30 de março de 2012

Gole


                                 Imagem: floraisdebaco.blogspot.com
 Oito taças de vinho. Se eu ainda souber contar, acho que foi isso que bebi antes de escrever isso aqui. Eu não aguento mais, preciso dizer que rasgaste meu peito. Meu coração, hoje, é uma ferida aberta pulsante, dilacerada a cada vez que beijo outra pessoa na tentativa de te esquecer. Não cicatriza, não sei mais o que fazer. Essa agonia insana não passa, não para, só dói e me corrói, aos poucos, sem dó. Volta aqui, preciso de ti.
 Sete taças de vinho. E minhas companhias dessa noite são cartas amareladas espalhadas pelo chão junto às pétalas marrons de uma rosa que um dia foi vermelha. Talvez ela seja como o amor, talvez por isso o vermelho represente a paixão, o rubro forte, intenso, mas de beleza tão sutil e delicada.
Seis taças de vinho. É, o amor é como uma rosa vermelha nova, cheirosa, marcante, mas que com o tempo, por mais que ela seja cuidada, fora da roseira ela murcha, escurece, perde a proteção de seus espinhos e aos poucos vai morrendo até que fica sem cor, despedaçada entre meus dedos.
Cinco taças de vinho. Eu sempre quis a segurança de um colo tranqüilo, a companhia sem culpa, o fogo insaciável de um amor como o teu. Eu sempre quis a vergonha de ser sem vergonha pra tudo, pro mundo, em busca de alguém que pudesse me fazer rir de qualquer coisa sem graça, que me fizesse ver cor em fotos em preto e branco e que me fizesse sorrir ao ser lembrado por mim.
Quatro taças de vinho. Já sentei no sofá, os pés estão descalços e eu sempre quis a sede de ter a certeza de te ter aqui assim, pra sempre, mas de tão boba te troquei por sonhos vagos de um castelo de palavras sem semântica, sem importância, que só queriam me tirar de ti, que só queriam te tirar daqui.
Três taças de vinho. A música que está tocando na rádio é a nossa, nem sei porque isso, ela já está velha demais, pensei que ela só estivesse na minha playlist. Quer saber? Eu tô feliz. É, feliz porque tens vivido dias intensos, porque não sentes falta do meu abraço, do meu beijo, do meu quarto. Fico feliz por saber que usas as mesmas frases e por saber que pretendes continuar o meu plano para o nosso futuro.
Duas taças de vinho. Eu tô chorando, não sei porque, não há razão pra isso, eu tô feliz, lembra? Recebi um telefonema, dele, lógico. Ele me disse frases lindas de amor, falou da saudade dos meus beijos e da minha companhia. Falou do que vai fazer quando nos encontrarmos de novo, falou de... Planos. Tá, chorei porque não estava nos planos que os planos tinham de ser planejados com ele. Sim, fui redundante, e aí?
Uma taça de vinho. Cheguei em casa cansada, tive um dia cheio no trabalho, não tive tempo pra quase nada, mas adorei o buquê de flores que recebi, o jantar foi lindo. Passei em casa só pra tomar um banho e colocar um vestido. Me senti uma princesa, mas de tão nobre eu esqueci de agradecer o buquê, mas não importa, ele sempre liga.
Nenhuma taça de vinho. Tô bem e feliz, nunca me senti assim antes, alguém aqui ta me fazendo maravilhosamente bem e me completando de forma grandiosa, e eu correspondo da mesma forma. É amor, eu acredito, daqueles que só se vê igual em filmes e novelas, daqueles de contos de fadas com sérias probabilidades de final feliz, hein! Não, não estou mentindo, mas que tal beber uma taça de vinho?

