26 de abril de 2012

Marley


       Obrigada pela alegria que me davas todas as manhãs, pelo rabinho que abanavas a cada chegada minha ao portão, pelo teu jeito único de me proteger, pelos beijinhos de focinho sempre que eu me encostava na janela, pelas travessuras, pelas brincadeiras, pelas minhas roupas que rasgastes, pelo banho que eu tomava ao te dar banho, pelo livro de Psicologia da biblioteca da faculdade que você rasgou, pelos sustos que me davas quando, sem querer, te soltavas e ia pra cima das visitas.
        Obrigada pelo denguinho que fazias quando deitavas ao chão, pelas poses engraçadas que fazias quando dormias, as quais me renderam alguns longos risos; pela carinha engraçada em frente ao ventilador, pelas comidas que eu sempre tinha que dividir por não resistir ao olhar “pidão” mais lindo do mundo; por todas as torradas que eu te dei no café da manhã, pelo teu jeitinho único de pedir carinho.
      Obrigada por se esconder quando sabia que tinha feito alguma coisa errada, por ser verdadeiro sempre, por brincar de morder, mas nunca o fazer de verdade; por ter me transformado, por te me amado sem pretender algo em troca e sempre que, por muitas vezes, eu nem fiz por merecer. Obrigada por não ter levado em conta as vezes em que eu passei por ti sem te fazer um carinho e as vezes em que falhei como “mãe”.
      O nome foi escolhido pelo livro e pelo filme porque eu esperava que ficasses ao meu lado por muito tempo, mas, infelizmente, nem sempre tudo sai como planejamos. Só quero te agradecer por todos os momentos de alegria que me destes, por todo o choro que consolaste, por cada demonstração de afeto a teu modo, eu te queria aqui, agora, pra poder te chamar de “pretinho” de novo, mas ainda bem que existem as lembranças, assim eu posso te ter em mim sempre que a saudade vier me procurar.

Te amo, que Deus te abençoe. Descanse em paz.

Marley nasceu no dia 10 de julho de 2010, faleceu hoje (26.04.2012), pela manhã, após uma parada cardíaca e de uma semana sob medicamentos fortes, antibióticos e visitas diárias à clínica veterinária. Foi um cão exemplar, que me fez saber um pouco do que é a doação no amor. Talvez ele tenha passado por mim para me deixar essa e outras grandes lições e me provou que, se quisermos, pode-se transformar o mundo através do amor.

"Mas, se tu me cativas, nós teremos necessidade um do outro. Serás pra mim o único no mundo. E eu serei para ti a única no mundo" (O Pequeno Príncipe)

22 de abril de 2012

Sobre a primavera


Tumblr_ljlkmzfdyr1qbgc6wo1_500_large_large
fonte imagem: wehearit.com/entry/27197684

Não, não é isso, vem cá, senta aqui. Não me deixa esquecer o gosto que tem o teu beijo. Não me deixa esquecer o quanto é bom te ouvir pela manhã com voz de sono, te ouvir contando as peripécias do dia antes de dormir ou naquela hora inopinada que faz meu coração acelerar só de ouvir você dizer que me ama.
Não deixa que a distância seja o motivo pra que eu esqueça a pressão do teu toque, do calor da tua pele, daquele cheirinho de chocolate dos teus cabelos, da cor e brilho dos teus olhos. Teus olhos, labirintos gigantescos nos quais eu me perco sem reclamar, me perco com gosto sem desespero, com apreço. Apreço de quem vê o reflexo do ser que ama no ser amado ou vice-versa.
Não prende ou corta as minhas asas. Não imagina bobagens. Rega essa semente que plantaste e faz brotar essa árvore de amor que prometeste. Não me rotula, me deixa te amar do meu jeito, independente do nome que quiserem me dar, independente do que eu for, me deixa te amar como eu sei te amar e não como se deve amar a namorada, a noiva, a esposa; me deixa te amar, simplesmente.
Deixa-me morar dentro de ti devagarinho, sem pressa, porque não há de se ter pressa quando tem uma vida inteira pela frente e não há graça maior do que saber que se foi amado por alguém até o fim dos seus dias, portanto, se eu for daqui a pouco, amanhã ou daqui a cem anos, o meu ser verdadeiramente amado foste tu, somente tu.
Não me deixa pensar que queres condicionar minha felicidade à tua, não me faz entender que queres moldar meu sentimento. Eu quero dizer que te amo porque sinto vontade e não porque à primavera convém. Afinal, sempre convém ouvir um ‘eu te amo’ quando se tem certeza de que ele veio do coração naquele exato momento e escapou pela boca ao mesmo instante, sem previsibilidades. Danem-se as estações! Quero te amar nas manhãs de outono e, principalmente, nas noites do inverno mais frio. Quero colher as flores primaveris e te molhar no verão.
Não me larga, mas não me prende demais a ponto de me sufocar, me guarda com carinho dentro de uma caixinha, como uma sementinha, e regue diariamente, cuidadosamente e delicadamente, para que devagar eu floresça. Não deixe que eu enxergue outros sorrisos que me façam esquecer, mais uma vez, de que tu és o que eu encontrei de mais precioso e que tudo o que vem de ti é o que a vida me reservou de melhor. Eu estou e quero continuar aqui, não me deixa partir de novo, porque a cada volta, eu volto menos.
Temos e somos o que muitos queriam, o que todos anseiam. Temos o maior amor do mundo, aquele incondicional, absoluto, infinito e eterno. Somos únicos, insolúveis, inseparáveis, somos um. Temos suspiro, entrelaçar, troca, felicidade. Somos o agora, não mais o depois, já fomos o passado, hoje somos o presente e, imediatamente, o futuro.  Temos e somos. Temos o que somos. Somos o que temos. 

