26 de setembro de 2011

Relógio Adiantado


O despertador tocou às seis da manhã. Levantou-se com as palmadas da mãe e com a luz do sol na cara depois que as cortinas foram abertas. Permaneceu 15 minutos no banho. A água estava fria demais. Passou a mão no uniforme que estava sobre a poltrona do quarto. Calçou os sapatos. Pegou a mochila. Desceu as escadas. Foi à cozinha. Beijou a mãe. Não tomou o café da manhã. Estava atrasado. Pegou o ônibus pensando nas fórmulas da prova de física ao mesmo tempo em que ia estudando para a prova de Literatura do dia seguinte. Tinha 17 anos, estava estudando para o vestibular. Almejava o curso de Administração de Empresas. O despertador tocou às seis da manhã. Levantou-se rapidamente. Permaneceu 15 minutos no banho. Passou a mão na camiseta que estava sobre a poltrona do quarto. Vestiu uma calça jeans. Calçou os sapatos. Pegou a mochila. Desceu as escadas. Foi à cozinha. Beijou a mãe. Não tomou o café da manhã. Estava atrasado. Pegou o ônibus pensando no seminário que iria apresentar ao mesmo tempo em que estudava algumas pesquisas para o Trabalho de Conclusão de Curso. Tinha 21 anos, estava concluindo o curso de Administração de Empresas. O despertador tocou às seis da manhã. Levantou-se rapidamente. Permaneceu 15 minutos no banho. Passou a mão na gravata que estava sobre a poltrona do quarto. Vestiu o terno escuro. Calçou os sapatos. Desceu as escadas. Foi à cozinha. Beijou a esposa. Não tomou o café da manhã. Estava atrasado. Ligou o carro pensando na reunião ao mesmo tempo em que pensava em seu discurso perante o novo chefe. Tinha 32 anos, estava recém-casado e acabara de ser promovido na empresa em que atuava. O despertador tocou às seis da manhã. Levantou-se rapidamente. Permaneceu 15 minutos no banho. Passou a mão na gravata que estava sobre a poltrona do quarto. Vestiu o terno escuro. Calçou os sapatos. Desceu as escadas. Foi à cozinha. Beijou a esposa e o filho. Não tomou o café da manhã. Estava atrasado. Não podia levar o filho à escola. Ligou o carro pensando na desculpa de iria dar para a ausência na festinha do dia dos pais e na viagem que faria no mesmo dia a negócios. Tinha 40 anos e era vice-presidente de uma das maiores redes de logística do país. O despertador tocou às seis da manhã. Levantou-se rapidamente. Permaneceu 15 minutos no banho. Passou a mão na gravata que estava sobre a poltrona do quarto. Vestiu o terno escuro de linho. Calçou os sapatos. Desceu as escadas. Foi à cozinha. Beijou a esposa e o filho. Não tomou o café da manhã. Estava atrasado. Ligou o carro pensando na demissão da secretária, que esquecera de lhe avisar da reunião com os acionistas da empresa, ao mesmo tempo em que pensava na contratação de duas secretárias. Tinha 43 anos e era presidente de uma das maiores redes de logística do país... Um chamado de urgência. A sirene soou. A ambulância chegou ao local do acidente. A vítima estava morta. O carro foi esmagado após o choque com o caminhão. Segundo a família, a vítima saiu de casa atrasada para o trabalho. Carlos Fernando tinha 43 anos e era presidente de uma das maiores redes de logística do país. Foi morto em um acidente, após o avanço do sinal vermelho. Fim.

1 de setembro de 2011

Dias de Setembro

Sozinha, é assim que eu me sinto. Não é que não existam amigos, eles estão sempre por perto, sempre dispostos a me ajudar ou a me ouvir, mas em uma situação dessas não existe no mundo um conselho, palavra, colo ou afago que me façam voltar à vida. Não, não estou morta, até porque se estivesse, não estaria escrevendo estas tristes linhas e nem me acho tão importante quanto Brás Cubas.

Mataram-me há tempos, foi uma morte lenta, progressiva e dolorosa. Não foi uma morte do corpo, e sim da alma. Aos poucos foram destruindo os meus sonhos, minhas fantasias, minhas brincadeiras, meus sentimentos. Minha alma foi secando, ao passo que meu corpo desfalecia hora ou outra sem saber.

É meio complicado entender, no momento, nem eu sei explicar o que eu sinto. Nem sei ao menos se sonhei ou tive um pesadelo. Pesadelos, normalmente são assim: começam em um lugar lindo e depois te levam ao abismo, ao escuro e ao desconhecido. Ou então, te fazem tão pequeno em meio a gigantes, te tiram as forças, você nunca consegue lutar e então quando o seu fim se aproxima, e é chegada a hora de seu último suspiro, você acorda assustado, com o coração palpitante.

Palpitar. Palpitações como essas eu senti quando me apaixonei. Não sei qual é mais forte se é a do pesadelo ou a do amor. Não sei se estou feliz ou triste, não sei o que sinto, senti ou sentirei. Talvez eu ainda esteja em choque, ou isso não tenha me afetado em nada. Um dia talvez eu nem lembre disso, ou quem sabe, lembrarei para o resto da vida. Isso foi pesadelo ou sonho?

Um dia eu deixo para trás. O que eu mais quero agora é estar só, pois eu me sinto só, tem dias que eu sinto que o mundo não tem lugar pra mim ou vice-versa e que o melhor é fugir, viajar para os meus pensamentos e não voltar até que eu tenha certeza de que passou. Agora, eu só quero que não me entendam mesmo, eu quero andar descalça, pisar na areia, assistir a um belo pôr-do-sol, sentir o vento tocar a pele e esquecer o tempo, pelo menos até as cinco, porque amanhã preciso acordar cedo, amanhã tem uma vida pra eu viver. Boa noite, me acorde quando Setembro acabar.



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