs, pelo rabinho que abanavas a cada chegada minha ao portão, pelo teu jeito único de me proteger, pelos beijinhos de focinho sempre que eu me encostava na janela, pelas travessuras, pelas brincadeiras, pelas minhas roupas que rasgastes, pelo banho que eu tomava ao te dar banho, pelo livro de Psicologia da biblioteca da faculdade que você rasgou, pelos sustos que me davas quando, sem querer, te soltavas e ia pra cima das visitas.
        Obrigada pelo denguinho que fazias quando deitavas ao chão, pelas poses engraçadas que fazias quando dormias, as quais me renderam alguns longos risos; pela carinha engraçada em frente ao ventilador, pelas comidas que eu sempre tinha que dividir por não resistir ao olhar “pidão” mais lindo do mundo; por todas as torradas que eu te dei no café da manhã, pelo teu jeitinho único de pedir carinho.
      Obrigada por se esconder quando sabia que tinha feito alguma coisa errada, por ser verdadeiro sempre, por brincar de morder, mas nunca o fazer de verdade; por ter me transformado, por te me amado sem pretender algo em troca e sempre que, por muitas vezes, eu nem fiz por merecer. Obrigada por não ter levado em conta as vezes em que eu passei por ti sem te fazer um carinho e as vezes em que falhei como “mãe”.
      O nome foi escolhido pelo livro e pelo filme porque eu esperava que ficasses ao meu lado por muito tempo, mas, infelizmente, nem sempre tudo sai como planejamos. Só quero te agradecer por todos os momentos de alegria que me destes, por todo o choro que consolaste, por cada demonstração de afeto a teu modo, eu te queria aqui, agora, pra poder te chamar de “pretinho” de novo, mas ainda bem que existem as lembranças, assim eu posso te ter em mim sempre que a saudade vier me procurar.

Te amo, que Deus te abençoe. Descanse em paz.

Marley nasceu no dia 10 de julho de 2010, faleceu hoje (26.04.2012), pela manhã, após uma parada cardíaca e de uma semana sob medicamentos fortes, antibióticos e visitas diárias à clínica veterinária. Foi um cão exemplar, que me fez saber um pouco do que é a doação no amor. Talvez ele tenha passado por mim para me deixar essa e outras grandes lições e me provou que, se quisermos, pode-se transformar o mundo através do amor.

"Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo" (O Pequeno Príncipe)

22 de abril de 2012

Sobre a primavera


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fonte imagem: wehearit.com/entry/27197684

