17 de março de 2011

Crime Passional

      Já é tarde, e ele está vindo. Ele não avisou nada, mas o conheço bem e sei que ele vem esta noite. Preciso agradecer de alguma forma a todos que estiveram ao meu lado, meus amigos foram verdadeiros anjos que me ajudaram e me protegeram até o último momento, tenho certeza de que se algum deles soubesse que ele viria hoje, eu não estaria sozinha escrevendo esta carta, alguém estaria aqui comigo para me proteger. 

      Eu sou uma garota normal, sempre fui sonhadora, sempre fiz planos para o futuro. Desde pequena, sonhava em ter um carro, um apartamento e filhos que parecessem comigo, sonhava com uma menina que pudesse ter os meus olhos e o meu sorriso, queria cuidar dela como se eu estivesse cuidando de mim mesma, sonhava em ter muito dinheiro e poder dar aos meus filhos tudo o que não pude ter.

      Para realizar meus sonhos, eu precisava de alguém. Alguém que me ajudasse a construir tudo isso, que me incentivasse a lutar por cada um de meus anseios e que me desse amor, antes e acima de tudo. Posso até parecer um pouco egoísta, mas eu tinha a necessidade de ser o centro das atenções, e ele me fez pensar que eu era o seu mundo, ele me envolveu de tal forma que, a cada tentativa de fuga eu me envolvia mais. Era uma mistura maluca de desejo e ódio, de amor e repulsa, não sei explicar. Só sei que eu o odiava a cada gesto e o amava em cada olhar. Eu o odiava longe de mim, mas era só ele chegar para que a minha armadura de bronze virasse nada mais que pó.

      A necessidade dele era um desejo diário, mas a presença dele me lembrava o quanto ele me machucava e me feria com suas atitudes. Sim, sempre fui muito presa a atitudes e demonstrações de afeto. Para mim, não adiantava que ele dissesse que amava, eu sempre quis que ele provasse, afinal de contas, eu sempre achei o contrário. Ele sabia ser o meu pior amante, não por ser ruim, mas por maltratar meu ser e me deixar cheia de vontade de querer tê-lo cada vez mais. Era como uma droga, viciante, excitante e maligna, mas que meu corpo tinha sede e cobiça.

      Ele me possuía, e o pior, ele sabia disso. Foi difícil, mas lutando contra mim mesma eu consegui afastá-lo da minha vida. Afastá-lo, mas não tirá-lo de vez, ele sabia ser o pior de todos, ele sabia ser minucioso e paciente, como uma cobra pronta para dar o bote a qualquer distração que eu tivesse. Apesar da distância, ele exercia poder sobre mim, tanto que me fez manter silêncio, me fez ouvir a tudo calada e não me deu opção de escolha. Ou eu, ou o homem que eu escolhi amar.

     Não seria justo envolver o homem da minha vida e cedê-lo como vítima de meu passado sujo, eu não podia contar a ninguém, isso fazia parte do trato, eu não arriscaria aquele meu único sorriso sincero, meu único beijo amoroso, nem meu último abraço verdadeiro, por nada. Mesmo que isso tudo me custasse a vida. E custou. Ele vem esta noite, sei disso porque ele disse que eu não seria mais dele, porque eu escolhi deixar de ser, mas ele não foi capaz de me deixar ser de ninguém. A minha necessidade de ser o mundo de alguém, o obrigou a fazer de mim o seu mundo, o obrigou a me ter como centro de tudo, e eu o acostumei a não conseguir viver sem mim.

     Não sei se vou morrer feliz, por saber que marquei a vida de alguém, ou se devo morrer triste porque deixarei alguém que me mostrou o que é o amor e que se fez meu mundo, sem me pedir que eu o tornasse o meu tudo. Ele vem esta noite, talvez no meio do meu sonho mais bonito, para mostrar que eu sou o mundo dele e que sem mim, ele não vive e me mostrará que, mesmo após a minha morte, ele terá sido meu pior pesadelo.


Fonte Imagem: missaopoesia.blogspot.com

2 comentários:

  1. Eu, hein... Tu e o Robson tão assustadores esses tempos! xD

    Muito bom texto, mô!!!

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  2. Fiquei com medo, mas de tão bom conseguiu me prender! Hahahahahaha Arrasou =)

    Blenda

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