25 de março de 2012

Boa noite

Oi, CORAÇÃO, voltei. Precisava te dizer algumas palavras antes de dormir. Não se preocupe, meu coração mesmo distante lembrará de você e só não morrerá de saudades porque tem que estar bem vivo para recordar o melhor momento que a vida lhe ofereceu: a graça de ser só teu. Obrigado por ter me feito sentir assim, por ter subido nessa nuvem e ter aceitado voar COMIGO.
Vive bem cada dia, ainda tens a vida inteira pra ser feliz. No que depender de mim, vai ser pra sempre porque voltar pra você é como voltar pra casa e, passar os dias contando os segundos pra te ver diminui minha saudade e aumenta o meu AMOR. Não tenha medo de gritar que és minha, porque eu gritei ao mundo que fui teu, teu e teu.
E quando estivermos juntos novamente, eu te abraçarei nas noites antes de dormir, te falarei do meu dia, te ouvirei falar do seu e, por fim, falarei mais uma vez do meu amor. Não ligue para as LUZES, elas não te perseguirão. Olha para mim e eu te protegerei, nos meus braços teu corpo estará seguro, no meu coração guardarei o teu SORRISO e nos meus olhos enxergarás em letras de fôrma o meu sentimento.
Não me pergunte se eu vou demorar a voltar pra você, afinal, quando foi que estive distante do teu coração? CRESCEMOS juntos e dessa vez vamos longe, o que nos espera é lindo. Cresci, crescemos, mas perto de ti eu fui uma criança, você me fez pensar, me fez sonhar, me fez até ser um careta sem reclamar.
A certeza de que eu fui amado, tudo me mostrou que eu teria um futuro aberto pra mim e o melhor é que eu vivi esse futuro com uma pessoa muito especial, meu PINGO DE OURO, meu diamante, esse sentimento me fez sentir completo, pleno e ao teu lado vivi os melhores dias da minha vida e em todos tive o teu dedinho, tudo o que eu fiz teve a tua participação porque foste a minha vida.
Graças a ti, eu vivi na forma mais pura de amor. Amor, és TUDO o que eu preciso e eu quero caminhar de mãos dadas contigo para SEMPRE...Coração, não me abandona nunca, viu? Mesmo se quiseres um dia. Eu NUNCA tive tanta certeza de que estava no caminho certo.
Dorme agora e não perde nenhum segundo de nós em teus sonhos porque eu TE AMO, em qualquer lugar, em qualquer tempo, em todos os sonhos, a cada sorriso. Enquanto isso, eu fico aqui à espera de que o dia do nosso encontro chegue e eu possa novamente te ver sorrir, te abraçar e NUNCA mais partir. Te amo. Boa noite.  


