18 de novembro de 2012

O amor e alguns anos

   Durante anos se amaram como se a vida deles desde o dia em que se conheceram fora uma só. Brincavam, riam, cantavam, brigavam, transavam, choravam, beijavam; fizeram promessas e juras de um amor que julgaram 'eterno'; escolheram os nomes dos filhos; planejaram o dia do casamento; dormiram juntos em uma rede na varanda; viajaram para o interior nas férias; ouviram Blues e Bossa nova; escolheram o lustre -ele por ela- e o piano -ela por ele; leram poemas de Rimbaud e Verlaine nas madrugadas e sonharam com o futuro planejado.
   Durante meses, separados pelo destino, mantiveram aquele amor da adolescência em riste, pronto para voltar a sê-lo a qualquer sublime momento; lembravam da rua, das noites, dos jantares à luz de velas, das manias, das manhas, dos defeitos que eram tudo de perfeição; relembravam das promessas e as asseguravam cada vez mais; despediam-se com lágrimas... lágrimas de saudade; beijavam-se em sonhos todas as noites de todos os dias.
   Durante semanas, cada um em seu lugar, passaram os dias sem quem um soubesse o paradeiro do outro, procuravam-se pelas cartas, pelos livros, pelos perfumes, pelas esquinas, pelas lembranças, pelos sorrisos. O desejo de ambos ia, sem ruídos, procurando outros caminhos, outros corpos, outros beijos, outras vozes, outros cheiros. Já não existia quase nada em comum nos dois, a não ser, a lembrança um do outro que já não existia em nenhum daqueles que um dia disseram não conseguir existir sem a presença do 'eterno'.
     Durante dias trabalharam e estudaram, e saíram e beijaram, e abraçaram e namoraram. Dias que foram semanas, que passaram a anos os quais resultaram em uma década. Ele amou alguém, ela desejou incessantemente outros lábios que não eram os dele; sem conversas, sem lembranças, sem recordações, sem compactuar se encontraram um dia, sem querer, enfim. 
   Olharam-se fixamente por alguns instantes, se aproximaram pávidos, sorriram levemente, quase sem vontade, um sorriso amarelo. Juntos ali, poderiam agora, enfim, viver tudo aquilo que sempre haviam sonhado, desfrutar do amor que antes diziam  sentir. Depois de tantos anos separados, deveriam ter se abraçado, chorado, beijado, ou quem sabe terem visto um brilho rasgado em algum dos olhos, mas nada aconteceu. 
   Apenas se cumprimentaram com um aperto de mãos em meio a uma praça movimentada. Nem risos, nem lágrimas; nem abraços nem beijos; nem promessas nem conversas; nem cantorias nem brincadeiras; nem eternidade nem infinito. Nada. Absolutamente nada. Eram como dois estranhos. Maria e João, ou talvez, Eduardo e Mônica, Felipe e Bia, tanto faz.

                   
Fonte Imagem: thefelixxx

Um comentário:

  1. Bem legal! Realmente expirador ou simplesmente um texto cheio de amor, adorei.

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