Não, não é isso, vem cá, senta aqui. Não me deixa esquecer o gosto que tem o teu beijo. Não me deixa esquecer o quanto é bom te ouvir pela manhã com voz de sono, te ouvir contando as peripécias do dia antes de dormir ou naquela hora inopinada que faz meu coração acelerar só de ouvir você dizer que me ama.
Não deixa que a distância seja o motivo pra que eu esqueça a pressão do teu toque, do calor da tua pele, daquele cheirinho de chocolate dos teus cabelos, da cor e brilho dos teus olhos. Teus olhos, labirintos gigantescos nos quais eu me perco sem reclamar, me perco com gosto sem desespero, com apreço. Apreço de quem vê o reflexo do ser que ama no ser amado ou vice-versa.
Não prende ou corta as minhas asas. Não imagina bobagens. Rega essa semente que plantaste e faz brotar essa árvore de amor que prometeste. Não me rotula, me deixa te amar do meu jeito, independente do nome que quiserem me dar, independente do que eu for, me deixa te amar como eu sei te amar e não como se deve amar a namorada, a noiva, a esposa; me deixa te amar, simplesmente.
Deixa-me morar dentro de ti devagarinho, sem pressa, porque não há de se ter pressa quando tem uma vida inteira pela frente e não há graça maior do que saber que se foi amado por alguém até o fim dos seus dias, portanto, se eu for daqui a pouco, amanhã ou daqui a cem anos, o meu ser verdadeiramente amado foste tu, somente tu.
Não me deixa pensar que queres condicionar minha felicidade à tua, não me faz entender que queres moldar meu sentimento. Eu quero dizer que te amo porque sinto vontade e não porque à primavera convém. Afinal, sempre convém ouvir um ‘eu te amo’ quando se tem certeza de que ele veio do coração naquele exato momento e escapou pela boca ao mesmo instante, sem previsibilidades. Danem-se as estações! Quero te amar nas manhãs de outono e, principalmente, nas noites do inverno mais frio. Quero colher as flores primaveris e te molhar no verão.
Não me larga, mas não me prende demais a ponto de me sufocar, me guarda com carinho dentro de uma caixinha, como uma sementinha, e regue diariamente, cuidadosamente e delicadamente, para que devagar eu floresça. Não deixe que eu enxergue outros sorrisos que me façam esquecer, mais uma vez, de que tu és o que eu encontrei de mais precioso e que tudo o que vem de ti é o que a vida me reservou de melhor. Eu estou e quero continuar aqui, não me deixa partir de novo, porque a cada volta, eu volto menos.
Temos e somos o que muitos queriam, o que todos anseiam. Temos o maior amor do mundo, aquele incondicional, absoluto, infinito e eterno. Somos únicos, insolúveis, inseparáveis, somos um. Temos suspiro, entrelaçar, troca, felicidade. Somos o agora, não mais o depois, já fomos o passado, hoje somos o presente e, imediatamente, o futuro.  Temos e somos. Temos o que somos. Somos o que temos. 

14 de abril de 2012

Em um dia de chuva (Quando?)

Certo dia, caminhando por uma avenida vi despencar do céu um coração ferido, olhei para o alto e, entre os arranha-céus, vi uma jovem moça que respirava ofegante e feliz por ter atirado o seu coração ao chão. Assustei-me com aquilo. Em seguida, outros corações foram lançados em direção à terra cada um mais dilacerado e machucado que o outro, não entendia o porque de todos decidirem fazer aquilo.
Uma senhora que passara naquele instante parou ao meu lado e passou a observar tudo aquilo comigo. Com a voz embargada, a indaguei acerca da razão de todas aquelas pessoas, sem distinções de credos, etnias ou sexo estarem a lançar seus corações de forma tão brutal e não se importarem de como suas vidas seriam sem eles, recebi a resposta que me fez entender que aquilo só acabaria...
 Quando as pessoas entendessem que a felicidade não está condicionada a permanência de alguém em suas vidas, muito menos ao amor que elas oferecem à outras pessoas e sim, quando entendessem que o amor é que algo que se dá de graça e como pagamento ou troca recebe-se apenas a sensação de se estar fazendo o bem. Apenas.
Quando elas conseguirem enxergar isso, perceberão que a vida é muito mais do que alguém para beijar, estar junto ou abraçar e que o amor não acaba nunca porque deve ser manifestado todos os dias a todas as pessoas e não à uma somente. Elas ainda não entenderam que quando um grande amor se vai, é sempre tempo de arranjar um milhão de outros grandes amores que a façam seguir em frente, viver intensamente e não chorar.
Hoje, ter um coração incomoda, porque todos estão presos e se prendem a um ser tão incerto quanto o inseguro e esquecem de que quando aceitamos andar nessa corda bamba temos que estar prontos para nos levantarmos caso o vento bata do lado oposto e nos derrube. Hoje, elas lançam seus corações ao chão porque se julgam incapazes de amar mais de uma vez, esquecem de se permitir e, muitas vezes, machucam outros corações por covardia.
Quando isso vai parar? Ah, isso só você pode responder.

Fonte Imagem: placeboseaboboras.blogspot.com

Quando?

