30 de dezembro de 2010

Happy new year!



É fim de ano, momento em que todas as pessoas começam a pensar mais sobre tudo o que fizeram no decorrer de um ano inteiro, momento em que erros e acertos vêm à tona, na esperança de uma boa reflexão e correção deles, pelo menos, nos próximos 365 dias. Para muitos, é tempo de férias, tempo de passar um pouquinho da hora de dormir, de acordar depois do almoço, de reencontrar velhos amigos, de namorar até tarde e não se preocupar com um milhão e meio de trabalhos para fazer no dia seguinte, de viajar e sair sem medo de ser feliz.

Talvez ele seja um tempo cedido propositalmente, para que seja um período em que a pessoa possa olhar para trás e para si e, não se arrepender de tudo o que foi feito, agradecer a Deus por tudo que lhe foi concedido e revigorar dentro do peito as promessas de renovação com a família, com os amigos, com ela mesma.

Avalie seus erros, tente percebê-los e descubra o motivo de terem se tornado erros e não acertos, veja se tudo o que você fez era o melhor para aquela situação e verifique também se você foi o melhor que poderia ter oferecido a quem estava ao seu redor , deixe o orgulho de lado e assuma quantas vezes for necessário a responsabilidade pelo fracasso de seus sonhos, mas não deixe de comemorar suas vitórias, lembre-se que elas que te impulsionam a viver e a lutar cada vez mais por seus objetivos.

Quanto aos momentos ruins, é bom deixá-los partir junto com o ano que vai passar, não é bom deixá-los ficar além do prazo de validade. Um novo ano está por vir, histórias novas por surgir, sentimentos novos a serem descobertos e dias lindos a serem vividos, mas o mais importante é que você nunca esqueça que um dia vem após outro e que podemos vivê-los de uma vez só, a paciência e a temperança são os elementos essenciais nessa estrada, portanto nunca deixe de acreditar que tudo tem um tempo e um propósito para acontecer.

Nada na vida incide em vão, seria perda de tempo que episódios sem fundamentos acontecessem e mais perda de tempo ainda se dos mesmos não conseguíssemos aprender ou extrair sequer uma gota. É um novo ano, é nova,  a oportunidade de fazer as coisas serem diferentes, ame mais, doe mais, seja mais e melhor. Em 2011, espere menos e faça mais.

Uma boa dica seria além de uma boa reflexão, olhar-se ao espelho, olhar para si por alguns instantes e pensar no que você é, no que você quer, o que você faz no lugar em que ocupa e de que forma você contribui na vida de quem o cerca... Fica a dica e feliz 2011!

28 de dezembro de 2010

A última carta

Eu sinto muito, vai passar, tenha certeza disso. Pode não ser hoje ou amanhã, mas em breve. Quando eu te encontrar de novo, quero que você possa olhar em meus olhos e dizer “É, eu consegui viver sem você”, quero que aproveites o tempo para sorrir com os olhos e não mais chorar com eles. O amor é assim mesmo, vira e mexe apronta dessas, são promessas de uma vida inteira que desmoronam, um muro sólido que despenca, mas é preciso que, desses escombros a esperança não seja a oportunidade perdida.

Peço-te que não guarde mágoas, tudo o que vivemos foi bom e durou o tempo necessário para te eternizar de uma forma linda e carinhosa em mim, se não fosse assim, hoje eu não teria coragem de te escrever sequer uma linha ou mesmo de te fazer nenhum pedido. Sei que tudo o que fizestes foi pra tentar resgatar a história que construímos, mas infelizmente, não se pode obrigar alguém a amar alguém, o coração é como um jardim, que precisa de carinho, atenção e cuidados diários, mas na medida certa, caso contrário, ele morre por excessos ou por carências.

Não espere por mim, meu coração já tem outro alguém e é de alguém, e ele é especial pra mim, assim como você foi um dia, mas algo nele é diferente e é o que me mantém viva a esperança de um amor duradouro. Não posso dizer eterno, pois nem eu serei, e depois que eu partir não sei o que estará a minha espera, mas eu o amo muito e tanto, que  quero que ele esteja ao meu lado até os últimos dias de minha vida.

Eu sei que te machuco a cada palavra, mas talvez isso seja uma forma de te fazer crescer. Um amor é difícil de esquecer, eu sei, mas se você abrir seu coração e não guardar dor e rancor você vai conseguir. Um dia, quando você menos esperar, aparecerá alguém mais especial, que vai te completar e te fazer bem mais feliz que eu, que vai te amar e cuidar de você como se fosse a única e mais importante coisa da vida. Vai te fazer mudar, vai te fazer sorrir a todo o instante, vai te fazer enxergar um mundo perfeito onde só existirão vocês.

Você é forte, e eu sei que vai conseguir, só peço, por favor, que não chore mais por mim. Na vida existem sempre dois caminhos e você sabe bem qual deve seguir, escolha a felicidade e lute por ela, mas antes de lutar, encontre-a, pois a sua felicidade não está mais em minhas mãos, agora ela só depende de você. Seja feliz.


Com carinho...



24 de dezembro de 2010

Noite Feliz


Querido Papai Noel,

Me chamo João Pedro, e essa é a primeira carta que eu escrevo pro senhor, eu sei que ao longo desses sete anos a mamãe lhe contava tudo o que eu queria. É que, como diz o papai, ela não sabe guardar segredo, mas tudo bem, eu a amo muito do jeito que ela é.

