3 de março de 2011

Anjos - Parte I

    "Eu tinha uma família feliz. Tinha uma esposa linda, Isadora. Uma mulher maravilhosa, amorosa e atenciosa, que não me dava motivos para reclamar da vida. Todos os dias, Isadora me acordava com beijos carinhosos, acariciava meu rosto e dizia o quanto me amava e se sentia feliz ao meu lado, ela era o motivo pelo qual eu acordava feliz e agradecia a Deus diariamente pelo dom da vida. Depois do banho, o café da manhã estava sempre pronto, a mesa posta em perfeita harmonia, tudo no seu devido lugar e organizado com um capricho e primor que só ela tinha. Ela era o amor da minha vida.

    Lembro bem do dia em que ela me deu a notícia de que a família aumentaria. Depois de um longo dia de trabalho, no caminho de volta para casa, ela me ligou e pediu para que eu comprasse um laço cor de rosa, e disse que quando eu chegasse em casa, me explicaria tudo. Parei em um armarinho qualquer, pedi um grande laço rosa porque imaginei que fosse para embalar algum presente e segui o caminho. 

     Ao chegar em casa, Isadora veio me receber com o mesmo amor de sempre, pediu para que eu me sentasse e segurasse o laço nas mãos. Não entendi muita coisa, até que ela parou em minha frente e pediu para que eu amarrasse o laço em volta de sua cintura. Foi a primeira vez que achei que a minha mulher perfeita teria algum distúrbio, mas ela sempre sabia o que fazer e eu confiava nela. Fiz o que ela pediu, ela ajeitou alguns detalhes, e simulando uma voz de bebê disse: "Oi papai, Eu sou o seu mais novo presente, mas só chego daqui a oito meses.",em seguida ela me abraçou e sussurrou: "Parabéns, meu amor, agora seremos três em um.". Eu não contive as lágrimas de alegria, segurei-a em meus braços, a abracei como nunca e agradeci pelo melhor presente que ela poderia ter me dado.

    Os oito meses seguintes foram dedicados à espera da bebê, saíamos juntos para comprar roupinhas, planejamos o quartinho, e ela sempre se preocupava com cada detalhe desde a cor do berço ao desenho da renda das cortinas. Quanto mais os meses passavam e a barriga dela crescia, mais felizes e ansiosos ficávamos para a chegada de Luma. Até que o tão esperado dia chegou. Luma nasceu, era a representação perfeita de Isadora, tudo em seus traços remetiam a algo da mãe. O nascimento de nossa filha fez com que eu admirasse ainda mais a minha linda Isadora, que mostrava em cada gesto a perfeição materna, ninguém a ensinou, mas parecia que ela nascera com o dom de ser mãe.

     Quatro anos depois, Isadora faleceu em um acidente de trabalho, ninguém nunca explicou ao certo como tudo aconteceu, nem o corpo dela nós tivemos a oportunidade de ver pela última vez, a única coisa que soubemos é que o acidente fora ocasionado por falhas técnicas no avião em que ela estava. Foi um dos momentos mais difíceis de minha vida. Como explicar à uma criança que a mãe que lhe contava histórias todos os dias antes de dormir, jamais voltaria a repetir esse gesto? Embora meu coração estivesse dilacerado, não podia deixar que Luma percebesse o meu desespero,a fiz acreditar que, assim como nos contos que Isadora contava, ela não havia ido embora para sempre, e sim que teria se transformado na estrela mais brilhante do céu e que toda noite apareceria para ela a fim de lhe contar uma nova história...



Fonte imagem: http://metodomaisvida.com.br/gestantes/files/2010/06/familia-feliz.jpg

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