4 de outubro de 2010

Não ao mar...

Eu apenas observava os dois. Ela era completamente apaixonada pelo mar, e isso não era segredo para ninguém, todo o início de tarde ela ia visitá-lo. Quando estava triste, ela sempre caminhava em direção a ele, era como se de certa forma ele lhe consolasse, e quando ela estava feliz, as ondas agitadas pareciam estar em comemoração, e isso a deixava cada vez mais extasiada.

Eles estavam cada vez mais próximos, ela sentava na areia só pra ficar perto dele, e o admirava por horas a fio, ele por sua vez, fazia com que as ondas lhe beijassem os pés, lhe presenteava com conchinhas e estrelas-do-mar, ela sorria e seu pensamento sempre parecia flutuar. Naqueles momentos não existiam palavras, o mundo era mero detalhe, a perfeição maior estava contida nos olhos e no coração.

Não existia mais nada que os separasse, perto dele ela se sentia segura, ele havia se tornado o seu companheiro mais fiel, nunca a deixava sozinha, pouco importava se ela estava de jeans e camiseta, de vestido ou de shortinho, ele sempre lhe beijava os pés.

Como estava cada vez mais encantada, achava que sempre havia de estar mais próxima a ele, até o dia em que resolveu abraçá-lo, ela se despiu, pois queria sentir no corpo inteiro os beijos que ele lhe dava, e foi ao encontro de seu amado.O mar estava agitado, e aos poucos era como se ela e ele fossem um só, as ondas a cobriam e descobriam, como em um jogo de esconde-esconde, ela parecia gostar daquilo, sorria como uma criança, acompanhava o vai e vem das ondas, fechava os olhos, não sentia o tempo passar, a magia daquele momento parecia que jamais teria fim, sonhava.

O mar se acalmou, ela perdida em extremo fascínio, não percebeu o momento em que ele deixou de tocar seus ombros, as ondas em fúria viraram marolas, devagar ela se deu conta de que o vento soprava sobre o seu corpo despido, ela sentiu o frio que a noite carrega consigo,olhou para o horizonte e não mais viu o sol, o céu estava negro como os seus olhos e o mar já não lhe abraçava como antes, ela não conseguia mais vê-lo, apenas o ouvia, e o sentia tão distante que ao dar um passo para tentar encontrá-lo, sentiu um ardor terrível nos pés e tropeçou, caiu sobre pedras que machucaram seu corpo inteiro, clamou pelo mar e ele não veio ao seu socorro, ela sentia frio, medo, insegurança e dor.

Entre uma queda e outra, ela conseguiu chegar a um lugar menos perigoso, sem pedras, mas naquela escuridão era impossível achar suas roupas e voltar pra casa, melhor seria ficar por ali e esperar o amanhecer, acabou adormecendo.Acordou, coincidentemente perto de suas vestes, com beijos que não eram desconhecidos. Era o mar, parecia que ele pedia desculpas por tê-la magoado, ele estava mais lindo do que nunca, o sol o iluminava de forma tão bela que o seu azul parecia mais brilhante, ela o olhou e não mais sorriu.

Dessa vez, chorou. Chorou porque acreditou e confiou nele, achava que ele a protegeria e estaria ao seu lado como sempre estivera, mas nem os melhores beijos e beleza do mar foram capazes de curá-la naquele momento das dores que sentia e do sangue que a revestia. Ela sentiu no peito um sabor amargo, a solidão lhe invadia a alma e seu coração naquele momento sangrava mais que o seu corpo...Ela se foi, com aparência de quem não voltará jamais.

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