Eu acho que me comportei bem esse ano Papai Noel, não tirei notas baixas, não briguei com os meus coleguinhas e não fui mal criado, fiz tudo o que a mamãe pediu, por isso acho que mereço que o senhor atenda os meus pedidos de natal, eles são grandes e não cabem nas meias...

Eu não quero que o senhor me dê brinquedos, porque a mamãe e o papai me deram muitos esse ano e eu ainda nem tive tempo para brincar com todos, nem quero roupas porque minha família me enche disso todos os anos.

Queria que o senhor desse uma cama quentinha, como a minha, a todos que estão pelas ruas, sem casa, com fome, sem família. Queria também que na noite de natal eles se sentissem acolhidos e que nunca perdessem a fé no seu irmão, o papai do céu, que ao olhar pro céu estrelado eles possam renovar as esperanças de uma vida e de dias melhores.

Queria que você colocasse na comida das pessoas, durante a ceia, uma pílula de amor e sinceridade, pra que o mundo pudesse ficar melhor. Ouvi a mamãe dizendo que se o mundo tivesse mais amor, não existiriam guerras, nem tanta violência. Então Papai Noel, por favor, coloque mais amor na comida dos malvados.

É isso Papai Noel, anotou direitinho? Minha noite vai ser bem mais feliz se eu souber que enquanto minha família comemora e troca presentes, o resto do mundo estará feliz também, tão felizes quanto nós. FELIZ NATAL!


                                                                      Obrigado Papai Noel,
                                                                                                                                        
                                                                                                                                                                            
Com amor,
                                                                                                                            João Pedro.

18 de dezembro de 2010

De repente amor...

Enfim conseguiram, depois de tantas idas e vindas, quando a esperança de uma retomada no relacionamento já não estava sob cogitação, eles voltaram.  Dessa vez de uma forma diferente, os dois já estavam mais maduros e seguros do que sentiam, a entrega era maior, mas era feita sem que eles percebessem, era tão natural e mágico.

Era amor, e disso os dois tinham certeza, pois passavam o dia inteiro com um sorriso bobo estampado na cara, o pensamento em um lugar certo e o coração entregue ao sentimento mais forte e pleno.
Eles não conseguiam esconder de ninguém, todos que conviviam com eles percebiam o carinho, os olhares, o amor e a paixão que exalava dos dois. Entre eles, havia a vontade incessante de estar perto, de abraçar, de cuidar, de ser porto seguro e refúgio da alma sem sufocar, sem privar a liberdade e sem desrespeitar o espaço um do outro.

É lindo ver os dois, ver as declarações que eles trocam todos os dias e o sentir do coração acelerado a cada mensagem recebida, por ele ou por ela, é a prova de que eles pensam um no outro e que dessa vez é um sentimento de verdade, estão seguros de que pertencem um ao outro e que mesmo depois de tantas tentativas desalinhadas, eles enfim afinaram a melodia.

A saudade é um sentimento constante, cada segundo é infinito, os sonhos são o canal que liga os dois nas noites em que ela aperta o peito, sonhando eles se encontram, se amam, se entendem, nos sonhos não existe tempo, não existem barreiras, só certezas e os dois, o mundo é deles.

O amor os faz melhores a cada dia, os fez mudar completamente a rota dos pensamentos, e nasceu então a vontade de um cuidado em não ferir, em não machucar, em acertar sempre e fazer feliz para ser feliz. O olhar revela a mais doce entrega, as mãos a mais pura sintonia, o sorriso a maior alegria, o coração o mais puro e lindo amor. 

É um caminho que eles traçaram juntos, é uma história com capítulos engraçados e outros nem tanto, mas  que eles escreveram sempre juntos, e ainda existem muitos passos a serem dados pela frente, é uma história que só acaba de começar, mas com todas essas certezas e, hoje cada passo é feito pelos dois, cada palavra é escrita pelos dois e cada capítulo de hoje em diante será vivido pelos dois, a história terá direito a um final feliz, regado a lustres e pianos, a risos e sonhos e amor acima de tudo.

Os dois corações ganham, não existe um perdedor, não existe um sofredor, não existe nada além do amor...


8 de dezembro de 2010

Caros e claros


Esses lábios que de tão puros e belos,
se fazem tão poderosos e incertos,
fazem do meu coração
presa fácil,
por sê-los tão ardentes e delicados
são densos, velozes e raros...
são minha herança de sorte
são como brasas clamejantes
que meus lábios chamam
dia e noite, noite e dia,
deles destilam os mais doces favos,
súplicas e desejos caros.
Ai, como os fazem?
tão perfeitamente contornados,
tão delicadamente envergonhados...
São cálices de onde meu amor transborda,
são sombra pra os meus pés descalços,
são perdição para esse pobre e
 necessitado coração,
nesses lábios encontro a minha fortaleza,
o lugar onde não existe tristeza...
São eles os culpados
pelo resplandecer do meu riso 
a cada manhã,
pelos meus cantos alegres 
a cada passo,
esses lábios tão escravos
que me dilaceram a alma
sem tréguas,
que me têm sede e desejo,
são vida, são gozo, são raros e claros...
Raíssa Bahia
                           
                                                                                                    

3 de dezembro de 2010

Um dia...

