23 de outubro de 2011

O fim, o início


Recebi, hoje, uma notícia bombástica: o fatídico dia está próximo para todos nós. Temos apenas 24 horas de vida neste mundo, em poucas horas tudo vai acabar, a raça humana será extinta, a fauna e a flora se transformará em pó, nada restará, apenas cinzas de um planeta que foi o centro do universo.
Nós estamos na iminência de virar pó, o desespero tomou contou de mim, porque além de saber que iria morrer, também fiquei sabendo que fui escolhido pela NASA (Agência Espacial norte-americana) para ser o agente propulsor da disseminação do fim, ou seja, eu teria que dar essa notícia catastrófica para 5 bilhões de seres humanos.
Por que a NASA me escolheu? É o fim e eu que tenho a responsabilidade de dizer isso ao mundo?! Foi essa a pergunta que eu fiz, em inglês, no telefonema que recebi de Washington, ao diretor-executivo da NASA, no início da madrugada de hoje. Ele me explicou que segundo a tese dos cientistas astrofísicos, um meteoro mil vezes maior que o sol entrou na rota do planeta terra a um mês, sendo comprovado e visualizado pelos telescópios da estação espacial em órbita no universo. Os físicos, matemáticos e engenheiros espaciais calcularam a velocidade e constataram que a colisão do meteoro com a terra acontecerá às 23h30 de hoje. Um grande choque tomou conta de mim, apenas a NASA e eu sabíamos que o mundo acabaria em poucas horas, sendo que era minha a árdua missão de vaticinar ao mundo o fim no dia de hoje.
Eu sabia que ninguém iria acreditar em mim, mas mesmo assim postei na internet em todas as redes sociais a seguinte mensagem: “Hoje, às 23h30, um grande meteoro vai colidir com a terra e todos nós morreremos”. Ainda era madrugada quando postei a mensagem, em menos de uma hora depois esta mensagem já estava no topo das mais comentadas no mundo virtual, os mais importantes portais de notícias da internet reproduziram a mensagem, as rádios difundiram tal notícia, as principais redes de televisão especularam em seus telejornais a veracidade dos fatos, os jornais locais e internacionais estamparam na página inicial a notícia do fim do mundo.
Em pouco tempo houve um caos midiático em todos os continentes, a pressão era grande, todos queriam saber se era verdade ou mentira, muitos rechaçaram, debocharam, avacalharam com a mensagem; queriam prender o cara que postou a mensagem irresponsável do fim. Rapidamente, meu nome estava na “boca do mundo”, a polícia federal foi contactada pelo FBI para saber sobre os meus dados pessoais, um mandado de prisão foi autorizado, me tornei um procurado da justiça norte-americana, me escondi, era um fugitivo; todo esse rebuliço mundial ocorreu na madrugada desse dia.
Até que às 6h00 da manhã, numa coletiva de imprensa mundial, o presidente dos Estados Unidos e o diretor-executivo da NASA confirmaram que a mensagem postada por mim, na internet, era verdadeira e que o mundo iria acabar numa colisão com um grande meteoro, exatamente às 23h30 de hoje. Essa confirmação oficial do fim do mundo causou um caos inimaginável na sociedade mundial. Instantaneamente as ações das bolsas de valores desvalorizaram, em poucos minutos empresas multinacionais estagnaram; politicamente países com rixas históricas declararam guerra. Assim no quase fim do mundo deu-se início à 3ª guerra mundial.
Às 12h00, as agências internacionais noticiavam as mortes ocasionadas pela guerra, suicídios de célebres políticos, empresários, esportistas, artistas devido o temor, a insegurança, o medo de perder tudo que conquistaram e principalmente por medo de esperar a morte. Logo depois, o Governo norte-americano, os representantes da União Europeia e os integrantes do Conselho de Segurança da ONU declararam que não havia mais nada a ser feito, e confirmaram o fim do mundo.
No meio desse caos fiquei trancado em casa, havia boatos de arrastão, arrombamentos de casas, saqueamento de lojas, assaltos à mão armada, assassinatos na rua, ou seja, Belém estava a mercê do mal; a polícia deixou de existir e o local estava muito inseguro. A minha casa era o meu porto seguro, nos momentos finais do mundo. Desliguei a televisão e fui para o quarto, não tinha mais nada o que fazer, era só esperar a morte do planeta e consequentemente a minha morte. Peguei o álbum de fotos e passei a tarde toda relembrando o passado, saudosista de momentos áureos de minha vida, um tempo inesquecível no qual a felicidade dava o ar de sua graça. Lágrimas caem ao olhar as fotos de minha família, de minha formatura, infelizmente tudo se foi só ficaram as lembranças. De repente um grande barulho, era um relâmpago anunciando a chuva torrencial, ventos fortes, rapidamente escureceu. Olhei pela janela, ninguém nas ruas, um deserto em pleno horário de pico, silêncio e solidão no mundo. No relógio eram exatamente 19h00.
Liguei a televisão, percebi que todos os canais estavam fora do ar. Fui à internet também estava fora do ar, peguei o celular, mas estava sem sinal, o mundo estava incomunicável. Fiquei na sala, peguei uma página de caderno e uma caneta e comecei a escrever versos de despedida, versos que ninguém leu, que ficaram guardados na memória. De repente uma forte explosão na rua, ocasionando a queda de energia elétrica; tudo ficou escuro, não se via mais nada, já eram 23h00.
Eu e uma lanterna, e o silêncio no mundo. Eram os últimos 30 minutos de vida do planeta terra, momento de introspecção, de análise, de reflexão, instante de um diálogo, de uma interação com Deus, que consola e fortifica a alma. A chuva ficou mais intensa, esfriando a noite; apontei a lanterna até o relógio na parede, ouvi na rua um grito desesperador, vi que eram 23h29, era o grito da aflição, do fim anunciado, do último minuto de vida. Nesse instante uma intensa luz apareceu no céu e clareou o mundo, fui até a janela e vi uma bola de fogo em movimento, olhei de novo para o relógio, eram 23h30, fechei os olhos, ouvi um estrondo ensurdecedor, a temperatura ficou insuportável, houve uma grande explosão no mundo...
Foi nesse momento, que eu acordei do coma, depois de um grave acidente de trânsito, há cinco anos, vi minha família chorando de alegria, no leito do hospital, e pensei comigo mesmo: sobrevivi...
          
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Josué Leonardo, estudante de Letras- Língua Portuguesa, dono do blog Retextualização Imagética. Depois do meu avô, ele é o homem mais cavalheiro que já conheci, um gentleman. A timidez e descrição não conseguem esconder a pessoa maravilhosa, doce e romântica que ele é. Josué, que Deus continue te abençoando sempre. Obrigada um milhão de vezes pela sua participação de estréia no blog, pra mim, ter um texto seu aqui é bem mais que uma honra, é um prazer imensurável.

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