7 de abril de 2012

Pode ser

       Começa com uma lembrança, depois vai delineando um sorriso bobo seguido de uma lágrima que sorrateiramente cai entre os dedos cruzados das mãos e termina com uma dor e um aperto no peito. Essa tal saudade embriaga, emudece, transforma. Saudade de quê? Saudade de quem?
           Essa saudade pode ser de um livro de heróis, mocinhas, vilões, bruxas, fadas, príncipes e princesas que um dia eu li e acreditei que poderia encontrar na esquina da minha rua. Pode ser das histórias de Fada do Dente a Coelhinho da Páscoa que um dia ouvi. Pode ser das noites em que passei em claro esperando o Papai  Noel deixar o meu presente ou das surpresas que eu tinha quando ele conseguia deixá-lo sem que fosse visto, ou será que são dos anões que eu acreditei terem feito o laço do meu embrulho?
          Essa saudade pode ser daquela música que eu ouvia repetidas vezes sem cansar e em cada uma delas eu descobria um novo jeito de entender suas entrelinhas. Pode ser daquela que me fez dançar, daquela que me fez chorar, daquela que era tocada só para mim, daquela que me fez sorrir, daquela que virou trilha sonora do meu romance, daquela que me transportava a outro estado, daquela que me levava aos braços de Morfeu, ou até daquela que me fez entortar os lábios. 
        Essa saudade pode ser do tempo, do vento, do mar, dos atrasos, dos passeios, das pegadas na areia, da alegria, do calor ou do frio, das flores, das cartas, dos perfumes, dos filmes, do colo, dos anseios, das precipitações, dos sonhos, dos planos, das pinturas, dos desenhos, das fotos, das cores, do piano, da vida.
          Essa saudade pode ser do vazio, pode ser daqueles dias, pode ser daquelas noites em que eu estava completa, pode ser do banho de chuva, pode ser do carinho, pode ser da inocência, pode ser do afago, do cafuné, da voz que me acompanhava, pode ser das piadas, dos  sarcasmos, da poeira, do suor, pode ser das luzes, pode ser do breu, pode ser do mato, da estrada, dos olhos dele. 
          Essa saudade pode ser das pessoas que tive e hoje não tenho, das pessoas que via e não vejo, das que me ouviam e não ouvem, das que eu ouvia e não ouço, das que eu abraçava e não abraço, das que eu beijava e não beijo, das que me consolavam e não consolam, das que me olhavam e não olham, das que me admiravam e não admiram, das que me amaram e não amam. Essa tal saudade pode ser do que fui e deixei de ser...