        Ainda é escuro. A calmaria se faz presente naquele lugar, o único ruído que se ouve é o do vento.Um raio de sol vem romper com aquele silêncio e com aquela paisagem tão bucólica e harmônica. No alto das árvores, vozes. Vozes de todos os timbres. Lá de cima despencam sementes, uma a uma, como se fossem aqueles pingos iniciais de uma chuva caindo lentamente...
        O vento d'antes frio, aquece, penetra nos cabelos de uma moça, que muda, pensativa e observadora, aprecia essa atmosfera encantada, mágica e tão natural. Aos poucos surgem passos, alguns leves e tranquilos, outros bem marcados e definidos. Mudam de cor, de corpo, de forma e carregam consigo histórias de cada rastro de terra que os acompanham.
         Risos, conversas, cantorias que surgem de todo lugar, um grupo de salto alto se reúne, riem feito crianças, enquanto isso a moça dos cabelos emaranhados pelo vento lê. Lê o olhar de cada um e tenta decifrar o que há por trás deles, tenta descobrir a alma, o gosto, o todo. Impossível! O choro de um ser alheio lhe chama toda a atenção. Todos os dias aqueles olhos chorosos lhe sorriam, brilhavam como as luzes em noite de natal, e agora estavam ali todos embalsamados em lágrimas.
         Era a resposta de saudade de alguém que se fora, a partida do ser que lhe inspirava. Desesperava, suspirava, soluçava, cansava. Reclinou-se então sob um pedaço simples e velho de madeira e sobre ele derramou seus sonhos despedaçados, sua esperança perdida e clamou com os olhos aflitos por socorro. Precisava de alguém, de um afago, um abraço, um afeto ou uma simples e delicada palavra.
         O ronco dos motores, a melodia de vassouras que riscavam o chão, as falas altas e gargalhadas dos saltos altos emudeceram-se, um olhar foi lançado sobre aquele ser como resposta à sua aflição, um olhar que sorria, era sereno, e apaziguador de almas, capaz de transformar até o mais desacreditado coração, que viram aqueles lábios ainda marcados pelo choro sorrirem, uma palavra de agradecimento foi pronunciada seguida de uma despedida. Algumas horas passaram. A moça dos cabelos emaranhados pelo vento se foi...Todos se foram...Alguns chegaram...Se foram...Outros chegaram...E se foram...
         As estrelas estenderam-se sobre um tapete negro, para mostrar à escuridão que nem ela pode viver sozinha. e então ela vem, a noite se apresenta linda como uma rainha, cheia de diamantes reluzentes, os quais o brilho aparece aqui e desaparece ali, como vestidos nos bailes em valsa.
          Aquele tapete brilhante, cobria e acalentava a moça dos cabelos emaranhados, o ser que chorava pela perda de alguém pela manhã, um casal de namorados perdidos em amor imenso, os saltos altos que gargalhavam todos os dias, os que chegaram, os que se foram... Todos.
          Ainda é escuro. A calmaria se faz presente naquele lugar, o único ruído que se ouve é o do vento.Um raio de sol vem romper com aquele silêncio e com aquela paisagem tão bucólica e harmônica. No alto das árvores, vozes. Vozes de todos os timbres. Lá de cima despencam sementes, uma a uma, como se fossem aqueles pingos iniciais de uma chuva caindo lentamente.
          O vento d'antes frio, aquece, penetra nos cabelos de uma moça que escreve uma história, o ser choroso do dia anterior ainda estava triste, mas sentia-se forte e amadurecido, os saltos altos traziam novas histórias, junto aos rastros de terra que dispensavam em cada passo. Era um novo dia, e cada um teve a oportunidade de fazê-lo diferente, e alguns o fizeram...
           Deus nos dá essa oportunidade a cada nascer do sol, nos dá a chance de aprender com o dia que passou, e nos dá uma nova história a ser vivida a cada dia, portanto, sempre guarde o ontem como lição boa ou ruim, faça bem o agora porque amanhã é sempre um novo dia!
        

27 de novembro de 2010

Dois em um.


Paixão é fogo, é vício
Amor é calmo, tranquilo 
Paixão arrebata, enlouquece
Amor vem do nada, acontece
Paixão vem dos olhos
Amor vem do coração
Paixão é hoje
Amor é amanhã
Paixão é loucura, devaneio
Amor fica e mostra a que veio,
Paixão é dos belos e fortes
Amor é dos feios e pra quem tem sorte,
Paixão também é disfarce
Amor é bem mais que enlace,
Paixão é dois a dois, é beijo ardente
Amor é dois em um, é boca a boca, é sílaba.
Paixão é instinto,
Amor é distinto, é destino.
Paixão é areia branca,
Amor é pérola rara,
Paixão é ruga, é pó, é rio
Amor é ar, é nudez, é mar
Paixão é pura sinestesia
Amor vem e ninguém tira
Paixão é para muitos
Amor, para poucos e raros
Paixão é transpiração,
Amor é respiração,
Amor é amor,
Paixão é paixão, 
Os dois juntos então...
Pobre ou nobre coração!

                                                                                                      Raíssa Bahia

19 de novembro de 2010

Amiga da onça




Camilla e Thereza eram grandes amigas, se conheceram na escola e pouco tempo depois já estavam tão íntimas que trocavam boas e belas confidências, faziam tudo juntas, uma vivia na casa da outra, iam para as festas, compras no shopping, ou mesmo um simples passeio de domingo. Eram um exemplo clássico de melhores amigas.