22 de março de 2012

Sem memória

A última vez que estive ali fora há uns quarenta anos e uns trocados. Não foi de propósito que me sucedeu estar ali novamente. Sem querer, ou por ironia do destino, meu carro quebrou em frente àquela casa amarela, de pátio e varanda, sem cão de guarda e com uma cadeira de balanço na entrada.
Chamou-me atenção o número da casa, exposto em grandes fôrmas douradas, organizados sutilmente de forma transversal ao lado de um caixa de correios discreta e graciosa, que por alguns instantes remeteu a algo da minha infância, entretanto, o pensamento logo se esvaiu quando, à minha frente, surgiu um senhor oferecendo auxílio. Ele não aparentava ser muito velho, pelo menos não tanto quanto eu, mas já somava algumas boas primaveras.
Batendo à casa da frente, o homem pediu à jovem vizinha da casa amarela a caixa de ferramentas do marido. Ao entregá-las a ele, a moça de coração nobre me pediu para entrar e esperar enquanto o vizinho prestativo verificava e tentava consertar os danos do meu veículo.
Pollyana, era o nome dela, a moça da casa amarela, que me contou sobre sua vida, seus planos e contou a história daquela casa, só então percebi que a sala não estava igual, o teto agora era delineado a gesso. Pedi para que ela me apresentasse os outros cômodos e cuidadosamente ela me conduziu até o quarto do bebê que estava a caminho, não havia mais aquele ventilador de teto velho e barulhento, a cor do quarto agora era azul.
O quarto dela era de uma nuança rosé suave e com um banheiro amplo e claro, já não havia mais cortinas ou ladrilhos, era todo arrematado em mármore, espelhos e granito. O banheiro das visitas estava maior, o quarto de minha irmã agora era uma suíte para os hóspedes e a cozinha que minha mãe desenhou, fora substituída por outra planejada e modulada.
Na varanda, algumas peças de roupas estendidas no varal, tal qual antigamente aos sábados e domingos. No muro, os cacos de vidro foram substituídos por uma cerca elétrica e nas laterais da casa câmeras que substituíram aquele que pulava sobre mim sempre que eu abria o portão. Portão? Hoje ele não precisa de cadeados e chaves, ele é elétrico e carece apenas de um controle que cabe entre os dedos ou esconde-se na palma das mãos.
O vizinho tocou a campainha, não necessitava mais das palmas. Pollyana foi atendê-lo enquanto eu admirava o jardim de inverno que ela havia feito em uma das laterais da casa. Poucos minutos depois, veio me buscar, meu carro estava pronto. Passei pela porta da sala que, agora se abria em folhas; dei a última olhada pela lateral, na esperança de ver o meu melhor amigo vir correndo ao meu encontro, mas nada aconteceu.
Pollyana me abraçou e se despediu, fechou a porta. Olhei novamente e atentamente ao número da casa. Sorri, chorei, sorri. Agradeci ao vizinho prestativo pelo conserto do carro e voltei para a minha cadeira de balanço. Tomei alguns remédios e voltei a olhar para a janela e lembrar a minha juventude... Já contei a história do parque?


17 de março de 2012

Apologia


Desculpem, tenho de ir, meu amor chegou. Olhem, vejam como ele veio.  Sem flores, pois elas murcham com o tempo e o amor não é assim. Sem chocolates, porque assim como eles podem ser doces, podem ser muito amargos e o amor não é assim, só quem vive esse sentimento de verdade sabe a doçura que ele tem. Sem alianças, porque isso nos tiraria a liberdade e o amor não é assim. Sem bichinhos de pelúcia, pois com o tempo eles ficam empoeirados e o amor, ah, o amor não é assim.
Vejam como ele caminha em minha direção. Sem promessas, porque ninguém conhece os limites que tem e uma decepção partiria o meu coração. Sem falsas esperanças, sem frases feitas, sem mentiras, sem enganos, porque ele sabe o que é sentir, ele tem um coração, ele é humano. Sem falso companheirismo, sem planos, porque o amor resolve as bagunças do tempo e alinha os segundos para o encontro perfeito.
Sim, ele veio a pé, sem cavalo branco, sem carruagem, sem sapatinho de cristal, sem pertencer à nobreza de uma família real, por isso ele demorou a chegar, mas valeu a pena esperar cada segundo de aflição para abrir a cada manhã esses sorrisos e permanecer com eles por todo o dia até a hora de dormir e sonhar. Notem, ele vive sem holofotes virados para si, ele não precisa brilhar para todos, ou para todas, ele brilha apenas pra mim.
Por falar em brilho, sabe o brilho desses olhos miúdos, aqui? Ninguém ofusca mais. Sabe esse coração cheio de amor, aqui? Fizeram-no transbordar. Quem fez? Ele, ora, que trouxe no silêncio as palavras nunca ditas por ninguém. Que trouxe nos braços o abraço mais protetor. Que não copiou frases, expressões ou histórias, apenas escreveu em uma vida vazia a mais linda história de amor, sem mocinhas, sem galãs, sem vilões. Para ele, nada disso interessa, se o mundo lê ou não o que ele fez, para ele importa mesmo é viver. Sinto muito, queridos, fiquem aí, presos no meu passado e não voltem porque o meu futuro é lindo...Adeus!

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...