26 de abril de 2011

Meu erro!

A vida é regida por tantos porquês que, na verdade, por mais experiências que ela nos dê, sempre é concedido mais espaço para mais perguntas e, a maioria delas, mesmo que o tempo passe, não conseguimos responder de forma satisfatória. Sempre me pego pensando na razão de certas coisas acontecerem, e minha última fuga, foi para tentar entender o porquê das pessoas aparecerem em nossas vidas, permanecerem nela até se tornarem essenciais e importantes, e depois saírem, sem dar explicações, ou usando as justificativas mais bobas e inacreditáveis do mundo.

Eu sempre me esforcei para ser boa em tudo o que fazia e, se eu podia ser boa, porque não tentar ser a melhor? A melhor filha, a melhor amiga, a melhor companhia... E então, aparece alguém que te faz querer ser melhor, você arrisca, brinca, joga e faz tudo o que pode para fazer o outro feliz, para ver um sorriso estampado na cara a todo o instante e um brilho distinto nos olhos.  De repente, sem mais nem menos, esse alguém decide se afastar, depois de dividirem tantas coisas juntos, risos, choros, aprendizados e chega a hora de dizer adeus.

O que demora a ser compreendido, pelo menos por mim, é que, partindo do pressuposto que, qualquer relacionamento é construído por duas pessoas, no mínimo, e que decisões como essas, deveriam partir de um denominador comum e não ser iniciativa de um dos lados. Pergunta-se, mais uma vez: onde está o erro, em mim, em você, nele? Quem responde?

O significado dos erros eu já entendi, aprendi que nós somos como pedras brutas, precisamos de lapidações ao longo de uma trajetória, e os erros são as ferramentas que vida utiliza, para que nós sejamos, em essência, lapidados em todos os sentidos e a todo o instante. A vida não teria graça se não houvesse um errinho aqui e outro alí, mas um afastamento repentino e sem justificativa pra mim, é fuga. Fugir do quê, eu ainda não sei, mas acho que essa é só mais uma pergunta que vai ficar sem resposta ou que o tempo se encarregará de responder.

É nessas horas em que eu sinto falta da minha infância, em que desfazer algumas amizades era bem mais fácil que hoje, eu estabelecia laços bem menos firmes e me envolvia bem menos com as pessoas, meus amigos estavam ao meu lado para dividir comigo sempre, e não tinham problemas tão graves para resolver, não se afastavam de forma tão drástica, e eu posso até estar parecendo uma menina mimada, mas admito que se isso acontecesse há quinze anos atrás, eu não discorreria em uma linha sequer, era um caminho seguro.

O pior e mais doloroso sentimento, nasce quando a causa de decepção parte daquelas pessoas que jamais imaginaríamos que nos machucariam, daquelas pessoas que olhávamos nos olhos e pensávamos: "Essa pessoa, nunca vai me machucar, nunca vai me ferir..." e de repente, elas te dão as costas. Família, é família e nunca vai deixar de ser,  um dia tudo volta ao eixo. Quanto aos amigos, às vezes por mais que achemos que os conhecemos bem, ainda é possível se surpreender com eles, mas se achamos que eles valem a pena, nos resta esperar até que eles se dêem conta e voltem para dizer, ao menos: "Desculpe, o erro foi meu."

10 de abril de 2011

Só por uma noite

imagem olho no olho

Eu sabia a hora certa de jogar charme, o jeito certo de olhar, o perfume apropriado a ser sentido, o cheiro da dama da noite exalava por onde eu passava, sabia estar na posição exata, as partes a serem tocadas e pelo jeito de me olhar, sabia que fantasia seria capaz de satisfazê-lo.

Eles buscavam no meu corpo uma fuga de todo o estresse do trabalho, dos filhos adolescentes, das mulheres que viviam preocupadas em estar no salão para ficarem belas e mostrarem às amigas as novas tendências de moda, o novo tom de esmalte, a nova técnica de alisamento, ou então, esquecer o casamento forçado, sem amor, sem carinho, sem cor, mantido por aparências sociais ou por necessidade de não estar só.

Eles não precisavam procurar por mim, eu os reconhecia. Com o tempo eu comecei a percebê-los pelo olhar revelador do desespero uma saída, uma noite de diversão. Eram olhares cansados, mas com fogo e desejo por um, dois, três corpos que lhes dessem prazer, felicidade instantânea, efêmera, mas inesquecível, pelo menos até os dez, vinte minutos seguintes até chegarem às suas casas e recomeçarem o ciclo.