Thereza, na verdade, nutria alguns sentimentos não tão bons por Camilla, e um deles era uma inveja sem precedentes, que era perceptível aos olhos do mundo, menos aos olhos de Camilla, sua melhor amiga jamais teria coragem de traí-la e como Thereza lidava fácil com a falsidade, adquirir a confiança de Camilla nunca fora tão fácil. Camilla confiava à Thereza segredos que nem a sua irmã mais velha sabia.

Tudo corria bem, a inveja de Thereza baseava-se apenas nas roupas, acessórios, sapatos e personalidade de Camilla, até que um dia Camilla contou à Thereza sobre Matheos, um menino pouco atraente, magrelo, que usava óculos fundo de garrafa, tímido e pouco sábio, mas que para ela era o moreno mais lindo que havia no mundo.

Matheos não era o modelo de homem perfeito, mas apesar de tímido, tratava Camilla com carinho, com cuidados e atenção, lhe dava flores, lhe mandava mensagens diárias, lia poemas e a pobre menina não resistiu aos seus encantos, que iam bem além da beleza exterior, disso se pode ter plena certeza.

Não fez cerimônia, Thereza foi a primeira a saber da paixão e do novo affair de Camilla, e não perdeu tempo para pedir os contatos de Matheos, afinal queria ajudar Camilla na conquista. Com essa desculpa, Thereza passou a ligar para Matheos, ligações que,no início, tinham Camilla como assunto principal, porém o tempo foi passando, assim como Camilla, que já não fazia parte das conversas dos dois.
 
Nos encontros com Matheos, Thereza sempre fazia questão de acompanhar Camilla para dar-lhe “apoio moral”, assim que ele chegava, Thereza fazia questão de deixar a amiga de lado e completamente deslocada na conversa, nunca os deixando a sós, e não satisfeita sempre dava um jeito de apontar os defeitos de Camilla.

Camilla, sempre inocente, acreditava que cada palavra dita pela amiga a Matheos era para ajudá-la, mas não imaginava que o que acontecia entre eles estava além daquelas conversas, eram ligações em plena madrugada, mensagens em que o assunto era qualquer outro diferente de Camilla.

Passaram-se dois meses, e Matheos já não era o mesmo com Camilla, ela não recebia mais as mensagens diárias, não era correspondida nas que mandava, nada de poemas, nada de flores, e as ligações eram escassas e rápidas, não entendendo o que acontecia, Camilla confidenciava à melhor amiga cada crise do relacionamento dos dois, o namoro que Camilla sempre sonhou estava cada vez mais distante, ela implorava a ajuda da amiga que, por sua vez, aparentava acompanhar a amiga na tristeza e dizia que queria estar no lugar dela para não vê-la sofrer daquele jeito, enquanto na verdade estava feliz pelo o que acontecia entre os dois, ou melhor, não acontecia.

Camilla fazia curso de violão aos sábados, mas por ironia do destino, o professor faltou e Camilla resolveu acompanhar a irmã em um passeio ao shopping. Cinema, as duas decidiram, optaram por uma comédia romântica, há tempos Camilla não ria, só ela sabia como o seu coração estava em cacos, um filme não colaria os pedaços, mas talvez a fizesse esquecer por alguns minutos o pensamento em Matheos e sua indiferença.

A irmã de Camilla, Victória, sempre preferia sentar nos últimos lugares, e Camilla acompanhou sua escolha, acomodaram-se e ficaram á espera do apagar das luzes, até que Victória diz: 

- Olha Camilla! Não é a Thereza?

Camilla olhou na direção em que a irmã apontava com um sorriso gigante nos lábios, que durou cerca de dois segundos, ou menos,para ser desfeito. Era Thereza, realmente, carregando em uma das mãos uma rosa, enquanto com a outra segurava firmemente a mão de Matheos. 

Os dois sentaram poucos assentos à frente de Camilla, mas encantados e apaixonados como estavam, não viam ninguém ao redor, porém Camilla os podia ver perfeitamente, tanto que viu durante todo o filme as carícias, os beijos e risos que os dois davam juntos.

Victória até tentou, mas a irmã não quis lhe dar nenhuma explicação a respeito do que estava acontecendo, Camilla chorou durante o filme todo, enquanto o cinema gargalhava. Era para ser apenas mais uma comédia romântica, mas foi o maior drama da vida de Camilla.

15 de novembro de 2010

Desafio-te



Quero que venhas
nesse tempo sem hora
venha, e venha agora.

Quero que venhas
com todo o suor,
com  todo o cansaço,
dar-me um abraço.

Quero que venhas
antes cedo que tarde
roubar o que foi semeado
um círculo de luz,
reluz, guia.

Quero que venhas
rasgar o que visto,
um riso imprevisto,
sentir o que sinto,
arrancar-me um suspiro.

Quero que venhas
sentir o fervor,
provar o calor,
arder nesse fogo de amor.

Quero que venhas
para enxugar as lágrimas caídas,
ser amor, ser amante, 
ser intenso, ser eterno,
então ser cortez, ser razão de viver,
vem fazer, ser e renascer.

