22 de outubro de 2011

Sem limites



Já era dia quando chegou-me ao ouvido que eu só teria mais aquele dia. A princípio julguei ser sonho, mas bastaram alguns segundos para me dar conta que era real. Da rua vinham gritos, risadas, o barulho ensurdecedor do motor dos carros. Ligaria a televisão para saber se era aquilo, mas o grito de alguém veio pela janela a confirmar minhas suspeitas: “É o fim do mundo!”, bradava o infeliz antes de ser atropelado.
Fui até a janela e o caos se desenhou diante de meus olhos. Vi pessoas que corriam sem saber para onde ir, outras se abraçavam e choravam o fim que se aproximava, alguns gritavam eufóricos como se estivessem alegres com aquilo. Tudo era tão surreal, mas minha calma parecia ser ainda mais. Não partilhava daquilo tudo, era como se não fosse acontecer comigo, como se eu fosse um mero expectador do apocalipse iminente.
Até que fui tocado por meus pensamentos: o que fazer? O tempo está correndo mais rápido do que antes e agora parece que pretende parar, o que fazer antes disso? Respostas surgiam de todos os cantos de meu pensar. Havia tanto a ser feito, porque as coisas tinham que ser abreviadas daquela forma? Porque, se havia pouco que eu despertara para a vida, de fato? Por mais que quisesse fazer conjecturas, era preciso definir quais seriam os últimos passos de minha existência.
Mas escolher o que fazer não era nada fácil. Afinal, seriam os últimos momentos dessa vida conturbada. Era preciso escolher algo realmente válido. Mas o quê? Poderia ler um bom livro, ou até mesmo escutar, finalmente, os CDs da minha coleção que eu nunca sequer tirei da embalagem. Poderia ligar para meu melhor amigo e ter uma boa conversa, daquelas que fazem as horas passarem sem que se sinta. Porém, talvez ele não partilhasse do mesmo desejo.
E se eu cedesse a todos aqueles impulsos que sempre reprimi? Aos desejos que as convenções sociais sempre me impediram de saciar? Afinal, não haveria amanhã para enfrentar as conseqüências ou a reprovação por parte dos outros. Contudo, o maldito senso de pudor, já arraigado em mim, me convencia a fazer o contrário. Talvez por não desejar ser lembrado como o cara que surtou nos últimos momentos da vida.
Eu já havia desistido de minha idéia quando uma mulher passou em frente à minha casa. Corria nua cantando músicas de um tempo distante. Percebi sua felicidade insana, mas não tive coragem para acompanhá-la. Ela passou e logo atrás vinha um homem. Decerto estava a segui-la. Alguns minutos depois ouvi alguns gritos, que depois se transformaram em gemidos. Decerto o homem a alcançara e estava por saciar sua derradeira vontade.
Vi quando dois automóveis colidiram em frente à minha casa. Vinham em alta velocidade e pude ver quando se encontraram: o metal sendo retorcido enquanto os vidros estouravam em mil pedaços. Alguns segundo após a colisão, vi quando os motoristas saíram de dentro dos veículos. Ambos estavam bastante machucados, cambaleantes. Caminharam ao encontro um do outro e, em seguida, se abraçaram. Pensei serem amigos que realizavam um desejo em comum.
A manhã avançava e eu não sabia o que fazer. Já começava a me preocupar quando ouvi aquela voz doce: “Amor, fecha essa janela. Esse barulho todo não está me deixando dormir. Vai, fecha essa janela e vem ficar comigo.” Naquele instante descobri o que faria: aproveitaria o tempo que me restava junto dela. Ficaria ali com a mulher que amo e deixaria que o mundo acabasse sem mim.
Pensei em contar-lhe o que acontecia. Mas me contive. Seria egoísta pelo menos uma vez na vida. Mas o seria por um amor incondicional, que seria meu último desejo. E, apenas o fiz, por imaginar que aquela seria uma vontade em comum. Sabia que naquele momento poderia viver o amor pelo amor, sem preocupações ou conjecturas sobre um futuro incerto. Enfim poderia amar sem medo, sem limites.

 Fonte Imagem: http://4.bp.blogspot.com/

Robson Heleno ou RobsonH, a vida um dia cruzou nossos caminhos e Deus antes de tudo disse que seríamos irmãos. Um amigo que entrou em minha vida pra não sair nunca, um irmão que papai do céu me deu, que cuida de mim em todos os instantes e que faz o possível para que eu seja feliz. Meu amor por ele não tem dimensão e ele sabe bem disso, é enorme, é puro, é gigantesco. Te amo, Robs, obrigada pelo texto lindo que me fez chorar, viu?

Um comentário:

  1. Nossa, que incrível!!!!
    Gostei muito!!!
    Acho que no fim do mundo, foi feita a melhor escolha possível.
    Não podia ser diferente. E realmente não poderia.

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