30 de março de 2012

Gole


                                 Imagem: floraisdebaco.blogspot.com
 Oito taças de vinho. Se eu ainda souber contar, acho que foi isso que bebi antes de escrever isso aqui. Eu não aguento mais, preciso dizer que rasgaste meu peito. Meu coração, hoje, é uma ferida aberta pulsante, dilacerada a cada vez que beijo outra pessoa na tentativa de te esquecer. Não cicatriza, não sei mais o que fazer. Essa agonia insana não passa, não para, só dói e me corrói, aos poucos, sem dó. Volta aqui, preciso de ti.
 Sete taças de vinho. E minhas companhias dessa noite são cartas amareladas espalhadas pelo chão junto às pétalas marrons de uma rosa que um dia foi vermelha. Talvez ela seja como o amor, talvez por isso o vermelho represente a paixão, o rubro forte, intenso, mas de beleza tão sutil e delicada.
Seis taças de vinho. É, o amor é como uma rosa vermelha nova, cheirosa, marcante, mas que com o tempo, por mais que ela seja cuidada, fora da roseira ela murcha, escurece, perde a proteção de seus espinhos e aos poucos vai morrendo até que fica sem cor, despedaçada entre meus dedos.
Cinco taças de vinho. Eu sempre quis a segurança de um colo tranqüilo, a companhia sem culpa, o fogo insaciável de um amor como o teu. Eu sempre quis a vergonha de ser sem vergonha pra tudo, pro mundo, em busca de alguém que pudesse me fazer rir de qualquer coisa sem graça, que me fizesse ver cor em fotos em preto e branco e que me fizesse sorrir ao ser lembrado por mim.
Quatro taças de vinho. Já sentei no sofá, os pés estão descalços e eu sempre quis a sede de ter a certeza de te ter aqui assim, pra sempre, mas de tão boba te troquei por sonhos vagos de um castelo de palavras sem semântica, sem importância, que só queriam me tirar de ti, que só queriam te tirar daqui.
Três taças de vinho. A música que está tocando na rádio é a nossa, nem sei porque isso, ela já está velha demais, pensei que ela só estivesse na minha playlist. Quer saber? Eu tô feliz. É, feliz porque tens vivido dias intensos, porque não sentes falta do meu abraço, do meu beijo, do meu quarto. Fico feliz por saber que usas as mesmas frases e por saber que pretendes continuar o meu plano para o nosso futuro.
Duas taças de vinho. Eu tô chorando, não sei porque, não há razão pra isso, eu tô feliz, lembra? Recebi um telefonema, dele, lógico. Ele me disse frases lindas de amor, falou da saudade dos meus beijos e da minha companhia. Falou do que vai fazer quando nos encontrarmos de novo, falou de... Planos. Tá, chorei porque não estava nos planos que os planos tinham de ser planejados com ele. Sim, fui redundante, e aí?
Uma taça de vinho. Cheguei em casa cansada, tive um dia cheio no trabalho, não tive tempo pra quase nada, mas adorei o buquê de flores que recebi, o jantar foi lindo. Passei em casa só pra tomar um banho e colocar um vestido. Me senti uma princesa, mas de tão nobre eu esqueci de agradecer o buquê, mas não importa, ele sempre liga.
Nenhuma taça de vinho. Tô bem e feliz, nunca me senti assim antes, alguém aqui ta me fazendo maravilhosamente bem e me completando de forma grandiosa, e eu correspondo da mesma forma. É amor, eu acredito, daqueles que só se vê igual em filmes e novelas, daqueles de contos de fadas com sérias probabilidades de final feliz, hein! Não, não estou mentindo, mas que tal beber uma taça de vinho?

25 de março de 2012

Boa noite

Oi, CORAÇÃO, voltei. Precisava te dizer algumas palavras antes de dormir. Não se preocupe, meu coração mesmo distante lembrará de você e só não morrerá de saudades porque tem que estar bem vivo para recordar o melhor momento que a vida lhe ofereceu: a graça de ser só teu. Obrigado por ter me feito sentir assim, por ter subido nessa nuvem e ter aceitado voar COMIGO.
Vive bem cada dia, ainda tens a vida inteira pra ser feliz. No que depender de mim, vai ser pra sempre porque voltar pra você é como voltar pra casa e, passar os dias contando os segundos pra te ver diminui minha saudade e aumenta o meu AMOR. Não tenha medo de gritar que és minha, porque eu gritei ao mundo que fui teu, teu e teu.
E quando estivermos juntos novamente, eu te abraçarei nas noites antes de dormir, te falarei do meu dia, te ouvirei falar do seu e, por fim, falarei mais uma vez do meu amor. Não ligue para as LUZES, elas não te perseguirão. Olha para mim e eu te protegerei, nos meus braços teu corpo estará seguro, no meu coração guardarei o teu SORRISO e nos meus olhos enxergarás em letras de fôrma o meu sentimento.
Não me pergunte se eu vou demorar a voltar pra você, afinal, quando foi que estive distante do teu coração? CRESCEMOS juntos e dessa vez vamos longe, o que nos espera é lindo. Cresci, crescemos, mas perto de ti eu fui uma criança, você me fez pensar, me fez sonhar, me fez até ser um careta sem reclamar.
A certeza de que eu fui amado, tudo me mostrou que eu teria um futuro aberto pra mim e o melhor é que eu vivi esse futuro com uma pessoa muito especial, meu PINGO DE OURO, meu diamante, esse sentimento me fez sentir completo, pleno e ao teu lado vivi os melhores dias da minha vida e em todos tive o teu dedinho, tudo o que eu fiz teve a tua participação porque foste a minha vida.
Graças a ti, eu vivi na forma mais pura de amor. Amor, és TUDO o que eu preciso e eu quero caminhar de mãos dadas contigo para SEMPRE...Coração, não me abandona nunca, viu? Mesmo se quiseres um dia. Eu NUNCA tive tanta certeza de que estava no caminho certo.
Dorme agora e não perde nenhum segundo de nós em teus sonhos porque eu TE AMO, em qualquer lugar, em qualquer tempo, em todos os sonhos, a cada sorriso. Enquanto isso, eu fico aqui à espera de que o dia do nosso encontro chegue e eu possa novamente te ver sorrir, te abraçar e NUNCA mais partir. Te amo. Boa noite.  