Quero que venhas
dedilhar melodias,
arrancar-me a monotonia,
mistura ouro, lavanda,marfim e vem.

Quero apenas que venhas,
Se fores homem como dizes...

...Que venhas!


Raíssa Bahia
                   

10 de novembro de 2010

Infinito Particular


Eu já havia contado a todos, e eles insistiam em dar sempre a mesma opinião, sempre diziam a mesma coisa. Eu insistia em discordar, deveria existir outro nome para aquilo. Resolvi então buscar a opinião e um diagnóstico de um especialista. Marquei uma consulta e no dia marcado eu estava lá com uma hora de antecedência esperando a minha vez, até que aquele moço de branco me chamou e enfim me diria o que era aquilo. Preciso dizer que eu estava ansiosa e curiosa? Entrei na sala do médico, sentei-me à sua frente e ele perguntou: 

- Pois, bem. O que está acontecendo com você?

- Ah, doutor. Há dias não durmo... - Respondi. Insônia, ele pensou. Prossegui:

- Há dias não como... – Anorexia, ele pensou.

- Há dias estou sorrindo de tudo e para todos... – Leve disturbio mental, ele pensou.

- Há dias eu vejo tudo colorido... – Uso excessivo de drogas, quase uma overdose, ele pensou. E continuei:

- Há dias tenho palpitações...- Ela é cardíaca, ele pensou. 

- Há dias sinto como se houvessem borboletas em meu estômago... – Asquelmintos nematódeos, ele pensou. Enquanto eu falava, ele anotava coisas, balança a cabeça negativamente e me olhava cada vez mais aflito, até o momento em que ele me perguntou quando tudo aquilo havia começado, eu não hesitei e respondi rapidamente:

- Ah, doutor. Tudo começou desde que conheci aquele rapaz maravilhoso, que no início, vinha me visitar nos meus sonhos todas as noites, hoje, se fecho os olhos o vejo e não tenho vontade de dormir porque fico lembrando de cada detalhe do seu rosto, posso sentir o toque de suas mãos sob o meu corpo e posso até sentir o perfume dele, posso ouvir sua voz bem perto dos meus ouvidos e me causando arrepios. Cada dia com ele é como sonhar acordada, sentir o calor dos braços dele em cada abraço, sentir o beijo dele é a melhor coisa que existe, repousar no colo dele acalenta a minha alma, o seu sorriso é a coisa mais linda que já vi além de ser o remédio de todos os meus males, o toque das mãos dele é suave como a seda. Penso nele cada segundo de cada minuto de cada hora de cada dia da minha vida desde então, a vontade de estar perto dele é constante, só ele me faz voltar a ser criança, e uma criança bem mimada, viu doutor! – Rindo feito uma menina boba continuei –  Ele agora deu de me fazer perder o sono, ficar cantarolando por aí, sorrir para estranhos na rua e até arriscar uns versinhos em qualquer papel... Foi assim doutor, que tudo isso começou, e então o que o senhor me diz?

A cara de aflição já não estava mais em seu rosto, o médico me olhava e sorria, então ele cruzou as mãos, me olhou nos olhos e disse:

- Infelizmente ainda não existe uma cura para isso que você está sentindo, sinceramente não há nada que eu possa fazer.

- Como assim, doutor? – Respondi assustada.

- Não há cura porque ele já é o nosso maior remédio, como você disse, é o remédio para o seu e para os males de todos os seres... O nome disso é AMOR!

Levantei imediatamente e extremamente furiosa pela perda de tempo que ele me fez ter, esperei tanto para ouvir o que todos já haviam me dito e eu sabia que não era verdade? Não entendo até hoje como eles podem querer comparar ao amor um sentimento tão nobre como esse, tão indescritível quanto excitante, tão forte quanto uma avalanche, tão puro e leve quanto o algodão, tão certo quanto incerto, tão novo quanto velho,tão doce quanto o mel e tão infinito quanto o céu.

Amor é algo que pra ter definição já foi delimitado, já existe fim para saber até onde vai, mas se eu sei que o que sinto vai além do que eu mesma posso imaginar, imagina só tentar definir o que é. Amor é pouco, o que sinto é mais, mais, mais e ninguém sabe que nome dar, mas todo mundo já sentiu e se não sentiu, com certeza vai sentir um dia e vai saber exatamente do que estou falando. Fico feliz por isso ainda não ter nome, algo me diz hoje que é melhor assim, quer dizer que, ainda que seja universal, esse é meu, só meu, infinito particular...

6 de novembro de 2010

Para rir um pouco...


Obs:A proposta é humorística, portanto cliquem no link vídeo para assistirem ao vídeo que referencio no texto, infelizmente  ele é um vídeo com direitos autorais e não foi possível fazer download para postar nessa página até essa data. Assistam ao vídeo e sorriam!
        
