7 de abril de 2012

Pode ser

       Começa com uma lembrança, depois vai delineando um sorriso bobo seguido de uma lágrima que sorrateiramente cai entre os dedos cruzados das mãos e termina com uma dor e um aperto no peito. Essa tal saudade embriaga, emudece, transforma. Saudade de quê? Saudade de quem?
           Essa saudade pode ser de um livro de heróis, mocinhas, vilões, bruxas, fadas, príncipes e princesas que um dia eu li e acreditei que poderia encontrar na esquina da minha rua. Pode ser das histórias de Fada do Dente a Coelhinho da Páscoa que um dia ouvi. Pode ser das noites em que passei em claro esperando o Papai  Noel deixar o meu presente ou das surpresas que eu tinha quando ele conseguia deixá-lo sem que fosse visto, ou será que são dos anões que eu acreditei terem feito o laço do meu embrulho?
          Essa saudade pode ser daquela música que eu ouvia repetidas vezes sem cansar e em cada uma delas eu descobria um novo jeito de entender suas entrelinhas. Pode ser daquela que me fez dançar, daquela que me fez chorar, daquela que era tocada só para mim, daquela que me fez sorrir, daquela que virou trilha sonora do meu romance, daquela que me transportava a outro estado, daquela que me levava aos braços de Morfeu, ou até daquela que me fez entortar os lábios. 
        Essa saudade pode ser do tempo, do vento, do mar, dos atrasos, dos passeios, das pegadas na areia, da alegria, do calor ou do frio, das flores, das cartas, dos perfumes, dos filmes, do colo, dos anseios, das precipitações, dos sonhos, dos planos, das pinturas, dos desenhos, das fotos, das cores, do piano, da vida.
          Essa saudade pode ser do vazio, pode ser daqueles dias, pode ser daquelas noites em que eu estava completa, pode ser do banho de chuva, pode ser do carinho, pode ser da inocência, pode ser do afago, do cafuné, da voz que me acompanhava, pode ser das piadas, dos  sarcasmos, da poeira, do suor, pode ser das luzes, pode ser do breu, pode ser do mato, da estrada, dos olhos dele. 
          Essa saudade pode ser das pessoas que tive e hoje não tenho, das pessoas que via e não vejo, das que me ouviam e não ouvem, das que eu ouvia e não ouço, das que eu abraçava e não abraço, das que eu beijava e não beijo, das que me consolavam e não consolam, das que me olhavam e não olham, das que me admiravam e não admiram, das que me amaram e não amam. Essa tal saudade pode ser do que fui e deixei de ser...

2 comentários:

  1. Essa tal saudade machuca.
    Essa tal saudade expressa aqui é linda.

    Um bom final de semana.

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  2. Essa saudade eterna de coisas diferentes.

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