14 de abril de 2012

Em um dia de chuva (Quando?)

Certo dia, caminhando por uma avenida vi despencar do céu um coração ferido, olhei para o alto e, entre os arranha-céus, vi uma jovem moça que respirava ofegante e feliz por ter atirado o seu coração ao chão. Assustei-me com aquilo. Em seguida, outros corações foram lançados em direção à terra cada um mais dilacerado e machucado que o outro, não entendia o porque de todos decidirem fazer aquilo.
Uma senhora que passara naquele instante parou ao meu lado e passou a observar tudo aquilo comigo. Com a voz embargada, a indaguei acerca da razão de todas aquelas pessoas, sem distinções de credos, etnias ou sexo estarem a lançar seus corações de forma tão brutal e não se importarem de como suas vidas seriam sem eles, recebi a resposta que me fez entender que aquilo só acabaria...
 Quando as pessoas entendessem que a felicidade não está condicionada a permanência de alguém em suas vidas, muito menos ao amor que elas oferecem à outras pessoas e sim, quando entendessem que o amor é que algo que se dá de graça e como pagamento ou troca recebe-se apenas a sensação de se estar fazendo o bem. Apenas.
Quando elas conseguirem enxergar isso, perceberão que a vida é muito mais do que alguém para beijar, estar junto ou abraçar e que o amor não acaba nunca porque deve ser manifestado todos os dias a todas as pessoas e não à uma somente. Elas ainda não entenderam que quando um grande amor se vai, é sempre tempo de arranjar um milhão de outros grandes amores que a façam seguir em frente, viver intensamente e não chorar.
Hoje, ter um coração incomoda, porque todos estão presos e se prendem a um ser tão incerto quanto o inseguro e esquecem de que quando aceitamos andar nessa corda bamba temos que estar prontos para nos levantarmos caso o vento bata do lado oposto e nos derrube. Hoje, elas lançam seus corações ao chão porque se julgam incapazes de amar mais de uma vez, esquecem de se permitir e, muitas vezes, machucam outros corações por covardia.
Quando isso vai parar? Ah, isso só você pode responder.

Fonte Imagem: placeboseaboboras.blogspot.com

Quando?

7 de abril de 2012

Pode ser

       Começa com uma lembrança, depois vai delineando um sorriso bobo seguido de uma lágrima que sorrateiramente cai entre os dedos cruzados das mãos e termina com uma dor e um aperto no peito. Essa tal saudade embriaga, emudece, transforma. Saudade de quê? Saudade de quem?
           Essa saudade pode ser de um livro de heróis, mocinhas, vilões, bruxas, fadas, príncipes e princesas que um dia eu li e acreditei que poderia encontrar na esquina da minha rua. Pode ser das histórias de Fada do Dente a Coelhinho da Páscoa que um dia ouvi. Pode ser das noites em que passei em claro esperando o Papai  Noel deixar o meu presente ou das surpresas que eu tinha quando ele conseguia deixá-lo sem que fosse visto, ou será que são dos anões que eu acreditei terem feito o laço do meu embrulho?
          Essa saudade pode ser daquela música que eu ouvia repetidas vezes sem cansar e em cada uma delas eu descobria um novo jeito de entender suas entrelinhas. Pode ser daquela que me fez dançar, daquela que me fez chorar, daquela que era tocada só para mim, daquela que me fez sorrir, daquela que virou trilha sonora do meu romance, daquela que me transportava a outro estado, daquela que me levava aos braços de Morfeu, ou até daquela que me fez entortar os lábios. 
        Essa saudade pode ser do tempo, do vento, do mar, dos atrasos, dos passeios, das pegadas na areia, da alegria, do calor ou do frio, das flores, das cartas, dos perfumes, dos filmes, do colo, dos anseios, das precipitações, dos sonhos, dos planos, das pinturas, dos desenhos, das fotos, das cores, do piano, da vida.
          Essa saudade pode ser do vazio, pode ser daqueles dias, pode ser daquelas noites em que eu estava completa, pode ser do banho de chuva, pode ser do carinho, pode ser da inocência, pode ser do afago, do cafuné, da voz que me acompanhava, pode ser das piadas, dos  sarcasmos, da poeira, do suor, pode ser das luzes, pode ser do breu, pode ser do mato, da estrada, dos olhos dele. 
          Essa saudade pode ser das pessoas que tive e hoje não tenho, das pessoas que via e não vejo, das que me ouviam e não ouvem, das que eu ouvia e não ouço, das que eu abraçava e não abraço, das que eu beijava e não beijo, das que me consolavam e não consolam, das que me olhavam e não olham, das que me admiravam e não admiram, das que me amaram e não amam. Essa tal saudade pode ser do que fui e deixei de ser...

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...