         
             Quando o assunto é relacionamento e conquista, cada um tem uma opinião formada para dar, uma fórmula infalível para segurar a pessoa amada e um caso parecido para relacionar. É natural que, no campo da sedução tentemos mostrar o que achamos que é perfeito para nós ao outro, nos apresentamos, ou pelo menos na maioria das vezes, tentamos nos apresentar como o parceiro ideal, a melhor companhia e para isso vale tudo, trocas de sorrisos, olhares, carinhos, desejos, o que importa mesmo é a conquista.
             Entretanto, nem sempre conseguimos manter essas “aparências” e nada melhor do que o tempo para mostrar a verdadeira face dos indivíduos. São poucos aqueles que conseguem assumir sua personalidade perante o outro de imediato, ás vezes a personalidade vai se mostrando aos poucos com a intimidade e confiança, em outras ela não aparece nunca, e atualmente, na maioria dos casos, é uma mudança de personalidade tão repentina que acaba destruído qualquer forma de afeição.
              Essa busca pela perfeição da sociedade entra no aspecto de relacionamento como um prato cheio para essas discussões, o vídeo mostrará de forma humorística esse levantamento mostrando um personagem que pede conselhos a um amigo para conquistar uma garota e as formas que ele utiliza para conquistá-la. Será que ele consegue?   Relacionamentos a parte, a intenção agora é rir e fazer rir. É comprovado cientificamente que, sorrir melhora a nossa qualidade de vida, então não perca a chance de sorrir e de gargalhar de vez em quando, não custa nada, evita rugas e ainda faz um bem gigantesco para a alma.
         Sorria, você tem muito mais motivos para ser alegre que ser triste, fuja um pouco da correria da cidade, corra da rotina, admire o céu, busque arco-íris, colha e sinta o aroma das flores, tome banho de chuva, durma sob um céu estrelado, sinta o vento no rosto, ande descalço. Viva intensamente todos os dias de sua vida, faça deles coloridos todos os dias! Essa é a minha dica para toda a vida. Não se preocupe, apenas viva.


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Post para alegrar o fim de semana dos meus amados leitores. Espero que gostem, divirtam-se!

3 de novembro de 2010

Psicologia materna


           Elas são todas iguais, realmente só mudam de forma e endereço. Podem ser altas ou baixas, loiras ou morenas, negras ou brancas, ter olhinhos puxados ou não, mas todas desfrutam da mesma psicologia. Pergunta-se: Será que existe algum livro que ensine alguém a ser mãe? Será que todas as mães frequentam a mesma escola de formação? Da onde surgiu essa psicologia que elas usam para nos educar? São respostas que ninguém pode dar, mas são perguntas que eu insisto em fazer.
          Quem será que foi a primeira mãe a usar a frase “Se você não estudar, vai puxar carroça!” ou “É essa vida que você quer ter quando crescer? Vai ficar “pendurada” em um ônibus?” ou “Se você não se comportar o Homem do Saco, vem te pegar!”. Será que não existe uma forma melhor de dizer a uma criança que ela precisa estudar para ter um futuro confortável? Quanto custa dizer ao menino ou menina que estudar dará a ele ou ela a possibilidade de uma vida melhor?  Ou que crianças devem ter disciplina?
          É engraçado perceber que você passou por esses mesmos traumas de infância há anos atrás e hoje você não mais acredita nisso, assim como também não acredita mais em Papai Noel e Fada do Dente, mas mesmo que tenham passado muitos anos, sua mãe ainda usa a mesma  psicologia pra fazer sua irmã mais nova entender que estudar é bom e ter disciplina também.
        O mais triste é ver que ela acredita nisso com tanta fé quanto você acreditou um dia e o pior de tudo é que você não pode fazer nada, a não ser lembrar de quando era você que vivia essa situação toda. Até quando será que as mães do mundo inteiro usarão estes artifícios para educar as crianças? É, o jeito é esperar que a criança traumatizada de hoje não use a mesma fórmula amanhã. Isso não é engraçado, não é legal e não dá pra esperar seu filho crescer para entender que tudo que a mamãe queria dizer era para o bem dele. Fica a queixa de uma criança traumatizada! rsrsrs


29 de outubro de 2010

Um dia um rastro de raio de sol vai tocar um sopro de brisa

          Ei amor, sabe aquela lua? Cada vez que eu a vejo eu lembro de você e de como fica belo o teu olhar ao vê-la, fica brilhante como um diamante e claro como a neve. Sabe aquele sol? Cada vez que eu o sinto atravessar as vidraças do meu quarto eu lembro de você, ele me aquece como o seu abraço, e ele é tão iluminado quanto o teu sorriso. Amor, Sabe aquele céu? Cada vez que eu vejo, eu penso em você, é tão bonito ver o quanto ele é vivo ao mesmo tempo que é sereno, é delicado e é suavemente contornado com nuvens, que o enfeitam e o deixam tão belo quanto você. 
        Ai, amor, sabe aqueles grãos de areia da praia? Cada vez que eu os vejo eu lembro de você, porque o mar os fazem ficar ondulados, mas essas ondas são tão macias que me lembram as ondas dos teus cabelos. Sabe aquela árvore da minha esquina? Ah amor, cada vez que a vejo eu lembro de você, toda vez que o vento toca as suas folhas, elas brincam com ele, e se movem de um lado para o outro, parece você, que brinca comigo cada vez que eu te toco. Sabe aquele arco-íris? Me lembra você, cada vez que eu vejo aquelas cores, eu lembro dos teus vestidos, multicoloridos, mas que combinam perfeitamente com você.  
       Amor, sabe aquela brisa? Um dia um rastro de raio de sol, vai tocar um sopro de brisa, mas quando isso acontecer espero estar junto com você, para que possamos olhar para trás, guardar todas as lembranças, e dizer um ao outro que os passarinhos podem voar, e podem ir muito longe, mas que por mais longe que eles possam chegar, eles sempre acertam o caminho de volta para o ninho.
       Ei, amor, nunca esquece que eu te amo, e te amo muito. Voa amor, mas volta que eu tô te esperando...