O meu papel era satisfazer as fantasias da entrega sem pudor, sem regras, sem castidades, ou condições, para eles tudo era permitido, exatamente, tudo. Estavam ali para me usar meu corpo, de curvas perfeitas ,alugado, em ação por uma, duas e até três horas sem cansar, me dava prazer satisfazê-los e fazê-los mergulhar naquele deleite até a última gota, fazê-los implorar por mais um pouco de mim, fazia-os terem sede e necessidade de mim, eu desejava que eles me desejassem.

Confesso que ,com as experiências, eu fui ficando cada vez melhor, e minha semana era sempre lotada de programas. Eu tinha um namorado ou marido, não sei, morávamos juntos, mas não éramos casados com documentos oficiais. Ele não sabia do meu trabalho, para ele, eu era enfermeira e fazia meus plantões à noite, porém, não existiam escalas ou exceções e nossos horários não eram compatíveis. Quando eu chegava em casa, depois da longa noite de trabalho, ele já estava saindo para o dele, só dava tempo de dar-lhe um beijo de despedida e entrar para dormir.


Os finais de semana eram nossos e para ele eu era a enfermeira mais linda do mundo, fazíamos muitos programas de casal, o ruim era que eu sempre encontrava alguém que já havia contratado os meus serviços, eram muitos, mas eu consigo identificá-los um a um, e eles estavam por toda a parte, cinemas, restaurantes e bares. Por mais que eu estivesse acompanhada, eles sempre davam um jeito de se aproximar sem que meu namorado percebesse. 

Eu o amava de verdade, com ele eu me sentia como uma adolescente imatura, meu coração palpitava, só por ele eu tinha um brilho indescritível nos olhos. Era com ele que eu planejava ter uma família feliz e se eu pudesse, escolheria outra profissão, mas nenhuma pagaria tão bem e em tão pouco tempo, depois que se faz clientela, o dinheiro vem alto e fácil, e se ele acreditava em mim, eu não precisava mudar.

Um dia, eu estava em casa depois de uma noite de trabalho cansativa, e o celular dele tocou incessantemente a ponto de me acordar, levantei, peguei e atendi sem falar nada, a voz do outro lado disse: “Já estou te esperando, no lugar de sempre, o número do quarto é... Venha logo!” e desligou. Meu mundo desmoronou naquele instante. Eu? Logo eu, que sempre fui acostumada a ser o objeto de desejo de homens insatisfeitos em casa, estava sendo traída?

Traição, uma palavra que jamais esperei ouvir, falar, pensar. Eu fui atrás deles, e os vi saindo daquele lugar onde eu realizava as fantasias de outros homens. Perdi as contas de quantas vezes atravessei a porta daquele motel, e do quarto em que eles estavam. Ela era uma mulher completamente diferente de mim, não tinha o corpo tão perfeito como o meu, será que ela dominava todas as minhas técnicas? Como ela conseguiu roubar de mim o prazer que só eu sabia dar a ele? Será que o olhar dela era mais sincero? Será que ela o amava mais que eu? 

Fingi que não sabia de nada, e só então pude notar a diferença dele em casa, por mais que eu tentasse agradá-lo, nada mais surtia efeito, já não sabia dominar o meu homem, e sentia que ele nem me olhava nos olhos ao me beijar, ao me tocar, e não me elogiava como antes. Um dia, ao chegar em casa, ele ainda estava com a roupa de dormir, estranhei e o perguntei se ele estava doente, ou algo do tipo, foi então que ele me fez o pedido, mas não foi o de noivado, muito menos o de casamento, foi o pedido de retirada, disse que o que existia entre nós não tinha como prosseguir e queria que eu fosse para outro lugar.

Enquanto a maioria das mulheres dos homens os quais estive, tinha um sonho de ser como eu, e eu satisfazia as fantasias de seus companheiros, esqueci de satisfazer o homem que realmente me interessava e pior que isso, foi ter esquecido de preservar o meu único desejo, que era tê-lo ao meu lado para sempre. Se eu tivesse passado mais tempo com ele... Se eu tivesse valorizado o amor que ele tinha por mim... Se eu tivesse demonstrado meu amor de outra forma... Se, se, se. A dor de ser trocada por alguém é terrível, eu tinha muitos homens, mas no fim todos voltavam às suas casas e quanto a mim? Eu permanecia em algum lugar, cansada, sozinha e completamente vazia.

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