22 de março de 2012

Sem memória

A última vez que estive ali fora há uns quarenta anos e uns trocados. Não foi de propósito que me sucedeu estar ali novamente. Sem querer, ou por ironia do destino, meu carro quebrou em frente àquela casa amarela, de pátio e varanda, sem cão de guarda e com uma cadeira de balanço na entrada.
Chamou-me atenção o número da casa, exposto em grandes fôrmas douradas, organizados sutilmente de forma transversal ao lado de um caixa de correios discreta e graciosa, que por alguns instantes remeteu a algo da minha infância, entretanto, o pensamento logo se esvaiu quando, à minha frente, surgiu um senhor oferecendo auxílio. Ele não aparentava ser muito velho, pelo menos não tanto quanto eu, mas já somava algumas boas primaveras.
Batendo à casa da frente, o homem pediu à jovem vizinha da casa amarela a caixa de ferramentas do marido. Ao entregá-las a ele, a moça de coração nobre me pediu para entrar e esperar enquanto o vizinho prestativo verificava e tentava consertar os danos do meu veículo.
Pollyana, era o nome dela, a moça da casa amarela, que me contou sobre sua vida, seus planos e contou a história daquela casa, só então percebi que a sala não estava igual, o teto agora era delineado a gesso. Pedi para que ela me apresentasse os outros cômodos e cuidadosamente ela me conduziu até o quarto do bebê que estava a caminho, não havia mais aquele ventilador de teto velho e barulhento, a cor do quarto agora era azul.
O quarto dela era de uma nuança rosé suave e com um banheiro amplo e claro, já não havia mais cortinas ou ladrilhos, era todo arrematado em mármore, espelhos e granito. O banheiro das visitas estava maior, o quarto de minha irmã agora era uma suíte para os hóspedes e a cozinha que minha mãe desenhou, fora substituída por outra planejada e modulada.
Na varanda, algumas peças de roupas estendidas no varal, tal qual antigamente aos sábados e domingos. No muro, os cacos de vidro foram substituídos por uma cerca elétrica e nas laterais da casa câmeras que substituíram aquele que pulava sobre mim sempre que eu abria o portão. Portão? Hoje ele não precisa de cadeados e chaves, ele é elétrico e carece apenas de um controle que cabe entre os dedos ou esconde-se na palma das mãos.
O vizinho tocou a campainha, não necessitava mais das palmas. Pollyana foi atendê-lo enquanto eu admirava o jardim de inverno que ela havia feito em uma das laterais da casa. Poucos minutos depois, veio me buscar, meu carro estava pronto. Passei pela porta da sala que, agora se abria em folhas; dei a última olhada pela lateral, na esperança de ver o meu melhor amigo vir correndo ao meu encontro, mas nada aconteceu.
Pollyana me abraçou e se despediu, fechou a porta. Olhei novamente e atentamente ao número da casa. Sorri, chorei, sorri. Agradeci ao vizinho prestativo pelo conserto do carro e voltei para a minha cadeira de balanço. Tomei alguns remédios e voltei a olhar para a janela e lembrar a minha juventude... Já contei a história do parque?


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