Raíssa Bahia.

27 de outubro de 2010

Antes de partir...


Esse olhar te amou desde o primeiro dia,
cuidou de você em cada detalhe
Esse olhar estava presente na tua primeira palavra pronunciada,
no teu primeiro gemido,
no teu primeiro choro,
no teu primeiro riso.
Esse olhar te protegeu muitas vezes,
te cobriu do frio,
te curou.
Esse olhar te reparou por horas,
sem cansar, enquanto estavas doente,
Esse olhar sorriu muitas vezes enquanto te via ganhar,
chorou quando te viu perder,
mas esteve sempre ao teu lado
e nunca te desamparou.
Esse olhar foi aquele que te acalmou
quando tivestes medo e
que te consolou quando te feristes.
Esse olhar te repreendeu com dor,
mas com a certeza do que era o melhor pra você
Esse olhar te cobriu,
te banhou,
te ouviu e ensinou.
Esse olhar te deu certezas,
te deu angústia,
mas também riquezas.
Esse olhar te viu crescer,
te viu mudar,
te viu sonhar.
Esse olhar não cansa de você,
não te desampara e nunca te descarta,
sempre te ama mais e mais,
Esse olhar vai estar sempre contigo,
mesmo que esteja longe.
Esse olhar será teu porto sempre seguro
e tua esperança sempre viva
esse olhar nunca vai te machucar,
nunca vai te decepcionar
Esse olhar precisa de você,
mais do que você precisa dele,
apenas valorize a beleza desse olhar sempre que puder,
pois um dia os olhos que te olharam serão cerrados e
esse olhar ficará apenas como uma perfeita lembrança,
mas ainda que não mereças,
te amará tanto,que insistirá em permanecer,
 não mais por ti, mas em ti.

Raíssa Bahia

25 de outubro de 2010

Bobos?


Seria capaz de permanecer horas e horas ali, contemplando as tuas mãos descansando sobre as minhas e admirando o teu olhar repousando no meu, sentindo suavemente teus dedos entrelaçando-se aos meus e a ouvindo tua voz afetuosa apaziguando o meu coração que antes nunca havia pensado tanto em ti. Peço-te apenas que recolha meus medos e troque-os por teus encantos, passado é o tempo em que era fácil resistir a você,estar contigo e desviar o olhar do teu e resistir à vontade de estar ao teu lado...Hoje te ver é necessário e te abraçar é um pecado...

22 de outubro de 2010

O sol, o verso e a minha lei



    O sol, o verso e a minha lei

   Nesta Terra que planta e morre e nasce a planta outra vez
De coroa perolada, o auto da embriagues
Se me serra a viagem, traga a serra de uma vez
Meu baião descompassado que o vento já me fez

Se o Senhor do sol, destino, meu destino em uma lei
De fazer chuver o sertão nos pingos de quem não se fez
Me encareça a sentença que o Diabo me fez ver
Velhos versos de um cordel na cadeira de meu bem
 
Que me rasque o véu do céu
Entre o laço e o forte Deus
Do mais puro destempero que o tempero já me deu
Entre o céu, inferno e a terra
três razões e um só Rei
e no ventre de minha menina: o sol, o verso e a minha lei

_______
A última postagem dessa semana de homenagens do Entreletr@s, espero que gostem! O homenageado é André Butter, na verdade a homenageada sou eu por ter alguns dos versos dele aqui. Ele é um dos poucos que tem a minha confiança plena, uma pessoa companheira, amiga e sem dúvida nenhuma, muito especial para mim, o músico que me trouxe um pouco mais de cultura, e que me fez ser um pouco mais livre de mim mesma. Se não fosse por ele, talvez eu nunca soubesse o quanto às vezes eu sou "vaga", "subjetiva", "metafórica" e "pouco incisiva" (rsrs.). Obrigada Sr.Butter, por isso e por seus versos. Te adoro.

20 de outubro de 2010

O homem que cospe fogo

Lembro como se fosse ontem. Aquele domingo foi especial, tinha 6 anos e um sonho: conhecer o circo. Eu me lembro claramente de ter visto na tv um programa sobre o circo, e todo aquele universo me fascinou, como toda criança merece ser fascinada. Aquelas luzes, aqueles homens engraçados de caras pintadas que conseguiam fazer algo de beleza ímpar, como arrancar os mais sinceros sorrisos, que são os de uma criança. Ficava absurdamente espantado com aquelas pessoas voando, voando... mas não caindo. Porém, o que mais me chamou atenção foram uns caras que cuspiam fogo. Fogo. Curiosidade infantil, foi inevitável. Essa foi a deixa pros meus pais me levarem ao circo pela primeira vez.
Por sorte havia um circo na cidade, um circo famoso, desses conhecidos no país inteiro. Ali haveria de ter o homem que cospe fogo. No caminho, abelhudo como só eu, perguntava insistentemente ao meu pai:

- Como o homem consegue cuspir fogo, pai?

- Ah, filho, eles nasceram sabendo, respondeu dirigindo, dando pouca atenção.

Na minha mente de recém saído das fraldas, pensei um pouco e, meio triste por não ter o mesmo dom, confesso, pensei logo naquilo como um super-poder. A vontade de chegar aumentava, enquanto o circo se aproximava.

E abriram-se as cortinas, o espetáculo começou. Aquilo tudo era mágico, era como estar na Terra do Nunca ou algo assim. As cores pareciam mais coloridas do que pela televisão, a música soava melhor, os palhaços eram mais engraçados. Aquelas trapalhadas, quanto riso, quanta alegria!

Homens ou pássaros? Aquele balé nos ares, perfeição celestial, beleza especial. Voavam dançando, dançavam voando, era realmente impressionante. Mas nem tudo isso nem a grandeza dos leões e dos elefantes tiravam o meu foco dos cuspidores de fogo. Nem eu sabia o por que, nem me importava em saber. Só queria mesmo ver aqueles super-heróis que domavam o que pra mim era indomável. Enfim, eles apareceram.

Meus olhos pareciam não acreditar ainda no que viam. Embaçados, meio embargados, mas suficientemente claros pra me permitir guardar lindas lembranças daquele sonho realizado. Não lembro se aquele era o último número do espetáculo, se não era, não consegui ver nada depois. Saí paralisado, vidrado, extasiado. No caminho de volta pra casa, porém, algo me chamou a atenção, me trouxe de volta ao mundo real.

Quando o carro parou, em um sinal qualquer da cidade, vi dois meninos, crianças, pararem na frente do carro. Uma delas jogava bolinhas para o ar, sem deixar nenhuma cair – ainda não tinha uma noção decente sobre malabarismo. Já o outro... cuspia fogo. Colei meu rosto na janela ao lado da minha mãe, que se assustou. Era um super-herói fora do circo. Nossa! Mas de repente, ele parou e veio em direção ao nosso carro. Aí notei algo curioso. O menino se vestia mal, estava sujo e sofria, cansado, dava pra ver no seu olhar. Ele bateu na janela do meu pai e estendeu a mão, assim como o outro garoto, em outro carro. Mas meu pai não deu atenção. Eu dei.

O sinal abriu, o carro seguiu, e eu via os meninos, em especial o menino que cuspia fogo, se distanciando. Perguntei ao meu pai:

- Pai, ele cospe fogo, ele trabalha no circo?

- Não, meu filho.

- E por quê ele não ta no circo, pai?

- Porque nem todos tem essa sorte, querido, interferiu a minha mãe.

Naquela hora eu não entendi o que minha mãe quis dizer com “essa sorte”, apenas fiquei pensando naquele garoto, vestido tão diferente daqueles homens do circo. Sem brilho, sem maquiagem, sem máscaras.

Alguns anos e certa experiência depois, começava a assimilar as idéias. Já tinha 18 anos, namorava, era universitário, e resolvi sair. Era sábado, e havia um circo na cidade. Ali era uma oportunidade de voltar ao mundo circense depois de muitos anos. Porém, o espetáculo não me parecia tão espetaculoso. Os palhaços não eram mais tão engraçados, os leões não eram mais tão grandes. Era inevitável, o brilho dos meus olhos não chegavam perto daquele de 12 anos atrás. Até que um número me levou de volta à infância. Os cuspidores de fogo.

Poucas coisas me inebriaram tanto quanto aqueles homens. Minha idade não me permitia mais acreditar em um super-poder, mas ali a minha idade não era 18. Era 6. Foi tão mágico quanto da primeira vez. Voltei impressionado, até mais que meu sobrinho de 7 anos que foi ao circo comigo. Voltando pra casa, a história se repetiu. Dessa vez era um só rapaz, devia ter uns 13, que parou em frente ao meu carro, cuspindo fogo. Tudo parou. Ali eu era o meu pai, e me vi no meu sobrinho. O garoto foi chegando... e bateu na minha janela. O quê eu iria fazer? Meu sobrinho perguntou:

- Tio, por quê ele ta batendo na sua janela? O que ele quer?

Não consegui responder. Mas pensei. Ele quer só dinheiro? Não, ele quer mais. Ele quer um almoço, um jantar, uma roupa limpa. Ele quer um futuro. Direito dele, dever nosso, é só uma criança, não merecia estar ali. Baixei o vidro do carro e dei algumas moedas, nem contei quantas. Era pouco. Depois que o sinal abriu, parti com o carro, quando olhei pelo retrovisor nos olhos do meu sobrinho. Outra criança. Espantado, meio triste, ele indagou, não pra mim diretamente, mas pra ele mesmo, que não tinha condições de responder:

- Por quê ele não ta no circo?

Sussurrei pra mim mesmo:

- Nem todos tem essa sorte.

Hoje eu consigo entender o por quê. Mas preferia não entender.

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Homenagem a Gustavo Ferreira,uma pessoa muito importante e especial em minha vida. Parte do que sou hoje devo a ele, que sempre me ajudou em minhas conquistas, que me apoiou em cada momento ruim e os tranformou em sorrisos, que inconscientemente me ensinou muitas lições, que sempre torceu por mim e  sei que sempre vai estar ao meu lado. Ele é um ombro sempre amigo, um abraço sempre aberto e um carinho realmente sincero. Ele é o responsável pelo Etc&Tal , e cedeu humildemente esse texto maravilhoso de sua autoria para nós, Espero que gostem! Obrigada, Coração, te adoro.

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